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274. Fé, uma fascinante aventura

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13.03.2023 | 5 minutos de leitura
Yuri Lamounier Mombrini Lira
Crônicas
274. Fé, uma fascinante aventura
“Estende a tua mão”! (Lc 6,10). 

Saiba eu apenas, Senhor, em cada porção da vida 
reconhecer o movimento das tuas mãos invisíveis
(Dom José Tolentino Mendonça)


Um dia desses, fui surpreendido por uma criança que me perguntou: “Padre, o que é a fé para você?”. Pergunta simples, mas ao mesmo tempo difícil. Por alguns instantes, permaneci em silêncio. Lembrei-me de Santo Agostinho com seu famoso adágio a respeito do tempo, descrito no Livro XI de suas Confissões: “Se me perguntam o que é o tempo, digo que sei. Se me pedem para explicar o que é o tempo, digo que não sei”. Pensei em iniciar a minha resposta assim, com uma paráfrase do que disse o grande teólogo e bispo de Hipona.  Se me perguntam o que é a fé, eu digo que sei. Se me pedem para explicar o que é a fé, respondo que não sei. 
Além de Agostinho, eu também poderia ter citado o Catecismo da Igreja Católica, com sua clássica definição, no parágrafo 26: “A fé é a resposta do homem a Deus que a ele Se revela e Se oferece, resposta que, ao mesmo tempo, traz uma luz superabundante ao homem que busca o sentido último de sua vida”. 
Apesar de conhecer as referências acima citadas, não as usei para dialogar com aquela criança, ainda que sejam belíssimas tais palavras, meu interlocutor não me perguntou o que diz o Catecismo ou como parafraseio santo Agostinho.   Sua pergunta fora bem clara. Ela queria saber o que é a fé para mim. Mas como é difícil responder questões fundamentais! É mais cômodo falar sobre o que os outros dizem do que sobre o que nós próprios pensamos ou dizemos. 
Depois de muito pensar, respondi à criança: “A fé não é para ser explicada, mas experimentada. A fé é uma experiência. É uma aventura!”  Mas, por que digo que a fé é uma experiência, uma aventura? 
Às vezes, tenho a impressão de que Deus é uma criança que gosta de brincar de esconde-esconde. Não porque goste de ficar escondido, mas porque deseja ser encontrado. Deus não se cansa de se esconder para que nós não nos cansemos de procurá-lo. Por isso, a aventura da fé é tão fascinante. 
Já que a fé é uma aventura, quem se arrisca experimentá-la precisa cultivar a confiança. Por isso, os místicos gostam muito de dizer que a fé é um entregar-se, um lançar-se pela noite escura.  Recordemos Abraão e sua fascinante jornada na aventura da fé registrada no livro de Gênesis. Na esteira de Abraão, seguem os grandes nomes das Sagradas Escrituras, do Antigo e do Novo Testamento: Moisés, Josué, os profetas, Maria, José, Pedro, Paulo... E ainda: os primeiros cristãos, que ouviram os testemunhos dos apóstolos; os mártires, que deram a vida em nome da fé; e também os santos todos, os conhecidos e os desconhecidos, todos que ousaram trilhar as veredas da fé e que nos inspiram em nossa vivência. 
Há um padre e pensador inglês, chamado Henri Nowen, que no livro Transforma meu pranto em dança, utiliza uma metáfora muito interessante. Ele diz que quem tem fé é semelhante a um trapezista que se joga do alto do trapézio para o outro lado do picadeiro, acreditando que, desse outro lado, outro trapezista estará com as mãos estendidas para acolhê-lo. Nas palavras dele: “Há anos assisto entusiasmado as apresentações dos trapezistas... Eles dançam no ar! Em cada performance, eles confiam que o voo terminará com as mãos deslizando para o aperto seguro de um parceiro. Eles também sabem que, apenas quando soltam de uma das barras de segurança, conseguem prosseguir no gracioso arco até a seguinte. Antes que possam ser apanhados, eles precisam enfrentar o vazio do espaço”. 
Como é bonita e marcante essa analogia! Nós somos como esse trapezista que salta do trapézio, acreditando que Deus estará com suas mãos estendidas e não nos deixará cair na lona do tablado da vida. Cristo está sempre com as mãos estendidas para nós e, se quisermos caminhar com ele pelas estradas da vida, também precisamos nos revestir de ousadia e confiança para estender as nossas mãos em direção às suas divinas mãos. Precisamos fazer como os trapezistas do circo: lançar-nos...
Nos momentos de dúvida e aridez, podemos ser revigorados pelo olhar e pelos gestos de Cristo. Ele sempre nos surpreende. O olhar carinhoso de Jesus nos revigora e a sua Palavra é para nós como uma promessa que se cumpre: “Estende a tua mão”! (Lc 6,10). 
Aquela surpreendente e inesperada pergunta da criança me fez pensar sobre todas essas coisas e refletir sobre algo tão importante sobre o qual nunca havia pensado ou escrito. Sigamos no alto do tablado da vida, ouvindo Jesus a nos dizer: “estende a tua mão” e, então, soltemo-nos do trapézio, estendamos as nossas mãos, confiando que Ele estará no outro trapézio, com as suas mãos estendidas para segurar as nossas. Continuemos vivenciando nossa aventura da fé, na palma da mão de Deus.  

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