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284. Voltar ao coração

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15.04.2024 | 4 minutos de leitura
Yuri Lamounier Mombrini Lira
Evangelho Dominical
284. Voltar ao coração
"Eu vos darei um novo coração" (Ez 36,26).

Nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas
(Cora Coralina)

Nossa época é marcada negativamente por uma cultura da indiferença. Parece que estamos cada vez mais frios, temos dificuldade de expressar nossos sentimentos. Se, por um lado, a tecnologia trouxe muitos avanços e fez com que as distâncias geográficas diminuíssem, pois podemos ter o mundo na palma de nossa mão através de nossos celulares e tabletes; por outro lado, estamos cada vez mais distantes das pessoas que estão fisicamente próximas de nós.
Lendo atentamente os Evangelhos, perceberemos que Jesus, com insistência, nos exorta a falar de coração ao coração das pessoas. As coisas mais bonitas da vida, quem sabe delas é o coração. Por isso, os antigos latinos costumavam dizer: “Redire ad cor”, que de modo bem livre, pode ser traduzido: “Voltar ao coração”. Em nossa época, valorizamos a razão, mas não a transformação que o conhecimento pode produzir em nós. Damos valor aos diplomas e títulos, que na verdade não dizem nada. Aliás, diploma não faz de nenhuma pessoa um bom comunicador, uma pessoa melhor... Há tantas pessoas graduadas que falam, falam, falam e nada dizem. Apenas demonstram arrogância; o conhecimento que obtiveram não humaniza, não transforma para melhor, não modifica nem a si próprios nem às pessoas com quem convivem. Não tem sentido nem sabor. É o caso do poema Catástrofe, de Paulo Gabriel.

Era doutor em teologia
E seduzido pelo título
Pendurava seu diploma
Nas paredes da alma.

Compensação barata e tola.

Tinha medo ainda
E nas noites se urinava nos lençóis.

“Voltar ao coração” representa o desejo que existe em cada pessoa de redescobrir sua interioridade e, assim, descobrir os tesouros que possui no mais íntimo de si. Tocar o próprio coração, se reconhecer como ser humano, aprender a lidar com suas próprias perfeições e imperfeições. Quem se humaniza, quem toca o próprio coração, aprende a tocar o coração das pessoas.
De modo poético, escreveu Cora Coralina: “Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas”. Podemos nos perguntar: o que fazer para tocar o coração das pessoas? Palavras, apenas? Certamente que não apenas, mas sobretudo, gestos. E a própria Poetisa de Goiás nos ajuda a compreender isso: “Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida”.
Tocar o coração das pessoas não é só mero sentimentalismo. É fazer-se próximo, acolher as pessoas em suas angústias, celebrar com elas as vitórias, ser conforto no sofrimento, respeitar as diferenças. Lembro-me do filme O amor é contagioso, protagonizado por Robin Willians, que narra a história de Patch Adams, um jovem que, após tentar se suicidar, se interna numa clínica psiquiátrica e lá descobre um dom natural: o de ajudar as pessoas através do humor, levando um pouco de alegria às pessoas hospitalizadas. Depois de algum tempo, resolve entrar na faculdade de medicina e continuará com sua missão de tocar o coração das pessoas através da alegria. O filme nos faz perceber que sempre deixamos marcas no modo como nos relacionamos com as pessoas.
Também no anúncio do evangelho de Jesus é essencial que toquemos o coração das pessoas, para que, assim, a Palavra do Homem de Nazaré seja de fato uma Palavra que faz viver, que transforma e liberta. Pois o encontro com Cristo nos humaniza, integra e nos possibilita ser o que somos e nos faz perceber o que cada um tem de melhor dentro de si mesmo. Assim como o amor, a Palavra de Deus também é contagiante: a partir do momento em que nos deixamos tocar por ela, sentimos o desejo de fazer com que outras pessoas possam ser tocadas por ela também.

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