28. O Deus mágico de D. Esperança
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25.10.2021 | 2 minutos de leitura

Casos da vida

Solange Maria do Carmo
Tânia da Silva Mayer
Quando D. Esperança soube que estava com câncer seu mundo ruiu. Em qualquer tempo, receber essa notícia não é coisa fácil, ainda mais em tempos de pandemia. D. Esperança crescera num mundo católico, cheio de anjos e demônios, com novenas e rezas, preces e promessas, muita missa e enorme devoção ao Pai Eterno e à Nossa Senhora Imaculada, de quem ela herdara o nome: Esperança Imaculada dos Santos. Ao saber do câncer, D. Esperança resolveu honrar o seu nome e, cheia de esperança, agarrou com a Virgem e os Santos do céu num esforço desesperado de vencer a doença. Lembrada pelo pároco de que “para Deus nada é impossível”, a confiança no poder de Deus encheu o coração da boa senhora. Deus – todo poderoso e curador de todos os males – haveria de socorrê-la. Então, rezou o terço, fez a novena da Virgem, comungou 9 sextas-feiras, acompanhou pela TV o Cerco de Jericó e, principalmente, agarrou com o Divino Pai Eterno, a quem ela consagrou a sua vida.
Foram dias, semanas e meses de prece. Mas as forças de D. Esperança minguavam em vez de aumentar. Ela repetia para si o mantra: “Para Deus nada é impossível. Tudo é possível àquele que crê”. Sem filhos e sem ninguém por perto, D. Esperança ia só enfraquecendo agarrada com seu terço, bebendo água benta e muito desiludida de não ter missa presencial para poder comungar.
Com sua fé imaculada, D. Esperança prosseguia aguardando um milagre, uma cura, uma intervenção divina capaz de salvá-la. Rezou mais ainda e fez novas promessas. E nada... a doença se alastrava e ia tomando outros órgãos. Até o dia em que um agente de pastoral, visitando os idosos para saber se receberam a vacina da covid-19, descobriu o acontecido e logo foi tomando providência para internar a boa senhora. D. Esperança resistiu, mas o moço insistiu que o Deus de Jesus Cristo é bom e poderoso, mas não é curandeiro nem mágico. Se fosse, teria livrado seu Filho Jesus da cruz impedindo sua morte e teria acabado com a covid 19 num estalar de dedos, sem deixar todo esse sofrimento se alastrar.
Não foi fácil dar o braço a torcer, mas era preciso admitir que nem toda reza do mundo poderia sarar seu corpo doente. D. Esperança se cuidou, viveu ainda alguns meses sem dor, graças ao tratamento, e, ao final, morreu em paz abraçada com o crucifixo. Nos últimos momentos de sua vida, falando já baixinho de tanta fraqueza, disse: “Deus é bom e espero alívio em seu amor. Às vezes, a morte pode ser boa companheira e isso não diminui o amor de Deus”. Sentindo-se segura no colo de Deus, Dona Esperança morreu como um passarinho que dá o último suspiro no aconchego do ninho.
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