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286. Preenchidos pela esperança

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13.05.2024 | 4 minutos de leitura
Yuri Lamounier Mombrini Lira
Crônicas
286. Preenchidos pela esperança
“A esperança não decepciona” 
(Rm 5,4)

É preciso ter esperança,
 mas ter esperança do verbo esperançar
(Paulo Freire)

Uma das palavras que mais utilizamos em nossas mensagens de ano novo é “esperança”.  Muitas vezes falamos ou escrevemos, mas não paramos para refletir no profundo significado dessa palavra que mencionamos. Nesses primeiros dias do ano novo, pus-me a refletir sobre a esperança, essa palavra tão fascinante e que tanto desejamos aos outros e a nós próprios. 
O que seria, afinal, a esperança?  Decidi, primeiramente, folhear as páginas dos dicionários para descobrir como a definem. Esperança é um substantivo feminino que traduz um sentimento de expectativa ou, em outras palavras, “aquilo que se espera, desejando”. Mas, esperança, pode ser também o nome de um inseto de coloração verde, muito parecido com o grilo ou gafanhoto. Já, para a teologia cristã, a esperança é uma virtude que, junto com a fé e a caridade, forma o conjunto das três virtudes teologais. 
Lendo essas definições, recordei-me das célebres e poéticas palavras do grande educador Paulo Freire, que exortava em sua pedagogia: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar, porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir”. 
É muito interessante esse neologismo proposto por Paulo Freire. Esperançar nos faz perceber que a esperança não é só um sentimento bonito, mas sim, uma atitude que nos faz assumir um estilo de vida. A esperança nos preenche; é como se estivéssemos grávidos da esperança, plenos de sua presença e, assim preenchidos, ela não permite que cruzemos os braços e esperemos comodamente que tudo aconteça. Esperançando, vamos, a cada dia, lutar por nossos sonhos, construir nossos projetos e nunca desistir diante dos obstáculos que surgem no decorrer de nossa travessia. 
Na tradição cristã, a esperança é simbolizada por uma âncora. Num primeiro momento, podemos pensar que esse símbolo representa um sentido contrário ao que estamos refletindo, pois poderíamos usar a âncora da esperança para ficarmos atracados no porto seguro, bem longe dos desafios de nossa jornada. 
No entanto, a âncora da esperança é um instrumento para nos ajudar a permanecer firmes nos momentos difíceis da vida. A nossa travessia é marcada por momentos complicados tal qual uma tempestade em alto mar, quando ondas agitadas tentam naufragar nosso frágil barquinho. Não naufragamos porque a âncora da esperança nos mantém firmes e seguros. 
O apóstolo Paulo descreveu essa firmeza que a esperança concede a cada um de nós, num dos trechos da Carta aos Romanos: “Sabemos que a tribulação produz paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade comprovada produz esperança. E a esperança não engana. Porque o amor de Cristo foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,4-5).
Assim, compreendemos que a esperança é de fato um rico presente para oferecermos no início de cada ano e em todos os dias de nossas vidas, pois sempre haveremos de nos deparar com tribulações e turbulências, mas a esperança nunca nos decepcionará. 
Aliás, pensando nas tribulações que iremos nos deparar em nossa travessia, recordei-me do que escreveu Guimarães Rosa, num trecho de Grande sertão: veredas: “A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do feio do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado”. O grande escritor mineiro também nos ajuda a perceber que a vida deve ser preenchida pela esperança.
Não nos esqueçamos de que a cada dia de nossas vidas devemos ser preenchidos pela esperança. Esperançando, vencemos as tribulações de nossa existência. Preenchidos pela esperança, vamos oferecendo-a a quem convive conosco para que também se tornem preenchidos por ela. Esperancemos!