147. Jo 20,1-10
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10.04.2023 | 2 minutos de leitura
Diversos
“No primeiro dia da semana”, começa assim o relato de João acerca da ressurreição. O evangelista João, que durante todo o seu Evangelho trabalhou com a teologia da recriação do mundo em Cristo – não é à toa que Jo 1,1 está a expressão do Gênesis “no princípio” – , continua nos dizendo que nesse primeiro dia da semana tudo se fará novo. Ainda não tinha raiado o dia, indicação clara de que a experiência da ressurreição ainda não havia sido bem assimilada. Uma mulher – e não um varão, um homem corajoso e valente – vai ao túmulo e vê que a pedra tinha sido removida. A expressão “tinha sido removida” é o que nós chamamos de passivo teológico, ou seja, a voz passiva indica que o autor da ação é Deus. Havia uma pedra intransponível entre Madalena e seu amado, Jesus. É a pedra da morte. Mas ela fora removida por Deus que, ressuscitando Jesus dos mortos, dava-lhe agora uma nova existência que a história não pode mais conter ou abarcar.
Ao ver a pedra removida, Madalena não se atreve a entrar no túmulo, como na cena de um crime que se você entra pode estragar, desmanchar, colocar em dúvida os vestígios do crime. Madalena corre e busca duas testemunhas conforma mandava a Lei. O testemunho devia ser de dois varões; a palavra da mulher não contava no tribunal. Vem correndo Pedro e o discípulo que Jesus amava, depois de ouvirem de Madalena a notícia: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o puseram”.
Observem que a expressão joanina é “tiraram o Senhor”, uma clara indicação de que se trata do Jesus pós-pascal, ou seja, do Ressuscitado. O ressuscitado não cabe nas paredes gélidas de um túmulo lacrado com uma pedra pesada. Ele vive de outro modo; seu corpo glorioso não aceita cadeias.
O discípulo amado correu mais, coisa bem típica de João, cuja máxima é o amor incondicional uns aos outros como Jesus nos amou. O amor tem pressa de confirmar o acontecido. Ao chegar, apesar de afoito, doido para ver o que acontecera, o discípulo amado espera Pedro que vem logo atrás. As duas testemunhas devem ver a cena e encontrá-la intacta para testemunhar aos outros o que acontecera.
Ao olhar no túmulo, não viram o corpo do Senhor, mas as faixas de linho no chão, para simbolizar que a morte não é capaz de prender o Ressuscitado. E veem também o pano que cobria seu rosto, dobrado num lugar a parte. As pistas indicam claramente que não fora um roubo. Um ladrão não teria tempo nem capricho para dobrar pano algum. Com isso, o evangelista sinaliza mais uma vez que a ressurreição é obra do Pai. Ele tirou a pedra, ele fez Jesus vencer a morte, ele o ressuscitou no primeiro dia da semana, porque tudo é recriado em Cristo, o homem novo.
O relato diz que o discípulo amado viu o túmulo vazio e creu; já de Pedro não se diz nada. Acontece que a ressurreição não tem provas científicas, nem técnicas, nem pode ser examinada numa lâmina de laboratório. A ressurreição é uma experiência que depende do amor, da entrega ao amado, do tanto que se creu nele em vida, para saber que tudo que foi vivido foi tão forte que a morte não pode apagar.
O Evangelista João termina dizendo que, “de fato, eles ainda não haviam compreendido a Escritura”. E voltaram para casa para remoer essa experiência, para deixar o luto acontecer até seus olhos se abrirem para a presença do Ressuscitado.
Que nessa páscoa, nós possamos nos abrir para fazer a experiência da ressurreição. Trata-se de uma presença na ausência (túmulo vazio), mas que pode ser sentida, pode ser vivida, precisa ser reconhecida. Ou fazemos essa experiência cujo pressuposto é o amor ou não somos discípulas de Jesus Cristo.
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