125. Resistência e rebeldia diante da injustiça: o Salmo 137 como exemplo
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25.08.2022 | 2 minutos de leitura

Diversos

O exílio na Babilônia foi a experiência mais dramática vivida pelo povo de Deus, de acordo com os relatos bíblicos. Durante aproximadamente sessenta anos, entre a primeira deportação (597 a.C.) e o edito de Ciro (538 a.C.), a população do reino de Judá esteve sob o julgo do império babilônico, sofrendo as mais variadas formas de violência e injustiças, inclusive com o risco de perda da própria identidade cultural. São inúmeros os textos da Bíblia que se referem a esse acontecimento, e um dos que melhor retratam a situação é o salmo 137, que é considerado um dos mais belos de toda a coleção de salmos da Bíblia. Trata-se de um poema de resistência, no qual o autor descreve a violência – simbólica – do opressor e a rebeldia do povo oprimido, o que faz desse salmo também um canto de esperança para as pessoas injustiçadas de todos os tempos.
Embora o salmo retrate a situação do exílio, ele reflete uma época posterior, quando o povo já tinha conquistado a liberdade, pelo menos em parte, e voltado ao país. Nele, o salmista faz memória do passado, recordando parte do drama vivido, ao mesmo tempo em que ensina, aos interlocutores do presente e às gerações futuras, a rebeldia e a não resignação como meios de resistência diante das mais diversas formas de injustiça. Nos primeiros versos, ele descreve a situação desoladora em que se encontravam: aos prantos, com as harpas penduradas, sem razão para tocar e cantar, ou seja, sem motivos para sentir alegria (vv. 1-2). É o retrato de um povo humilhado, aparentemente sem rumo, sem perspectivas. O auge da humilhação acontece quando os algozes pedem que os exilados cantem suas canções, provavelmente como mero meio de diversão: “Cantai-nos um canto de Sião!” (v. 3). Daí surge nasce a rebeldia e a resistência dos humilhados: “Como poderíamos cantar um canto de Iahweh numa terra estrangeira?” (v. 4). Ora, naquele contexto, cantar um canto de Sião ou de Iahweh em terra estrangeira, para satisfazer a um pedido do opressor, seria negar as origens, renunciar à própria identidade e resignar-se diante da opressão.
Ao negar-se a cantar seus cantos, o povo exilado estava preservando sua identidade e, acima de tudo, demonstrando rebeldia, não conivência com a injustiça e a opressão. Como é sabido, o principal elemento da identidade do povo de Israel era a fé no seu Deus libertador, Iahweh. Seus cantos eram, em primeiro lugar, “cantos de Iahweh”; logo, remetiam à libertação, à vida em abundância, à justiça; tudo àquilo do qual os exilados estavam privados, na Babilônia. Se cantassem para satisfazer à vontade dos opressores estariam instrumentalizando seu Deus e abandonando seu projeto de libertação, como expressa o salmista, em linguagem simbólica, obviamente. Cantar para o opressor seria o mesmo que esquecer Jerusalém ou não a ter mais como causa de alegria (vv. 5-6), e isso equivaleria à própria morte, à paralisia do corpo, à perda de sentido da vida. A recusa a cantar também poderia custar a vida, pois era vista como um ato de desobediência e rebeldia. Assim, o salmista ensina que vale a pena arriscar a vida por uma causa, quando essa causa é a liberdade e a justiça.
No salmo 137, Jerusalém representa mais do que uma cidade e um país. É o símbolo de uma fé, de um projeto de libertação, por isso não pode ser banalizada e nem instrumentalizada. E vem contraposta à Babilônia, cujo significado simbólico também transcende o da cidade opressora. Representa toda estrutura de morte, toda forma de poder exercido a partir da violência e da injustiça. E a resistência daqueles que se recusaram a cantar cantos de Sião ou Iahweh em terra estrangeira é imagem de todas as lutas em favor da justiça, em prol da libertação e dos menos favorecidos de todos os tempos. Por isso, o Salmo 137 é, acima de tudo, um canto de resistência. É um convite à rebeldia, à ousadia e à esperança. Quando se tem fé no Deus libertador, Iahweh, que é o mesmo de Jesus, Jerusalém não é esquecida, jamais.
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