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1. Criar a coragem de falar

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30.09.2024 | 3 minutos de leitura
Frei João F. Júnior - OFMCap
Evangelho do Cuidado
1. Criar a coragem de falar
Em verdade lhes digo 
que aquele que crê em mim 
fará também as obras que faço 
e fará coisas ainda maiores do que estas
(Jo 14,12)

Todos nós, em algum momento e de algum modo, aos longos dos últimos anos, fomos impactados pelo tema dos abusos sexuais na Igreja Católica. Muitos se lembrarão do caso emblemático da Diocese de Boston, nos Estados Unidos, denunciado pelo jornal Boston Globe, em 2002, que rendeu filmes e documentários que temos também em português. Outros se lembrarão das muitas denúncias contra membros do clero que pipocaram em diversos países em 2008, exatamente no coração do Ano Sacerdotal convocado pelo Papa Bento XVI. Os mais jovens talvez se lembrem da situação dramática vivida pela Igreja no Chile, denunciada em 2018, mesmo ano em que foi publicado o “Relatório da Pensilvânia”, nos Estados Unidos, que também revelava a magnitude do problema. Mesmo no Brasil, onde pouco ou nada falamos a respeito, como se essa realidade não existisse entre nós, já tivemos uma coleção de casos denunciados publicamente, seja pelos jornais, seja mais recentemente pelas redes sociais. 
Se é verdade que todos, de algum modo, já fomos impactados por essas notícias, parece também verdade que ainda não nos perguntamos seriamente o que fazer a partir delas. Ou de que modo elas nos implicam a todos nós que, de alguma maneira, fazemos parte do corpo eclesial e da instituição Igreja. Adiar essa pergunta é uma péssima escolha, pois a história desses últimos anos já nos ensinou: se os abusos existem, fingir sua inexistência ou não falar sobre eles nos torna cúmplices de um silêncio perverso, que potencializa o sofrimento das vítimas, aumenta a inimputabilidade dos agressores e adia uma necessária mudança estrutural.
E é aqui que a questão ganha uma importância evangélica. Pois, se o que está em questão é a compaixão diante do sofrimento, a aplicação da justiça e a conversão (inclusive institucional) da Igreja, o que está em jogo são os elementos mais fundamentais do Evangelho de Jesus e mais constitutivos da identidade da comunidade de seus discípulos. Ou seja, responder adequadamente à crise dos abusos, com compaixão, justiça e conversão é uma questão de coerência da fé cristã. Pois não é possível negar-se à compaixão, escusar-se da justiça e resistir à conversão e ainda nos pretendermos seguidores de Jesus. 
Por um lado, não é fácil abordar a temática dos abusos e de sua prevenção. A seriedade da questão e o respeito às vítimas não permitem respostas fáceis, nem sistemas de análises simplistas. Por outro lado, a coerência da fé e o imperativo ético do nosso tempo nos exigem tratá-lo, com coragem e clareza – e com a confiança de quem crê. É por isso que o Fique Firme começa esta coluna semanal chamada “Evangelho do Cuidado”, na qual pretendemos fazer uma abordagem do tema que nos ajude, pessoal e comunitariamente, a tratar com compaixão e justiça o que tristemente aconteceu, mas sobretudo a prevenir o que, por fidelidade ao Evangelho, não precisa acontecer. 
Um detalhe: ao longo da tratativa deste tema, pode ser que alguém se sinta necessitado de falar: para contar experiências ou para tirar dúvidas. Se isso acontecer, você pode procurar a Comissão de Cuidado e Proteção ou o Serviço de Escuta da sua diocese. Ou pode escrever para: joao.ferreira@clar.org. 
Um abraço e até a próxima semana!

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