38. O Deus imprevisível do livro de Jó
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10.09.2025 | 3 minutos de leitura

Curiosidades

O livro de Jó não é uma narrativa histórica, mas um poema sapiencial, com um prólogo e um epílogo em prosa. Trata-se de uma narrativa criada para questionar a teologia da retribuição. A história central é sobre Jó, um homem justo e próspero, que vive na terra de Us, com sete filhos, três filhas e muitos bens. O número de filhos e filhas já dá indício de sua vida abençoada, ainda mais somada à afirmação de que ele possuía muitos bens.
A narrativa introduz a figura de Satan, que se apresenta a Deus, não como uma entidade maligna, mas como um membro da Corte celeste. Satan argumenta que a bondade de Jó é resultado das bênçãos divinas. Deus permite que Satan aja contra Jó, que perde os filhos e as filhas, os bens e a saúde. Jó responde com aceitação e fé, afirmando que veio nu do ventre da mãe e nu retornará à terra, reconhecendo que Deus dá e tira.
Segue-se um ciclo de discursos dos “amigos de Jó”, com Elifaz, Baldad e Sofar, afirmando que o sofrimento de Jó é resultado de seus pecados e ou de seus familiares. Segundo eles, Deus estaria, na sua justiça, punindo Jó por seus atos contrários aos ensinamentos divinos. Jó proclama inocência, assegurando que Deus não tem motivos para castigá-lo. O que está em jogo aqui é a discussão sobre a origem do mal, se ele é uma espécie de castigo divino. Devido a um impasse entre Jó, que sofre males horríveis, mas se diz justo, e seus amigos, que defendem que Deus pune e castiga os maus, Deus aparece para Jó. Nesse encontro, acontece o inesperado. Bem diferente da teologia da retribuição difundida na época, que dizia que Deus pune os maus e premia os bons, Deus reconhece a inocência de Jó, mostrando que seu sofrimento não é castigo divino. E os defensores da teologia tradicional, os amigos de Jó, são reprovados.
Antes de tudo, precisamos considerar que a justiça de Deus não é sinônimo de punição. O propósito do julgamento de Deus não é punir, mas trazer o arrependimento, a redenção e a reconciliação final. A justiça de Deus é restauradora e não punitiva. Há muitas passagens bíblicas que falam do desejo de Deus de que todas as pessoas sejam salvas e cheguem ao conhecimento da verdade.
Os defensores de uma visão punitiva da justiça divina, como os amigos de Jó, partem do princípio da retribuição, compreendendo todos os acontecimentos da vida a partir do binômio benção-castigo, ou seja, do princípio da meritocracia. Eles determinam que Deus tem que premiar os bons e tem obrigatoriamente de punir os maus. Presumem compreender plenamente o plano divino, quando, na realidade, os propósitos de Deus frequentemente transcendem nossa limitada perspectiva humana.
Em última análise, os caminhos de Deus são frequentemente inescrutáveis, e devemos sustentar nossas convicções doutrinárias com certo grau de humildade, não projetando em Deus nossos desejos de punição para os outros e de prêmio para nossas boas ações. É bom lembrar que a vida tem seus mistérios e um deles é o mal, cuja origem não sabemos explicar. Mas uma coisa é certa: Deus está muito além desse conceito punitivo e seu amor é infinito.
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