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64. As muitas devoções católicas

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11.09.2015 | 4 minutos de leitura
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64. As muitas devoções católicas

Certamente não temos nada contra a piedade do povo e seu modo de expressar a fé, por meio das devoções populares. Preocupa, porém, tanta devoção e tão pouca teologia que hoje pulula as comunidades eclesiais. Devoções marianas e a Jesus sacramentado; devoções à Sagrada Face e às chagas de Cristo, devoções a santos e santas diversos, cada qual entendido como especialista em um departamento da vida... Eu não sei de onde vêm essas devoções todas, mas é certo que elas chegam sorrateiramente e ocupam os espaços da fé de forma que a comunidade eclesial ganha sua feição por meio delas e, sem elas, já não sabe mais prosseguir seu caminho. Com isso, alguns traços característicos e singelos da fé ganham uma proporção descomunal, tomam um tamanho gigantesco, adquirem força quase de dogma de fé e quem não adere a essas devoções se vê excluído da comunidade.


Vamos falar seriamente. A maioria dessas devoções possuem um pequenino ou quase nenhum sentido teológico. Não se trata da devoção em si. Toda devoção é boa, pois ser devoto é fazer um voto de viver filialmente a fé, de manter uma relação amorosa com Deus. Não é o ato de ser devoto, mas é o que motiva a devoção que está sendo questionado. Como podemos ser devotos de Nossa Senhora das Cabeças ou de nossa Senhora Desatadora de Nós? De onde vem isso? E a devoção a São Jorge e a tantos outros santos? E a devoção a São Miguel Arcanjo, o anjo poderoso, e a tantos outros anjos, cuja teologia católica é tão pouco precisa? De onde vem essa devoção às Mãos Ensanguentadas de Jesus? Como entendê-la? Por que as mãos ensanguentadas? O que isso significa? Não seriam todas essas devoções traços periféricos da fé, que obscurecem o verdadeiro sentido da fé cristã e o seguimento de Jesus de Nazaré? É certo que a fé cristã não é produto óbvio de reflexões teológicas ou de observações da realidade humana, mas convenhamos: a fé exige clareza, exige suas razões... Não dá para crescer na fé e na comunhão com Deus, negando a intelectualidade e escondendo-se atrás de devoções, nem sempre edificantes. Parece que é missão do presbítero – como animador da comunidade – ajudar sua gente a apurar sua fé. Não dá pra ignorar a “ignorância” de nossa gente. Seria indelicado não admitir o quanto essas devoções sinalizam o desejo de Deus que nossa gente tem; mas seria ainda mais indelicado deixar nossa gente bebendo apenas dessa fonte sem lhes oferecer a água viva da fonte do evangelho.


Não é o caso certamente de rir das devoções do povo, nem de ficar bravo, xingar e brigar para que nossa gente vença “suas ignorâncias”, como fazem alguns. Com um pouco de senso pastoral e gentileza, um pouco de conhecimento teológico e capacidade mínima de testemunhar a fé, podemos oferecer ao povo um alimento bem mais sólido, bem mais saboroso e bem mais nutritivo, capaz de sustenta-lo nas vicissitudes da vida.


Vejam bem! Não se trata de combater a devoção por purismo teológico. Trata-se de oferecer ao povo a teologia que sustenta a fé; uma teologia profunda e consistente que vai ajudar as pessoas a se manterem de pé na hora da crise. Devoções podem preencher nossa carência religiosa a princípio, mas devoções não nos mantêm seguros na mão de Deus na hora em que o barco da nossa vida está balançando e afundando nas águas do mar da vida. Orientar nossa gente ajudá-la a conquistar uma espiritualidade profunda e uma fé com fundamentos não é um luxo, mas uma necessidade.


Há muito que fazer nesse sentido. Não dá pra derrubar o que se tem, sem construir outro abrigo sob o qual se refugiar. A fé é refúgio seguro – e não há nenhum mal nisso! Para derrubar um casebre da fé, precisamos oferecer outra morada. A fé orienta toda a vida das pessoas e não é caridoso criticar e ridicularizar as devoções sem oferecer algo mais fundamentado. Por isso, aconselhamos que as comunidades se empenhem em oferecer uma espiritualidade bíblico-teológica, capaz de suster o crente de pé. Pouco a pouco, a gente vai mostrando a precariedade das devoções e piedades que se mantêm de pé mais em mitos e lendas que na fé cristã verdadeira. Esse é um trabalho difícil, mas sempre vale a pena tentar. Fica aí a dica!







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