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23. O equilibrista e seu espetáculo

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13.06.2014 | 6 minutos de leitura
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23. O equilibrista e seu espetáculo

Solange Maria do Carmo



Padre Geraldo Orione de
Assis Silva


Numa cidade pequena e pacata, bem distante daqui, onde não havia atrativo algum, em tempos idos que não voltam mais, qualquer novidade fazia sucesso. Foi assim que aconteceu. Certo dia, chegou à cidadezinha do interior – lá nos Cafundós do Judas – um equilibrista, daqueles que param pendurados em qualquer lugar e para quem a lei da gravidade parece ter sido abolida. Chegou valente, botando banca, convidando a todos para seu grande show. Trazia consigo apenas sua coragem e um pobre ajudante com seu chapéu, a quem cabia o velho encargo de recolher os donativos. A cidadezinha ficou em polvorosa quando o carro de som saiu anunciando a chegada do grande astro e marcando dia e hora do grande show. Todos pararam para ver os preparativos. Enquanto o equilibrista armava sua corda da torre da igreja ao teto do único hotel da cidade para fazer sua travessia perigosa, o povo curioso se ajuntava a conversar sobre o grande evento que estava para acontecer. Havia quem apostasse que aquilo não ia dar certo, afinal, “como alguém poderia parar em cima de uma cordinha daquelas sem se esborrachar cá embaixo no chão?”, diziam eles. E deu o que falar a chegada do artista.


Terminados os preparativos, chegou o grande momento. Muitos queriam demovê-lo daquela ideia maluca; não queriam presenciar tamanha loucura. E grande número de pessoas insistia para que ele não andasse sobre aquela cordinha bamba, sem garantia nenhuma de não cair de lá, a não ser sua longa experiência como equilibrista. No meio das vozes sensatas, porém, ecoaram fortes vozes juvenis que, ao contrário dos cabelos brancos que insistiam em apelar para o bom senso, estavam ávidas por qualquer novidade que os tirasse daquele marasmo interiorano. O equilibrista ficou animado com o apoio e, tendo enorme plateia reunida, começou sua apresentação. Lá do alto da torre da igreja, perguntou: “Querem que eu atravesse na corda?”. Os velhos temerosos preferiram nem responder, mas os jovens gritaram coesos: “Queremos!”. Insistiu o equilibrista? “Acreditam que eu vou conseguir?”. E eles responderam: “Acreditamos!”. De novo o equilibrista: “Se vocês acreditam, então lá vou eu!”. Foi assim que o equilibrista mostrou à pacata cidade sua habilidade de parar em pé em cima de qualquer ponto minúsculo de apoio. O povo aplaudiu entusiasmado, quando o viu passar com elegância e maestria de um lado ao outro se equilibrando sobre uma cordinha só com a ajuda de uma vara nas mãos. E foi um entusiasmo só. O povo não se cabia de tanta emoção e o chapéu do ajudante não cabia de tanta doação.


No dia seguinte, tal foi o sucesso, que o show deveria continuar. Mesma coisa: lá foi o equilibrista em cima daquela cordinha, desta vez sem a ajuda da barra de equilíbrio. Os jovens animados diziam: “Vamos lá. Acreditamos em você!”, enquanto os velhos, ressabiados, diziam: “Cuidado, não se aventure tanto!”. Mas o sucesso foi grande. Num piscar de olhos, lá estava o equilibrista do outro lado do grande abismo que separava a igreja do hotel. Sucesso total: todos felizes e o chapéu cheio de contribuições.


No dia seguinte, o povo se ajuntou. “Que novidade haverá hoje?”, disseram uns aos outros, já imaginando o que o grande artista iria aprontar. E realmente ele estava aprontando novos números. Desta vez o show incluía andar pra trás como um caranguejo. “Ah, não! Disseram alguns. Não é possível isto, ele não vai conseguir”. De novo o intrépido equilibrista se aventura a interrogar sua plateia: “Acreditam que posso atravessar da torre desta igreja até o hotel, por esta corda, mas de costas?”. Poucos acreditam que ele fosse capaz de tamanha façanha. Apenas alguns jovens, bem inexperientes e aventureiros apoiaram tal loucura, motivados por um líder que queria mesmo ver o circo pegar fogo. Mas, mesmo o apoio não sendo total, o equilibrista ia arriscar. Bastava que alguém acreditasse nele. E para espanto da plateia boquiaberta, sua aventura teve êxito total. O equilibrista, como num piscar de olhos, atravessou o grande abismo chegando do outro lado são e salvo.


Mais um dia de show esperava a multidão afoita. O equilibrista prometeu maravilhas para aquela noite. Reunido o povo, ele subiu à torre da igreja e avisou que o espetáculo ia começar. Andou pra lá e prá cá na corda, fez extravagâncias mostrando toda a sua perícia, exibiu seus dons e, quando a praça estava cheia, ousou fazer sua proposta. Todos estavam ansiosos para saber o que viria. E qual não foi a surpresa da multidão quando o equilibrista anunciou que passaria pela corda de um lado a outro, empurrando um carrinho de mão. A multidão ficou estarrecida e achou demais tamanho atrevimento. Até os jovens duvidaram e disseram: “Também não precisa abusar. Aí já é demais!”. Vendo que o público temia por sua vida, o equilibrista perguntou: “Acham que não devo atravessar nesta corda, empurrando um carrinho de mão?”. Todos foram coesos ao afirmar que o artista não deveria se aventurar tanto. Mas ele insistiu: “Vocês não acreditam em mim? Se apenas uma pessoa acreditar será suficiente para que eu tenha motivação para fazer minha apresentação”. Silêncio total na assembleia. Mas, para surpresa de todos, aquele jovem que entusiasmava seus amigos durante as outras apresentações, disse resoluto: “Eu acredito! Atravessa! Você vai conseguir!”. O equilibrista se entusiasmou, pegou o carrinho de mão, pôs na corda... E todos atônitos, diziam: “Oh, vai cair!”. O equilibrista insistiu: “Jovem, você acredita em mim? Acredita que não vou cair daqui?”. O jovem entusiasmado gritou: “Acredito. Você é bom, vai fundo!”. Então, disse o equilibrista: “Se você acredita, se sou tão bom assim, então, sobe aqui e entra no carrinho. Vou passar pela corda, conduzindo o carrinho com você dentro dele”. O jovem amarelou, ficou sem fala e, tendo se recuperado do susto, gritou: “Eu acredito em você, mas entrar no carrinho, eu não entro não!”.


Fique firme na fé: crer é aventurar-se a entrar no carrinho de Jesus e deixá-lo conduzir nossa vida...

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