7. O livro de Oséias: Nunca vimos amor igual!


Há um conjunto de escritos na bíblia, intitulado “Profetas Menores”, composto por doze livros. São pequenos textos, fáceis de ler e cada um com teologia própria. O Livro de Oséias abre essa coleção e, por sua beleza e densidade, inaugura com maestria o espaço destes livros sagrados no conjunto das Escrituras.
O profeta de nome Oseías teria vivido no tempo do rei Jeroboão II, último rei antes de a Assíria dominar o Reino do Norte (722 aC), cuja capital foi Samaria e que teve seu início por volta do ano 930 quando Salomão morreu e subiu ao trono seu filho Roboão. Era tempo de relativa paz política, mas de grave decadência religiosa. Oséias se aventura a chamar o povo à fidelidade a Deus, em tempos em que a idolatria (considerada como prostituição) se alastrava, e Israel se afastava cada vez mais da fidelidade ao seu Senhor. Constituído apenas de 14 pequenos capítulos, o Livro de Oséias, denso de beleza e poesia, usa e abusa da imagem da prostituição. O próprio profeta, como sinal profético do amor de Deus por seu povo infiel, desposa uma prostituta, de modo que, ao olhar para Oséias de braço dado com aquela que não merecia seu amor, o povo de Israel é chamado a se lembrar do amor incondicional de Deus que o desposou, apesar de suas infidelidades constantes.
Talvez o leitor encontre alguma dificuldade em algumas passagens do livro, pois há textos de difícil interpretação, especialmente trechos que são acréscimos posteriores e parecem quebrar a inteireza do livro. Mas nada disso atrapalha a compreensão geral da mensagem do amor incondicional de Deus por sua gente, nem tira o vigor das palavras do profeta, que ainda ecoam em nossos ouvidos atentos.
Tudo começa com o simbolismo do casamento. Oséias deve casar-se com uma prostituta e gerar filhos com ela. Este gesto profético lembrará ao povo israelita sua constante infidelidade ao Senhor, pois se afastara do Deus libertador que o conduzira do Egito à Terra Prometida e fora atrás de Baal[1], na esperança de receber seu socorro.Oséias faz o que manda o Senhor e desposa Gomer, tendo com ela dois filhos Jezrael, que quer dizer Deus semeia, e Não-meu-povo, e também uma filha, que recebeu o nome de Não-compadecida. Pelos nomes dos filhos, entendemos logo a teologia de Oséias: Deus desposou seu povo, mesmo sabendo de seus limites para manter a aliança. Dessa união surgiu primeiramente “Deus semeia”, pois o Senhor sempre semeou coisa boa naquela que ele ama. Mas, em seguida, a esposa-prostituta lhe deu “Não-compadecida” e “Não-meu-povo”, pois tal foi a infidelidade da esposa que gerou filhos que não mostram quem é seu pai. Mas apesar da promessa de castigo contida nos nomes dados aos filhos, representando os dois reinos, Israel e Judá, o Senhor nunca se esqueceu de sua gente. A “Não compadecida” será lembrada e o “Não-meu-povo” será filho do Deus vivo.
Depois deste relato sobre a vida do profeta, seguem-se diversos oráculos denunciando a degradação religiosa e política de Israel, ora dita a Samaria, ora a Efraim; ora dirigida aos líderes religiosas, ora aos líderes políticos ou ao povo em geral. Perpassam todo o livro constantes advertências visando o retorno à fidelidade.
Admirável expressão de Oséias se encontra no final do livro que garante que o Senhor é Deus e não homem (cf. Os 11,9). E é como tal que ele trata seu povo: Deus ama incondicionalmente, sem possibilidade de voltar atrás sua palavra. O livro termina com um apelo à conversão: se Israel se voltar para o Senhor, o amor de Deus o curará. Vida nova é prometida à Israel infiel: será de novo a esposa querida de seu Deus, que a aceita de volta sem condená-la por suas traições. Nunca vimos amor igual!
[1] Baal quer dizer marido. O culto a Baal era caro aos cananeus que habitavam a Terra Prometida antes de o povo hebreu tomar posse do território. Durante toda a vida de Israel, o culto a Baal foi uma tentação muito forte. Baal era tido como o deus da fertilidade, aquele que fazia a terra, o gado e as plantas se tornarem fecundas. Fazia parte do culto a Baal a chamada prostituição sagrada, para representar a sua fertilidade.
-
500. “Misericórdia eu quero, não sacrifícios” (Mt 12,7).01.04.2025 | 1 minutos de leitura
-
499. “Deus manifestou poder com seu braço: dispersou os soberbos nos pensamentos de seu coração”. (Lc 1,51)25.03.2025 | 1 minutos de leitura
-
457.Bendita memória21.03.2025 | 1 minutos de leitura
-
498. “A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador”. (Lc 1,46-47)18.03.2025 | 1 minutos de leitura
-
456. Contra as leis injustas14.03.2025 | 1 minutos de leitura
-
497. “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo sua palavra”. ( Lc 1,38)11.03.2025 | 1 minutos de leitura
-
455. Nas ondas da fé07.03.2025 | 1 minutos de leitura
-
23. O que é a benção sacerdotal, é o mesmo que shalom?05.03.2025 | 3 minutos de leitura
-
496. “Não temas, Maria, encontrastes graça diante de Deus”. (Lc 1,30)04.03.2025 | 1 minutos de leitura
-
452. O que fazer07.02.2025 | 1 minutos de leitura
- 23. O Livro do II Isaías: Consolo para o povo sofridoTal foi a força da mensagem do Primeiro Isaías que ela perdurou no tempo. Por ocasião do Exílio Babilônico (586-538 a.C.), um discípulo desconhe...09.07.2015 | 4 minutos de leitura
- 22. O Livro do I Isaías: Deus salva seu povoÉ tarefa quase impossível resumir o Primeiro Livro de Isaías (Is 1–39) em uma ou duas laudas. Corremos o risco de simplificar obra tão densa e n...04.03.2015 | 4 minutos de leitura
- 21. O Livro de Isaías: A presença de Deus dita de vários modos por diversas pessoasChegou a hora de enfrentar os grandes profetas e fechar a coleção que leva este nome “Livros Proféticos”. Tomemos hoje o Livro do profeta Isaí...16.09.2014 | 4 minutos de leitura
- 20. O Livro das Lamentações: Lamentar sim, mas sem perder a esperançaAs Lamentações são poemas fúnebres, cantigas chorosas de luto, certamente escritas por ocasião da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor e ...21.08.2014 | 5 minutos de leitura
- 19. O Livro de Baruc: É tempo de voltar para o SenhorO Livro de Baruc, pouco lido e meditado nos meios populares, tem muito a nos oferecer, apesar de sua compreensão teológica se alicerçar nas bases d...26.06.2014 | 5 minutos de leitura
- 18. O Livro de Malaquias: O amor gratuito de Deus tem suas exigênciasMalaquias provavelmente não é o nome do profeta que escreveu a obra. O nome do livro vem do hebraico mal’aki, que quer dizer “meu mensageiro”,...03.04.2014 | 6 minutos de leitura
- 17. O Livro de Zacarias 2: Deus é fielO livro mais parece uma colcha de retalhos: a impressão que temos é que o redator recolheu textos diversos e os congregou fazendo uma publicação p...06.03.2014 | 3 minutos de leitura
- 16. O Livro de Zacarias 1: O precioso amor de Deus por seu povoApesar de profético, o estilo de linguagem do Livro de Zacarias é apocalíptico . Zacarias alterna visões e oráculos, como acontece algumas vezes ...19.01.2014 | 8 minutos de leitura
- 15. O Livro de Ageu: A controvertida reconstrução do TemploO Livro de Ageu, de tão minúsculo – dois capítulos apenas – passa despercebido para quem folheia a Bíblia sem um olhar criterioso. O tema do q...05.01.2014 | 5 minutos de leitura
- 14. O Livro de Sofonias: Sempre fica um resto fielSofonias é direto; não gosta de enrolações, nem de meias palavras. Ele não poupa o leitor. Já no comecinho da obra vai avisando seu público que...29.12.2013 | 5 minutos de leitura