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164. Júlio Lancellotti

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08.01.2024 | 3 minutos de leitura
Pe. Eduardo César Rodrigues Calil
Diversos
164. Júlio Lancellotti
Acho todo tipo de idealização uma ingenuidade então, longe de toda idealização, vou defender o padre Júlio Lancellotti, a quem não nego, porém, minha admiração pelo trabalho junto aos mais pobres e às pessoas em situação de rua. Sua missão tem apelo, convoca, transmite algo de sua verdade, inclusive. Ele não precisa de minha defesa, mas não é possível calar-se diante do absurdo dessa situação. 

O religioso virou alvo do fundador do antigo MBL, Rubinho Nunes, que conseguiu, apesar do descalabro, reunir votos para instaurar uma CPI que intende investigar o trabalho do padre junto aos mais necessitados. O próprio padre reconhece que as comissões são legítimas, mas que não faz parte de ONG’S e que sua ação é um compromisso com o evangelho que defende. Sua ação não espera da política, a defesa dos mais necessitados, mas a faz acontecer com a a ajuda de muitos, que decidem colaborar. Mas o religioso também se mete em política e critica injustiças. Acontece que já virou lugar comum, ao menos entre os mais abestalhados da ultradireita, dizer que toda defesa de direitos humanos ou de “pautas sociais” deve ser lida a partir do pânico do comunismo. O padre para se defender se apoia em Dom Helder Camara: dar pão, até vai, mas questionar os motivos pelos quais alguém não tem pão, isso não pode?

Segundo Rubinho Nunes, Júlio faz parte de uma máfia da miséria, que ao praticar a política de redução de danos na Cracolândia, inversamente, mantém os adictos no vício. Mais um lugar comum entre os ultradireitistas: criticar políticas públicas. A aporofobia se escancara em vários grupos de direita quando criticam o trabalho do padre, inclusive quando esse combate a arquitetura hostil, que impede que os pobres estejam ex-postos. Porque é conveniente esconder a pobreza ou mesmo impedir o trabalho junto dos mais necessitados, mas fazer algo para saná-la, isso não. E para desacreditar o serviço, mais um mecanismo comum na mecânica da ultra-direita: é preciso desacreditar a pessoa, descredibilizá-la. Fica armado o circo.  Chamam-no de cafetão, defensor do terrorismo, etc… 

O tom pra justificar a CPI é ameno, reveste-se de uma preocupação com a “eficácia dos programas oferecidos” e diz que os dependentes químicos precisam de “programas de tratamento de alta qualidade”. Rubinho Nunes não propõe nenhum. E no X(Twitter), muda de tom, chamando o padre de servo do petismo (“ele não é um padre”, diz) e insinua que o “falso padre” se aproveita da vulnerabilidade dos outros para ganhar politicamente. É preciso, então, segundo ele, avaliar o “padre do Boulos”.

Criar inimigos comuns, estimular o mimetismo e a violência a uma espécie de bode expiatório que desvie a atenção de uma pauta social importante; perseguição política, tudo isso está presente no cenário político, desde antes de Jesus, desde quando a própria religião servia à política. Padre Júlio não deve se surpreender. Mas a agenda política ultra liberal e bolsonarista segue de janeiro em janeiro, querendo se manter na mídia, se fazer presente, como uma ratazana pronta pra atacar. Não é preciso lembrar Brecht: o fascismo, a idiotice, política da violência, já deram seus filhotes…

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