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24. Mistério insondável

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11.01.2018 | 5 minutos de leitura
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Casos da vida
24. Mistério insondável

César é um jovem inteligente e gosta de participar da vida da sua comunidade eclesial. Ele adora estar com outros jovens convivendo e partilhando a vida. O grupo de jovens do qual ele participa é muito especial. Os jovens se conhecem, se gostam, se ajudam... Fazem juntos muito mais que se reunir e rezar uma vez por semana. Eles se ajudam mutuamente e ajudam os outros que deles precisam. Vai e volta estão envolvidos em algum projeto bacana, lutando pela dignidade da vida. O que César mais gosta mesmo é de estar ali; nem sabe direito por que, nem sabe por que se sente tão bem junto desses amigos. Só sabe que o que eles têm é muito precioso; um convívio de amizade e amor.


Quando César era bem mais jovem, fez a catequese preparando-se para a primeira eucaristia. Ele achava tudo muito complicado na catequese. Sua catequista vivia dizendo que Deus é Trindade, três pessoas em um só Deus, e o menino nunca entendeu isso. Por mais que fosse bom em matemática, essa conta não dava exata. Como três pessoas podem ser um Deus? Como um Deus pode ser três pessoas? A catequista bem que tentou explicar, mas, diante dos protestos da turma, apelou e disse: “É mistério e pronto!”. Para fechar a conversa, a catequista até contou um caso esquisito de que um dia Santo Agostinho, que era muito inteligente e curioso, estava numa praia, matutando um modo de entender o mistério da Santíssima Trindade quando apareceu um menino que colocava a água tirada do mar com um baldinho num buraco na areia da praia. A areia puxava a água, ele buscava mais e colocava lá. A areia tornava a puxar, ele tornava a encher o buraco... até que o tal santo teria perguntado o que o menino estava fazendo e a criança teria respondido que estava colocando a água do mar naquele buraquinho. O santo teria dito que era impossível. E o menino então teria respondido: “Mais fácil eu colocar a água do mar nesse buraco que você entender o grande mistério da Santíssima Trindade com essa sua cabeça tão pequenininha!’.  Desde então, César não quis mais saber de entender a Trindade, pois era mistério divino. Foi aí que a religião tomou para César um ar de ignorância e a vida de fé tornou-se um espaço cheio de coisas que não têm explicação e que não deviam ser especuladas no intuito de buscar a compreensão. César só voltou a frequentar a igreja quando conheceu esse grupo de jovens e fez laços sinceros de amizade com esses novos amigos.


A amizade deles era tão grande que, depois da reunião semanal, eles continuavam reunidos ora num bar, ora numa praça, ora na casa de alguém; ora tocando violão, ora conversando, ora ajudando algum deles em uma necessidade especial. Não importava o que faziam, nem onde faziam. Importava que estavam juntos. A presença uns dos outros ressignificava tudo, dava sentido a tudo.


Certo dia, adoeceu o pai de César. Uma doença violenta, daqueles que chega arrasando a vida, sem pedir licença. O jovem saía do grupo de jovens e não ia mais passear com os amigos. Ia direto para casa para não perder nem um minuto da companhia do pai, já que lhe restavam poucas semanas. Os amigos mais próximos, Clara, Matias, Tadeu e Diana, sentindo sua falta, passaram a ir com ele para sua casa. Sentavam-se na varanda, conversavam, ajudavam no que era possível... Parecia até que o bom senhor era pai de todos. Todos o tomavam pela mão e o acompanhavam pela casa; ajudavam a dar a comida; contavam casos, riam juntos, faziam companhia. Às vezes, quando o pai pedia, tocavam algumas canções, cantavam juntos, rezavam... Eram aquela presença boa mesmo quando tudo vai mal. E a família se sentia feliz de ver a casa sempre com amigos por perto. Os pais dos jovens não entendiam. Em vez de sair passear, se divertir, estavam ali visitando uma família com uma pessoa doente. Mas eles não ligavam. Queriam estar juntos. Era o que importava. Não importava onde, nem fazendo o quê, mas poder partilhar da companhia do outro, ser presença na vida uns dos outros. César gostava disso.  


Quando o pai de César morreu, estavam todos por perto. Passaram a noite ali juntos até enterrar o corpo; e, mesmo depois, ficaram ali segurando a mão do rapaz. Foram momentos duros, cheios de silêncio, entrecortados por algumas poucas palavras de consolo, de lembrança de bons momentos etc.


No dia seguinte, César amanheceu doente de saudade do pai e nem queria se levantar da cama. Até que ouviu vozes na cozinha e viu seus amigos por lá. Seu coração bateu forte e se tornou maior que o mundo. A paz lhe invadiu o peito. Ele não estava sozinho! Fazia comunhão com muitos outros que o queriam bem, que o apoiavam, que estavam juntos mesmo nos momentos mais tristes. Abraçando seus amigos, perguntou-lhes: “Que fazem aqui? Meu pai já morreu, já enterramos. Vão cuidar de suas vidas”. E Matias, em nome do grupo, respondeu: “Comunhão! Somos um, brother. Tamo juntos”. Foi nesse dia que César experimentou com maior intensidade o amor de Deus e compreendeu o mistério da Santíssima Trindade, que não é tão misterioso assim. É o mistério do amor profundo, em que as vidas se misturam por causa da comunhão que o amor gera. Cesar entendeu que Deus é trino, mas um só: três pessoas; um só Deus. Só o amor entre essas pessoas explica tamanha comunhão!







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