28. Nossa Igreja é comunhão ministerial


A palavra comunhão, do grego koinonia, é muito cara à Igreja. Desde os primórdios, a comunidade cristã é descrita como comunhão. Em Atos 2,42 lemos: “Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna (koinonia), na fração do pão e nas orações”. E curioso; koinonia é uma daquelas palavras que só aparece uma única vez no texto, chamada apax legomenon em grego, e de força muito grande. Talvez seja exatamente por isto que o autor use o termo com parcimônia: para conservar sua força original, para marcar sua presença, para não o deixar cair no vazio.
Ao longo da história da Igreja, a palavra comunhão foi ganhando sentido, procurando espaço, achando seu lugar. Ela se tornou importante não só para descrever a relação dos cristãos entre si, mas também a relação dos mesmos com o Ressuscitado. Viver em comunhão é estar na presença do Deus vivo, visibilizada na comunidade eclesial. Tal foi a importância que o termo ganhou que a eucaristia passou a ser chamada de comunhão. Ainda hoje ouvimos por aí: “Fulano vai fazer a primeira comunhão”, referindo-se ao sacramento da eucaristia que ele vai receber pela primeira vez. Receber a eucaristia é dito como comungar. Apesar desse uso popular da expressão, a comunhão não é algo que se faz ou que se recebe numa hóstia. A comunhão é um estado de espírito, de pertença, de unidade com o todo: o Ressuscitado presente no seu povo, a Igreja de Deus. Na multiplicidade de possibilidades de ser Igreja, a comunhão acontece por causa da presença do Ressuscitado, aquele que suscita muitos modos de fazer sua força acontecer no mundo.
Um dos usos da palavra comunhão no mundo eclesial aparece atrelado a outro termo: ministerial. A Igreja é comunhão ministerial. Para ser comunhão ministerial, bem antes, a comunidade precisa ser comunhão de vida: um só coração, uma só alma (cf. At 4,32).
O que é comunhão ministerial? A comunhão só existe na diversidade, na pluralidade, na riqueza das diferenças. Se não há pluralidade nem diferença, então não há comunhão: há uniformidade. A comunhão é bem diferente da uniformidade. Ela nasce do respeito e da igualdade; da partilha e da proximidade dos corações. Não pode ser imposta por leis canônicas, não acontece por meio de rubricas litúrgicas, não se dá por imposição de autoridades. Acontece desde dentro, vem das entranhas, remexe a gente por dentro exigindo renúncias e conversão. Comunhão ministerial é a riqueza dos diversos carismas e das variadas funções na comunidade eclesial, reconhecidos como dom e não temidos como rebeldia. Como um corpo que tem muitos membros – diz o apóstolo Paulo – a Igreja possui uma gama enorme de carismas (cf. 1Cor 12). Cada um exerce sua função, cada um tem seu papel, cada um tem sua importância. Nessa multiplicidade de dons, não há lugar para a disputa ou a dominação. Um dom ou carisma não pode ser – e não é mesmo! – mais importante que o outro. Cada dom é apenas um serviço colocado à disposição do todo. A comunhão ministerial acontece quando se admite isto: todo dom é importante na comunidade; todo carisma é útil para o serviço do Reino.
Infelizmente, estamos muito afeiçoados a alguns carismas e desconhecemos – ou desprezamos – outros. O ministério ordenado, por exemplo, ganhou destaque no modelo de Igreja que se firmou na história. A figura do presbítero – também chamado de padre – cresceu, ficou vultosa e praticamente sufocou outros ministérios. O presbítero tem proeminência na comunidade eclesial; as funções foram concentradas em sua pessoa; suas mãos ungidas ganharam poderes; seu papel eclesial é tão grande que chega a sufocar os outros. Chamado pelo título de sacerdote, o padre se tornou mediador entre o céu e a terra e, desde então, foi feita uma associação indevida entre o ministério ordenado e o sacerdócio, levando-nos a esquecer o sacerdócio mais primigênio: o sacerdócio comum dos fiéis, de todos aqueles que – pelo batismo – estão vinculados a Cristo. Uma pena ser assim.
Nossa Igreja é comunhão ministerial e não um bloco monolítico constituído de um único ministério. Todos os serviços são úteis, e todo ministério é serviço. Da catequese à presidência da liturgia; da administração financeira à animação das comunidades; da coordenação de uma pastoral ao serviço humilde dos pobres... tudo é ministério, pois tudo é dom de Deus e não iniciativa nossa. Servimos ao Deus que nos ama e nos congrega na eclesia e contribuímos com nosso trabalho para a comunhão de todos os membros.
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