5. Ester: Cuidado, o feitiço pode virar contra o feiticeiro!


O livro de Ester[1] é uma novela, como Tobias, Rute e Jonas, mas também Jó, Judite e outros relatos bíblicos. Estamos escolhendo estes livros não só pelo curioso gênero literário, mas porque são livros pequenos, que o leitor pode devorar numa sentada só. O livro de Ester, por exemplo, é um pouquinho maior que os demais (10 capítulos), mas também é possível lê-lo sem maiores dificuldades. Aproveitemos a ocasião desta pequena introdução para degustar os textos, que são deliciosos. Então, vamos a Ester.
A história não é própria para uma novela das seis. Cabe bem melhor no horário das nove, pois rola uma trama de inveja, ciúmes e perseguições, além de decretos de morte e extermínio de povos inteiros. Tudo se passa em Susa, capital da Pérsia, envolvendo o rei Assuero e uma judia de nome Ester. Ester perdeu seus pais muito cedo e foi criada por seu parente Mardoqueu, um homem bom e piedoso, judeu exemplar. Depois de a rainha Vasti ter se recusado a se apresentar em público numa festa que o marido deu para um grupo de convivas, o rei fez um concurso para escolher a próxima rainha e Ester foi a escolhida. Mas Ester, por conselho de seu pai adotivo, manteve sua nacionalidade oculta, com medo da reação do rei.
Havia um homem de nome Amã, ministro do rei e de sua inteira confiança, que era vaidade e arrogância só. Por ser muito importante no reinado, fazia questão de ser saudado por todos os seus súditos como um deus. Mas Mardoqueu não aceitou dobrar os joelhos diante de Amã, o que irritou extremamente o prepotente. Foi aí que a confusão começou. Amã vai tramar de tudo para aniquilar Mardoqueu, mas não contente com a morte de seu opositor, quer a morte de todo o seu povo. Numa manobra maquiavélica, convence o rei a decretar a morte do povo judeu. A sorte é lançada e fica decidido que, no dia treze do mês de Adar, todos os bens dos judeus devem ser confiscados e os judeus definitivamente exterminados em território persa. Mardoqueu, ao saber do decreto, implora socorro à rainha, que vai se apresentar – sem ser convidada – à presença do rei. A rainha se prepara para ir à presença de Assuero, que dela se agrada e garante atender seus pedidos. Depois de uma trama bem elaborada com jantares na presença do tolo Amã, Ester revela sua identidade e a intenção de Amã de aniquilar toda sua gente. O feitiço vira-se contra o feiticeiro e Amã vê a situação se inverter. O rei, encantado com os atributos de Ester, atende o pedido da rainha e livra o povo judeu da morte. De gorjeta, ainda manda perseguir Amã. O dia programado para a matança dos judeus torna-se o dia do revide. Amã é duramente perseguido.
Com esta história de ciúmes, prepotência e ganância, o povo judeu fala de sua história e de seu sentimento de eleição. Para ele, as perseguições sofridas são nada diante da ação de Deus que sempre os defendera e protegera contra todo mal. A partir do relato de Ester, fica estabelecida a Festa dos Purim[2], que o povo deve celebrar todo ano, no dia 14 de Adar, como memória da ação de Deus na sua história dando a eles vitória sobre Amã.
E para nós, o que fica? O livro de Ester é um belo relato da sagacidade do povo, que não se deixa abater e luta por sua sobrevivência, confiante na ação amorosa de Deus na sua história. Deus nos dê tal confiança e esperteza para também conduzir na sua presença a nossa história, tantas vezes sofrida e cheia de tramas nada menos esquisitas que as que Amã preparou para Ester e sua gente!
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