27. O CREDO: Está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso


Sentado à direita de Deus Pai
Jesus, após ser ressuscitado pelo Pai e subir aos céus, “se assenta à direita de Deus Pai todo-poderoso”. Na verdade, o Credo diz que “está sentado”. Também essa expressão está sujeita a equívocos se a entendemos ao pé da letra, ou seja: ao lado do Pai todo-poderoso há uma cadeira especial na qual Jesus se assentou depois de sua ascensão. Aliás, como vimos, as expressões espaciais do Credo não se referem a lugares. Jesus não foi “ao inferno” e depois “subiu para o céu” onde “se assentou” numa cadeira ao lado de Deus. Como das outras vezes, a expressão é simbólica e esconde uma realidade – uma verdade – profunda a respeito de Jesus.
A linguagem figurativa utilizada neste artigo do Credo faz referência ao cerimonial antigo dos regimes régios orientais que Israel adotou. O lugar do rei era acima do povo, num trono especial e inacessível. O rei podia, no entanto, elevar alguém à sua altura e conferir-lhe dignidade nova. Seu ministro principal se assentava ou permanecia de pé à sua direita. Também os seus sucessores se assentavam à sua direita, o que significava que participavam já, de algum modo, de seu poder. O uso da imagem “sentado à direita de Deus” finca suas raízes na experiência da realeza em Israel e faz eco ao Sl 110,1, o mais citado no NT: “Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos como estrado de teus pés”.
No livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas afirma que Jesus foi exaltado pela direita de Deus e cita expressamente o Sl 110,1 (cf. At 2,33-36). Em Hebreus lemos: “E a qual dos anjos ele jamais disse: ‘Senta-te a minha direita, até que eu ponha teus inimigos como estrado de teus pés’?” (Hb 1,13). O NT afirma em diversas passagens que Deus ressuscitou Jesus dos mortos e o fez se assentar a sua direita no céu, acima de toda autoridade, poder, dominação, e de todo outro nome que possa existir (cf. Ef 1,20-21). Segundo São Paulo, Jesus está sentado à direita de Deus e intercede por nós (cf. Rm 8,34). Em Cl 3,1 se encontra a firmação: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus”.
Esse artigo do Credo se concentra na exaltação de Jesus como o Cristo (ou seja, o ungido, o enviado de Deus) e enfatiza a profissão de fé no senhorio que Deus Pai lhe confere. O Crucificado foi exaltado pelo Pai, entronizado na mesma vida de Deus. Após afirmar que Jesus foi exaltado pela direita de Deus, Lucas afirma: “Portanto, toda a casa de Israel fique sabendo, com certeza, que Deus estabeleceu como Senhor e Messias esse Jesus que vós crucificastes” (At 2,36). Jesus é, de fato, o Cristo, o Messias enviado por Deus. Ele é “o Senhor” (cf. Rm 10,9; 1Cor 12,3; 2Cor 4,5; Fl 2,11). Eis provavelmente a primeira profissão de fé dos cristãos. Ao ressuscitá-lo, Deus o exaltou e o fez Senhor e Cristo. Mas Jesus, como Filho de Deus, não compartilhava a autoridade de Deus, seu Pai que o enviara? Qual a novidade dessa exaltação se ele já era igual a Deus (mesma natureza)? A novidade surge quando pensamos Jesus a partir de sua encarnação. Ao se fazer humano, não deixou de sê-lo por sua ressurreição. Agora, enquanto ser humano, Jesus possui a glória, a majestade e o poder de Deus. É igual a Deus, “consubstancial ao Pai”, e igual a nós, “consubstancial ao ser humano”.
Nossa humanidade foi glorificada e divinizada em Jesus, um homem que agora vive a mesma vida de Deus. Na verdade, somos salvos pela divindade de Deus que, em Jesus, assume nossa humanidade. Ao elevar Jesus, Deus Pai nos eleva com ele.E Jesus vive “por nós” junto do Pai, sentado à sua direita, ou seja, participando de seu poder. Por isto Paulo pode afirmar: “Vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é vossa vida, se manifestar, vós também sereis manifestados com ele na glória” (Cl 3,3). Ele se tornou nosso intercessor. Na sua vida terrena, ele já intercedia pelos homens a salvar, mas, exaltado à direita de Deus, sua intercessão ganha um significado ainda mais profundo, porque “tornou-se princípio de salvação para todos os que lhe obedecem” (Hb 5,9). Jesus não mais suplica ao Pai a favor de todos na prostração e nas lágrimas (cf. Hb 5,7), mas assentado ao lado do Pai (cf. Hb 1,3.13; 8,1; 10,12; 12,2). Ele se assenta ao lado direito do Pai onde permanece eternamente em benefício de todos. A nossa humanidade está agora em Deus por Jesus Cristo e constitui uma intercessão definitiva. E poderíamos completar o artigo do Credo: “Está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso a favor dos homens”, “fazendo pressão de amor sob o coração de Deus” para que todos os seres humanos participem da própria vida divina, que consiste em sua salvação.
Jesus, por sua vida, morte, ressurreição e exaltação junto de Deus, tornou-se Senhor e rei do universo inteiro: “De Deus recebi todo o poder no céu e na terra” (Mt 28,18). O exercício do senhorio de Cristo sobre o céu e a terra é real, mas ainda não se manifestou totalmente. Não somos capazes de mensurar como o reinado de Cristo acontece misteriosamente no mundo, cuja história depende da liberdade humana. Jesus reina e convida a todos para entrar na lógica do seu reinado e do seu senhorio. A história e o universo caminham misteriosamente rumo à manifestação plena do senhorio de Jesus, rumo ao impacto final da ressurreição e elevação de Jesus à direita de Deus, “pois é preciso que ele reine, até que tenha colocado todos os inimigos debaixo dos seus pés” (1Cor 15,25). E, no final da história, “quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho se submeterá Àquele que tudo lhe sujeitou para que Deus seja tudo em todos” (1Cor 15,28).
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