18. A catequese dos bichos


Solange Maria do Carmo
Padre Geraldo Orione de
Assis Silva
A vida na floresta não estava fácil. E a situação piorava a cada dia. Os bichos estavam mais violentos que nunca e não paravam de brigar. O papagaio, muito prosa, vivia insultando o gavião. A onça pintada não parava de provocar o coelho. O macaco não dava sossego a mais ninguém. Por causa de tudo aquilo, só se viam brigas na floresta e não havia mais tranquilidade. Muitos bichos até já estavam de malas prontas para se mudarem, se a situação não melhorasse.
O leão, rei da floresta, percebendo que a crise era grave, convocou uma reunião. No final, depois de muita conversa, os bichos perceberam que eles estavam se afastando das coisas boas que tinham aprendido desde pequeninos e que era preciso mais esforço de cada um para melhorar o convívio na floresta. Dona Elefanta, cordial e piedosa, sugeriu que um pouco mais de fé poderia ajudar todos a se tornarem melhores. Pareceu uma boa ideia, afinal eles eram bichos de fé, mas andavam mesmo meio afastados das coisas de Deus. Cumpriam apenas o ritual que era obrigação. Ficou, então, decidido que o que os bichos precisavam aprofundar a fé em Deus. Combinaram reunir-se uma vez na semana, para aprender as coisas de Deus. O coelho, muito serelepe, ofereceu-se para conseguir uma Bíblia com a vizinhança e,no dia seguinte, ia começar a catequese na floresta. Todos aprovaram a ideia. Menos o macaco. Ele detestou a ideia e fez cara feia, pensando: “O que eu sei é fazer macaquice. Imaginem só macaco rezando. Nunca!” E se afastou chateado.
Sabendo da reação de seu filho, a macaca mãe ficou muito brava. Encostou o macaco numa árvore e leu para ele um bom sermão: “Onde já se viu você não gostar de rezar? Você devia ter vergonha de dizer isso. Eu não criei você só para fazer macaquices”. O macaco tentou argumentar, mas sua mãe nem quis ouvir e foi logo dizendo: “Não quero discussão. Você vai a essa catequese nem que seja à força. E quero você rezando direitinho, junto dos outros bichos. E qualquer coisa, eu te ponho de castigo”.
Então, não havia jeito. E o macaco, com muita má vontade, foi para o encontro. Os bichos se reuniram. Todo mundo animado, a maritaca de Bíblia na mão e os outros bichos dispostos a aprofundar um pouco nas coisas de Deus. No começo, correu tudo bem e a bicharada se entusiasmou. Mas, não demorou muito, o macaco começou com as suas macaquices. Pensava: “Não queria mesmo estar aqui. Só vim porque é minha obrigação!” E fazia caretas, pulava, saltava, gritava. Não ficou quieto nem um minuto. E não era só porque ele era macaco e macaco faz mesmo macaquices. Não! Era mesmo para avacalhar. Os outros bichos começaram a ficar incomodados. O macaco estava incomodando e atrapalhando o encontro.
Depois de alguns encontros, certo dia, o leão, rei da floresta, com muito jeito, pediu ao macaco que esperasse um pouco, pois queria conversar com ele. O macaco estremeceu, imaginando coisas. O leão foi bondoso, mas muito sincero: “Vamos conversar francamente” – disse ao macaco – “os outros bichos andam reclamando. Você está avacalhando os encontros. Desse jeito, não dá. Você precisa entender a importância desses nossos encontros. Parece que você está vindo aqui só por obrigação”. O macaco também foi muito sincero: “E não é assim? Não ficou decidido que todos os bichos deveriam participar desses encontros? Eu bem que não queria vir, mas minha mãe não me deu opção”. O leão pensou e disse: “Você ainda não está pronto para a catequese. Não entendeu que isso aqui não é obrigação. É algo muito importante para todos nós, para toda a floresta... Acho bom você pensar melhor durante essa semana. Se o que você quer é só fazer macaquices, parece que você está perdendo tempo aqui. Este não é o seu lugar. Ajunte suas trouxas e vá pular de galho em galho pela floresta. Não perca seu tempo aqui. Vai ser melhor pra você!”
O macaco não pensou duas vezes. Sentiu um alívio. Fez uma careta para a bicharada e foi-se embora saltitando pela floresta. Sua mãe, ao saber do acontecido, explodiu de raiva e quase adoeceu. O leão a procurou e explicou que não fazia sentido obrigar o macaco a rezar. Que ele precisava descobrir o valor daqueles encontros. Ou, então, era melhor nem comparecer. O macaco foi se esconder na floresta, com medo do castigo da mãe, e se pôs a pensar na vida. Na semana seguinte, todos os bichos se reuniram para o encontro. Só o macaco não compareceu. Os bichos disseram: “Graças a Deus que o macaco não veio! Hoje, vamos poder rezar melhor, sem as suas macaquices”. E o encontro foi mesmo ótimo. Mas, num canto da floresta, sozinho, o macaco pensava na vida: “Coitado de mim. Estou só e abandonado, enquanto os outros bichos estão felizes lá no encontro”. E, pensando, o macaco sentiu que precisava melhorar. Ele era tão engraçado e divertido. Toda a bicharada gostava dele. Mas parece que, desta vez, ele tinha exagerado nas macaquices. Onde ele chegava, atrapalhava tudo. Só fazia confusão. Chegava até a incomodar. E, por isso, corria o risco de não ser mais querido naquela floresta. Desse jeito, ia perder a simpatia e a amizade dos companheiros. Então, o macaco tomou uma decisão: “Vou me esforçar. Eu não sou pior que os outros. Se eles conseguem aprender as coisas de Deus, eu também posso conseguir. Se todos eles podem ser melhores, eu também posso ser”.
Na semana seguinte, os bichos se reuniram. Todos estavam satisfeitos com os resultados. O encontro já havia começado, quando o macaco chegou. Todo mundo disse: “Ih! Já vem o macaco! Com certeza, vai atrapalhar nosso encontro”. Mas o macaco chegou, sentou-se e ficou quieto. Participou de tudo sem criar problemas, muito atento e prestativo. Todos ficaram felizes com a nova decisão do macaco. Era bom para todos saber que o macaco, tão alegre, estava de novo com eles. E assim ficou combinado: Na hora do encontro o macaco ficaria atento e prestaria atenção. Depois, poderia alegrar a floresta com suas macaquices, desde que não prejudicasse a ninguém.
Com isso, toda a floresta ficou mais feliz e os bichos mais unidos. Naqueles encontros, eles aprenderam muitas coisas boas que, guardadas no coração, ajudaram todos a viver melhor. E a vida na floresta melhorou.
-
56. Novas configurações dos sujeitos urbanos12.08.2024 | 10 minutos de leitura
-
55. Silêncio e anonimato feminino, uma palavra sobre a importância da hermenêutica bíblica feminista14.05.2024 | 33 minutos de leitura
-
53. Deus Espírito, como delicadeza e leveza11.09.2023 | 28 minutos de leitura
-
52. O confronto entre Amós e Amasias03.07.2023 | 17 minutos de leitura
-
49. Evangelização e cibercultura: Desafios, limites e possibilidades17.04.2023 | 18 minutos de leitura
-
361. Esperança17.02.2023 | 1 minutos de leitura
-
69. Adoção e Casais HomoafetivosNesse episódio versamos sobre a adoção de crianças por casais homoafetivos. Vale a pena conferir esse bate-papo.08.12.2022 | 1 minutos de leitura
-
351. Tua luz04.11.2022 | 1 minutos de leitura
-
350. Um novo dia28.10.2022 | 1 minutos de leitura
-
337. Colo de pai01.07.2022 | 1 minutos de leitura
- 49. Olhando pra cima e pra baixoMarcela tinha seis anos e não morava longe dos avós maternos. A casa deles era o paraíso terrestre e estava apenas a cinco quadras de onde a menina...25.09.2015 | 2 minutos de leitura
- 48. Falando feito maritacaCerto dia, uma distinta senhora, muito falante, viajava para o exterior. Não era uma viagem para o outro lado do mundo, mas eram horas dentro de um a...18.09.2015 | 2 minutos de leitura
- 47. Os dois irmãosNum lugar distante daqui, viviam dois irmãos que se queriam muito bem. Seus pais já haviam morrido e um aprendera a cuidar do outro como convém. O...14.08.2015 | 3 minutos de leitura
- 46. O pescador e seu riachoNuma cidade bem distante daqui, vivia um homem cuja atividade preferida era pescar. Sua fama como pescador era conhecida na região e causava inveja e...06.08.2015 | 3 minutos de leitura
- 45. As aparências enganamHavia um famoso conferencista, que corria mundo a fazer palestras e a dar cursos por todo canto. Já estava acostumado ao público e sabia como lidar ...29.07.2015 | 3 minutos de leitura
- 44. Jupira e seu coração maternalNos pastos de capim gordura de seu Ronaldo, algumas poucas vacas nada leiteiras eram a alegria do velho sitiante. Entre elas, Jupira era a mais especi...23.07.2015 | 3 minutos de leitura
- 43. O Bem-te-vi e a SabiáO Bem-ti-vi e a Sabiá, desde pequeninos, foram criados por zelosas mamães-aves, mas em bosques diferentes. Ambos aprenderam a voar cedo e procurar a...10.07.2015 | 10 minutos de leitura
- 42. O Poeta e o OleiroHá muitos e muitos anos atrás, um oleiro decorava e pintava um lindo vaso, quando uma pedra, vinda da direção da rua, acertou em cheio um dos vaso...24.06.2015 | 3 minutos de leitura
- 41. Onde está Deus?Dona Josefa fora catequista a vida toda. Desde adolescente dedicara-se à difícil tarefa de ensinar o catecismo, preparando as crianças para a prime...14.03.2015 | 5 minutos de leitura
- 40. Galinhas gordasNum sítio muito longe daqui, lá pras bandas de onde nasci, havia um velho homem que criava galinhas. Nesse sítio, as galinhas se orgulhavam de ter ...06.03.2015 | 4 minutos de leitura