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290. Felicidade: um caminho que vi pela janela

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10.06.2024 | 4 minutos de leitura
Yuri Lamounier Mombrini Lira
Crônicas
290. Felicidade: um caminho que vi pela janela
“E, levantando os olhos para os discípulos, começou a dizer..." 
(Lc 6,17)

Janela, palavra linda...
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
Claraboia na minha alma
Olho no meu coração
(Adélia Prado)

Nos evangelhos de Mateus e Lucas, podemos encontrar um grande discurso de Jesus, chamado por Mateus de “Sermão da Montanha” e por Lucas de “Sermão da Planície”. Embora a primeira versão desse texto seja mais popular, iremos refletir sobre a versão de Lucas. Segundo o texto lucano: "Jesus desceu da montanha com os discípulos e parou num lugar plano. Ali estavam muitos de seus discípulos e grande multidão de gente... E, levantando os olhos para os discípulos, começou a dizer" (Lc 6,17-20)
O evangelista destaca algo interessante. Jesus acabou de descer a montanha e, logo que chegou à planície, começou a fazer o seu discurso. Apesar de não ter isso escrito no texto, podemos concluir que a montanha estava logo atrás de Cristo e, assim, os discípulos, que escutavam suas palavras, podiam também contemplar a montanha. 
De algum modo, Jesus convidava a olhar para o alto, contemplar a montanha, mas viver a experiência do alto com os pés no chão da vida e da história. Não nos esqueçamos disto: é preciso olhar para o alto, mas sem perder a noção da caminhada. É no chão da vida que Cristo se faz próximo de todos os seus seguidores. É no chão da vida que cada discípulo é convidado a viver as bem-aventuranças proclamadas por nosso Mestre. 
Em Lucas, as palavras de Jesus são dirigidas de maneira direta aos seus discípulos. Cristo diz: "Bem aventurados sois vós..." As bem-aventuranças são um caminho de confiança em Deus. Para Lucas, pobre é todo aquele que tem em Deus a sua única riqueza. Pobre é quem confia no Senhor. "É feliz quem a Deus se confia", canta o salmista. Somos felizes quando compreendemos que Deus é nosso tesouro.
O grande desejo do ser humano é ser feliz. Estamos sempre caminhando em busca da felicidade, mas, se analisarmos essas bem aventuranças de Jesus, perceberemos que são um caminho de uma felicidade diferente. É um paradoxo pensar que é feliz quem chora, é feliz quem tem fome, quem é insultado, amaldiçoado... Porém, é nesses momentos difíceis que percebemos que de fato Deus está conosco e que vale a pena depositarmos nele a nossa esperança.
Após, proclamar as bem-aventuranças, Jesus também pronuncia alguns ais. "Ai de vós". São quatro situações que podem nos afastar da vivência das bem aventuranças e da estrada de Jesus. Assim, o discípulo de Cristo, tem diante de si a escolha de viver as bem-aventuranças ou não. 
Jesus nos faz redescobrir um caminho de bem-aventurança através da simplicidade das pequenas coisas. Na crônica, "A arte de ser feliz", Cecília Meireles escreveu: “Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas... Marimbondos... Às vezes, um avião passa... E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outras dizem que essas coisas só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim”. 
Bem-aventurados somos nós se aprendermos a olhar para nossas janelas e percebemos “essas felicidades certas” que se descortinam todos os dias diante de nossos olhos. Mas ai de nós se não conseguirmos enxergá-las. Que possamos ter tempo para olhar a vida "diante de cada janela" e prestar atenção neste caminho para ser feliz que Jesus nos apresenta e que possamos, com alegria e esperança, trilhar a estrada da boa nova que Jesus nos deu a conhecer.