253. Deus nas realidades humanas
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18.02.2021 | 6 minutos de leitura

Crônicas

“A Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14)
“Tudo o que faz parte da vida humana, tudo o que é próprio do humano,
não apenas interessa à Igreja, mas é o caminho que ela tem de percorrer
se quiser fazer, de fato, uma experiência de Deus”
não apenas interessa à Igreja, mas é o caminho que ela tem de percorrer
se quiser fazer, de fato, uma experiência de Deus”
(Ronaldo Zacharias)
Vivemos tempos estranhos. Sombrios e obscuros por um lado; esperançosos e cheio de possibilidades por outro. A Igreja não escapa aos dilemas e problemas que a comunidade humana vivencia. Em meio a tanta pluralidade e diversidade, a eclesia segue marcada por divisões e controvérsias. Se há os que defendem a volta ao regime de cristandade e sua disciplina, há também aqueles que sabem que, no mar da história, não é possível tergiversar. A fé cristã exige encarnação nas realidades históricas e não é possível negá-las a não ser sob o preço de trair o mistério da encarnação do Verbo de Deus. Para fazer uma experiência real do Deus de Jesus Cristo, os cristãos são chamados a assumir tudo aquilo que é propriamente humano, pois nossa humanidade foi assumida e resgatada pelo Filho de Deus feito homem.
Se tudo que faz parte da vida humana interessa à comunidade de fé, por que tantos cristãos insistem em viver “fora do mundo” como se a encarnação não fosse a base da espiritualidade cristã? Por que grupos conservadores se dispensam da tarefa do diálogo com o mundo sobre sexualidade, gênero, modelos familiares etc.? Por que alguns se refugiam em comunidades de caráter medieval, numa bolha de pureza que só existe no inconsciente coletivo dos mesmos? Por que a bancada de deputados ditos cristãos se nega a reconhecer que não pode legislar a vida dos não-crentes e que Deus fala nas consciências dos contemporâneos? Por que fazer vistas grossas para os problemas humanos e colocar panos quentes para abafar o fogo do escândalo de tantos líderes cristãos?
Bom, num mundo complexo e multirreferencial como o nosso, toda resposta simplista e reivindicadora da verdade final fica colocada sob suspeita. Há diversas explicações para o fenômeno do conservadorismo e do fundamentalismo, que vão desde interesse próprio, ignorância ou má índole até ingenuidade, medo do mundo e comodismo. É bem mais fácil se esconder sob a nuvem do conservadorismo que buscar soluções alternativas para problemas tão desafiadores. É menos penoso se proteger com o manto da ignorância que se libertar do obscurantismo e pensar fora da caixinha na qual se foi confinado. É mais fácil exorcizar demônios que lutar contra o mal real. É mais teatral e impactante derrubar barreiras em “nome de Jesus” que reconhecer os limites sociais impostos pela crise do país.
Infelizmente, o que se vê hoje, especialmente no Brasil, é a instrumentalização da fé para cercear as consciências, coibir as liberdades e legislar em favor de alguns privilegiados. A fé cristã perdeu seu caráter transformador, pois – colocada sob os imperativos da mercantilização – transformou Deus em um banqueiro que oferece crédito aos já abastados, negocia dívidas e cobra dividendos sem nenhuma piedade dos pequeninos. O Deus-amor que Jesus nos revelou foi transformado num ídolo, que aceita negociações escusas e participa de cenários cabulosos. A última quente foi a cena do presidente da república numa churrascaria, por causa do escândalo dos gastos abusivos do planalto, xingando os jornalistas sem nenhum decoro, seguido de um deputado do centrão que cantava louvores. Além do mau gosto da cena e da linguagem obscena e imprópria na boca de um presidente, o evento gerou mal-estar por seu cunho religioso. Não é de hoje que isso vem acontecendo no país. Quem não se lembra da famosa reunião da bancada evangélica distribuindo propina e agradecendo em prece pela corrupção praticada? A fé cristã se tornou cortina de fumaça para ofuscar as falcatruas dos poderosos que surrupiam a sociedade brasileira. Triste realidade! O deus deles abençoa o mal feito e encobre crimes e falcatruas.
O que mais apavora não é o fato de esses perversos instrumentalizarem a fé a seu bel prazer, mas o fato de milhões de pessoas que se confessam como cristãos apoiarem essas insanidades. Como um cristão pode se negar a conversar sobre o direito dos casais homoafetivos e, ao mesmo tempo, dar seu aval para tais perversões financeiras e políticas? Como é possível uma pessoa de fé compactuar com essas declarações criminosas do presidente da república e, no entanto, condenar o padre Júlio Lancelotti ao fogo do inferno? Como podem apoiar o armamento da população se quase sempre somente pretos e pobres são vítimas de balas perdidas e de crimes hediondos com arma de fogo? Como não perceber o Deus sofredor nas realidades humanas da miséria, da fome, da doença e da pandemia, mas encontrá-lo em cuecas cheias de dinheiro? Como encontrá-lo onde impera a violência e o crime, se ele é o Deus-amor, sempre disposto a perdoar e a dar novas chances para recomeços? Como pode um cristão participar da mesa dos escarnecedores e gritar “mito, mito, mito”, quando são proferidos impropérios e palavrões pela mais alta autoridade do país? Esvaziou-se de sentido a fé crista; tornou-se instrumento de poder e de colonização dos fracos: uma arma letal para garantir a subalternidade dos pobres e os privilégios das oligarquias.
Um presidente aporofóbico, misógino, homofóbico, racista e fascista que espalha a morte e ri do sofrimento alheio não é digno de carregar o nome de presidente e muito menos o nome de cristão. É um impostor, um embuste. Não merece o título de cristão nem está autorizado a falar em nome de Deus. Se tal pessoa já é um fiasco como presidente, quanto mais como seguidor de Jesus. De fé cristã e de cristianismo, nem ele nem seus comparsas entendem nada. Mas como a piedade do povo é aflorada pela miséria, convém à elite manter a exploração sob as vestes da religião. Além de massacrar o povo, dilapidar os bens do país e afrontar os brasileiros, o governo se reveste de enviado divino. Se a perversão política é inaceitável, mais inaceitável é praticá-la em nome da religião.
Lamentamos que tantos que se dizem cristãos não percebam a cilada que é apoiar essa gente. Se o fazem por pura ignorância, menos mal – apesar dos danos causados. Mas se o fazem deliberadamente para obter vantagens, não há perdão possível para essa gente. Não se trata da negativa do perdão de Deus, mas das marcas indeléveis que ficarão registradas na história. A história é implacável e irá cobrar as contas. Tomara que elas cheguem logo sem errar o endereço!
Se tudo que faz parte da vida humana interessa à comunidade de fé, por que tantos cristãos insistem em viver “fora do mundo” como se a encarnação não fosse a base da espiritualidade cristã? Por que grupos conservadores se dispensam da tarefa do diálogo com o mundo sobre sexualidade, gênero, modelos familiares etc.? Por que alguns se refugiam em comunidades de caráter medieval, numa bolha de pureza que só existe no inconsciente coletivo dos mesmos? Por que a bancada de deputados ditos cristãos se nega a reconhecer que não pode legislar a vida dos não-crentes e que Deus fala nas consciências dos contemporâneos? Por que fazer vistas grossas para os problemas humanos e colocar panos quentes para abafar o fogo do escândalo de tantos líderes cristãos?
Bom, num mundo complexo e multirreferencial como o nosso, toda resposta simplista e reivindicadora da verdade final fica colocada sob suspeita. Há diversas explicações para o fenômeno do conservadorismo e do fundamentalismo, que vão desde interesse próprio, ignorância ou má índole até ingenuidade, medo do mundo e comodismo. É bem mais fácil se esconder sob a nuvem do conservadorismo que buscar soluções alternativas para problemas tão desafiadores. É menos penoso se proteger com o manto da ignorância que se libertar do obscurantismo e pensar fora da caixinha na qual se foi confinado. É mais fácil exorcizar demônios que lutar contra o mal real. É mais teatral e impactante derrubar barreiras em “nome de Jesus” que reconhecer os limites sociais impostos pela crise do país.
Infelizmente, o que se vê hoje, especialmente no Brasil, é a instrumentalização da fé para cercear as consciências, coibir as liberdades e legislar em favor de alguns privilegiados. A fé cristã perdeu seu caráter transformador, pois – colocada sob os imperativos da mercantilização – transformou Deus em um banqueiro que oferece crédito aos já abastados, negocia dívidas e cobra dividendos sem nenhuma piedade dos pequeninos. O Deus-amor que Jesus nos revelou foi transformado num ídolo, que aceita negociações escusas e participa de cenários cabulosos. A última quente foi a cena do presidente da república numa churrascaria, por causa do escândalo dos gastos abusivos do planalto, xingando os jornalistas sem nenhum decoro, seguido de um deputado do centrão que cantava louvores. Além do mau gosto da cena e da linguagem obscena e imprópria na boca de um presidente, o evento gerou mal-estar por seu cunho religioso. Não é de hoje que isso vem acontecendo no país. Quem não se lembra da famosa reunião da bancada evangélica distribuindo propina e agradecendo em prece pela corrupção praticada? A fé cristã se tornou cortina de fumaça para ofuscar as falcatruas dos poderosos que surrupiam a sociedade brasileira. Triste realidade! O deus deles abençoa o mal feito e encobre crimes e falcatruas.
O que mais apavora não é o fato de esses perversos instrumentalizarem a fé a seu bel prazer, mas o fato de milhões de pessoas que se confessam como cristãos apoiarem essas insanidades. Como um cristão pode se negar a conversar sobre o direito dos casais homoafetivos e, ao mesmo tempo, dar seu aval para tais perversões financeiras e políticas? Como é possível uma pessoa de fé compactuar com essas declarações criminosas do presidente da república e, no entanto, condenar o padre Júlio Lancelotti ao fogo do inferno? Como podem apoiar o armamento da população se quase sempre somente pretos e pobres são vítimas de balas perdidas e de crimes hediondos com arma de fogo? Como não perceber o Deus sofredor nas realidades humanas da miséria, da fome, da doença e da pandemia, mas encontrá-lo em cuecas cheias de dinheiro? Como encontrá-lo onde impera a violência e o crime, se ele é o Deus-amor, sempre disposto a perdoar e a dar novas chances para recomeços? Como pode um cristão participar da mesa dos escarnecedores e gritar “mito, mito, mito”, quando são proferidos impropérios e palavrões pela mais alta autoridade do país? Esvaziou-se de sentido a fé crista; tornou-se instrumento de poder e de colonização dos fracos: uma arma letal para garantir a subalternidade dos pobres e os privilégios das oligarquias.
Um presidente aporofóbico, misógino, homofóbico, racista e fascista que espalha a morte e ri do sofrimento alheio não é digno de carregar o nome de presidente e muito menos o nome de cristão. É um impostor, um embuste. Não merece o título de cristão nem está autorizado a falar em nome de Deus. Se tal pessoa já é um fiasco como presidente, quanto mais como seguidor de Jesus. De fé cristã e de cristianismo, nem ele nem seus comparsas entendem nada. Mas como a piedade do povo é aflorada pela miséria, convém à elite manter a exploração sob as vestes da religião. Além de massacrar o povo, dilapidar os bens do país e afrontar os brasileiros, o governo se reveste de enviado divino. Se a perversão política é inaceitável, mais inaceitável é praticá-la em nome da religião.
Lamentamos que tantos que se dizem cristãos não percebam a cilada que é apoiar essa gente. Se o fazem por pura ignorância, menos mal – apesar dos danos causados. Mas se o fazem deliberadamente para obter vantagens, não há perdão possível para essa gente. Não se trata da negativa do perdão de Deus, mas das marcas indeléveis que ficarão registradas na história. A história é implacável e irá cobrar as contas. Tomara que elas cheguem logo sem errar o endereço!
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