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246. Profeta da Esperança

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06.11.2020 | 4 minutos de leitura
Diego Lelis Cmf
Crônicas
246. Profeta da Esperança
Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.
Resta-me agora receber a coroa da justiça,
que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia.
(2Timóteo 4,7-8a)


“Seria um belo epitáfio para um cristão:
‘Viveu crendo de verdade na Páscoa’”
(Pedro Casaldáliga)

Recentemente,a Igreja no Brasil e no mundo, juntamente com todo o povo de boa vontade, foi tomada de tristeza pela notícia da Páscoa definitiva do missionário claretiano, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia-MT. Místico e defensor dos direitos humanos, Dom Pedro Casaldáliga Pla, ou somente Pedro, como ele gostava de ser chamado pelos seus, partiu deixando um legado de fé incomensurável.
Ao olharmos para sua vida, seu testemunho e trabalho pastoral junto aos mais necessitados do Reino,percebemos que ele passou a vida preparando-se para esse dia, como alguém que vive para contemplar face a face a causa e origem de sua vida, força, fé e ministério.
A opção preferencial pelos pobres, marginalizados e oprimidos, fez de Pedro um Evangelho vivo no meio do povo, um grande poeta, um excelente orador, um notável religioso, um ilustre homem e um pastor configurado com Cristo pobre, casto, obediente e capaz de dar a vida por suas ovelhas.
O seu modo de vida comprometido com as causas do Evangelho fez dele um homem perseguido que, quando ameaçado de morte, bradava aos quatro cantos: “minhas causas valem mais que minha vida”.
Se a vida de Pedro nos ensina grandes lições sobre a vivência do Evangelho, sua páscoa definitiva não foi diferente. A humildade, o despojamento e o compromisso com o seu pastoreio foram até as últimas consequências.
Nas celebrações fúnebres que marcaram a sua Páscoa,pudemos acompanhar o cumprimento de sua vontade. O seu corpo estava descalço – como ele viveu sobre a terra vermelha de tantos sertões –posto em um caixão sem flores;trazia no peito uma cruz feita pelos povos originários que ele tanto defendeu;vestia uma túnica simples como fora a sua vida; no pescoço pendia uma estola de retalhos nicaraguenses, símbolo do povo com quem ele tanto se solidarizou; e, em seu dedo, um anel de tucum, sinal do seu compromisso com os mais pobres do Reino.
Seu corpo foi transladado de Batatais-SP, onde faleceu, a São Félix do Araguaia-MT,onde o pastor foi saudado em cada canto de sua Prelazia. As lágrimas derramadas pelo povo eram de saudade, gratidão e esperança pascal. Por fim, Pedro do Araguaia foi feito semente às margens do rio, embaixo de um pequizeiro, ao lado de uma garça branca, junto à posseiros, índios, peões e anônimos. Em seu túmulo, uma cruz de madeira cravada pelos povos originários que carregaram solenemente o seu corpo e nela pendurada o seu testamento: “Para descansar eu quero só esta cruz de pau com chuva e sol, estes sete palmos e a ressurreição!”.
A vida e a Páscoa do Pedro têm muito a nos ensinar. A certeza da ressurreição, a fidelidade ao Evangelho e o comprometimento com as causas dos pobres devem ser o nosso modo de viver e agir de todo discípulo de Jesus. Ao balizarmos a nossa vida no credo de Pedro, seguimos os passos do bom pastor e caminhamos rumo ao nosso encontro com o Criador, certos de que combatemos o bom combate. Peçamos ao Senhor da vida que nos ajude a crer em sua Palavra, esperançar em suas causas e construir aqui o seu Reino de Amor, fraternidade e justiça. Que a memória dos fieis defuntos que celebramos nesse mês nos recorde daqueles que nos precederam nessa marcha e nos inspire a segui-los. Caminhemos para a Páscoa.

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