2. Deus não é verdade imutável, nem palavra intransigente
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03.12.2021 | 5 minutos de leitura

Novena de Natal

Solange Maria do Carmo
Tânia da Silva Mayer
Ambientação: Em local apropriado para a oração, disponha uma toalha bonita, alguns elementos do presépio, a bíblia, a coroa do advento ou uma vela, algumas ramagens ou flores, as fotos de sua família, jornais ou papéis com notícias atuais...
Abertura
Dirigente: Irmãos e irmãs, celebremos nossa Novena de Natal 2021. Deus vem ao nosso encontro, abrindo caminhos de diálogo e nos convidando à convivência na paz e na solidariedade.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Que a misericórdia de Jesus nos alcance e nos faça suas testemunhas no mundo.
Grupo: Jesus Cristo nos reúne para viver em unidade!
Cantar a música n. 9, Seja bem-vindo, ou outra de agrado do grupo.
Oração Inicial
Dirigente: Ó Deus de Jesus Cristo, tu vens sempre ao encontro do teu povo demonstrando tua amizade para conosco e nos dirigindo tua palavra de amor e justiça. Que o Espírito de Jesus nos revele tua abertura amorosa ao diálogo com a humanidade que se manifesta como acolhida de toda e qualquer pessoa.
Grupo: Venha até nós, Deus de Jesus, para que te vejamos como és, comunicação de Amor e Vida. Amém.
Leitura da bíblia
Para preparar os corações para a escuta da Palavra, cantando a música n. 9. Tua palavra, Senhor, ou outra do agrado do grupo.
Na bíblia, uma pessoa faz a leitura do texto: Jo 14,1-11
Conversa e Partilha da Palavra
O que o texto diz? Qual mensagem é apresentada a nós e o que é mais importante? Vamos conversar.
Aprofundamento
O escritor desse Evangelho provavelmente é o mesmo que escreveu as Cartas intituladas Cartas de João, cujo texto lemos no nosso primeiro encontro. Trata-se de um autor que está muito consciente de quem é o Deus de Jesus Cristo. Hoje ele vai nos falar que Deus não é uma verdade fixa e imutável, mas uma verdade que se faz no caminho, na vivência da fé. Esse texto é um diálogo de despedida no qual Jesus tranquila seus discípulos que estão aflitos diante da possibilidade cada vez mais real de sua morte por seus perseguidores. Ele começa dizendo: “Não se perturbe o vosso coração; crede em Deus e crede também em mim”. Vejam que um coração que crê no Deus amor de Jesus Cristo segue resoluto mesmo em meio às adversidades da vida. Nada deve abalar nossa confiança no amor e na misericórdia de Deus, nem as pelejas da vida, nem ameaças, nem pandemia. Nada. Jesus garante que, na casa do Pai, tem muitas moradas, ou seja, podemos nos abrigar no seu coração pois ele nos guarda no seu amor. E são muitas as moradas porque ele ama a cada um de forma especial e única, do modo como nós somos, com os erros e os acertos que cometemos. Jesus garante que é ele quem prepara para nós essa morada no coração de Deus. Ele é o filho querido de Deus e nos adotou como irmãos. Logo somos também filhos de Deus e nele nos tornamos alvos do amor generoso que Deus dispensa a seus filhos. Para nos ajudar a compreender quem é o seu Pai, Jesus usa a imagem do caminho. Ele garante que quem está unido a ele sabe o caminho para o Pai. Mas Tomé parece estar muito apegado às tradições judaicas e não entende o que Jesus está dizendo. Ele insiste com o Mestre que não conhece o caminho para Deus. Jesus o adverte dizendo que ele próprio é “o caminho, a verdade e a vida”. É muito importante que Jesus diga que ele é primeiramente caminho, pois o caminho se faz caminhando. Ninguém conhece a Deus ou a sua doutrina de forma plena. Vamos conhecendo sua verdade pouco a pouco à medida que nos abrimos para o seu amor. A verdade vai se mostrando na caminhada insistente do exercício do amor. Por isso, Jesus pode dizer que ele é também a vida. Se o caminho da fé está sempre aberto e sua verdade está sempre se desvelando sem jamais se esgotar, logo ele é a vida pois não há vida em fechamentos doutrinais obtusos, sem diálogo e sem aprendizagem com o outro. Por fim, Felipe, inseguro como Tomé diante das palavras de Jesus, deseja ver o Pai e acabar com a discussão. Jesus o repreende dizendo: “Quem me vê, vê o Pai”. Ou melhor, Deus não é uma verdade imutável, hermética, fechada e pronta. É preciso fazer o caminho com Jesus para saber quem é o Pai, para conhecer o Deus de Jesus Cristo. Muita gente gosta de rotular Deus em definições dogmáticas. Para eles, Deus é uma verdade fixa e acabada, que não aceita aprimoramentos. Assim, vivem dizendo: “Isso é contra a lei de Deus; aquilo é pecado. Isso Deus gosta; aquilo Deus abomina”. E vão rotulando todas as coisas como se Deus coubesse dentro da gaiola de nossos juízos, como um animal domesticado. Mas esse não é o Deus de Jesus. O Deus de Jesus é amor e amor nunca se esgota, nunca pode ser explicado. O amor pode ser vivido e experimentado, jamais definido em verdades herméticas.
Que tal cantar a música n. 20, Deus cuida de nós?
Causo da Vida
Uma pessoa do grupo faz a leitura do causo da vida. Ao final, o grupo pode conversar sobre a narrativa e enriquecê-la com outros exemplos do cotidiano.
Dr. Cândido é médico da cidade há 25 anos. Não há um só morador que não o conheça e não o admire. Muito católico, ele criou sua família nos caminhos de Deus e, à toda família da cidade, ele já prestou algum socorro. Como se não bastasse a pandemia, que fez a vida virar de ponta a cabeça, Dr. Cândido foi surpreendido com a notícia de que seu filho de 23 anos estava namorando um rapaz. O primogênito de Dr. Cândido resolveu sair do armário e começar uma nova vida com seu companheiro.
Dr. Cândido e sua esposa estavam em polvorosa. A casa caiu e toda sua catolicidade ficou comprometida. Como era possível admitir uma coisa dessas? Por mais que seus colegas médicos e psicólogos insistissem para que ele repensasse sua posição, Dr. Cândido afirmava que Deus é verdade e não aceita o erro. Para o médico, aquilo era pura sem-vergonhice e imoralidade. Não havia possibilidade de dialogar com seu filho; a não ser que o rapaz se convertesse e se tornasse heterossexual.
O médico falou, explicou, advertiu, brigou, mas não houve acordo. O filho insistia que esse era seu jeito de amar e que não conseguia se interessar por uma mulher. Cansado, Dr. Cândido perdeu a candura e lhe desferiu um tapa na cara. E disse: “Quer viver na safadeza, vai pagar suas contas! Aqui não tem lugar para quem acha que pode distorcer a verdade de Deus”.
D. Ternurinha – coitada! – estava muito chateada. A pandemia já havia desencadeado uma tristeza enorme com a qual não estava fácil lidar. E agora, a notícia da briga de pai e filho fora a gota d’água. Ela tentou dizer que Deus é bom e que Deus ama a todos e que não podemos obrigar ninguém a ser o que não é, mesmo que seja em nome da fé. E depois, se os dois rapazes se gostavam, certamente não estariam ofendendo a Deus, pois ela entende que o que ofende a Deus é fazer mal aos outros. Pra que? Dr. Cândido se decepcionou com a esposa e perdeu a vontade de viver. Deprimiu, se descuidou das recomendações sanitárias acerca da pandemia e pegou covid. Veio a ficar em estado muito grave, entubado numa UTI. Quando voltou a dar fé da vida, já havia dois meses que estava no hospital sendo cuidado por um jovem muito simpático e atencioso, que mais parecia um anjo que gente de verdade. O médico se encantou com a ética e a postura do jovem, e ficaram amigos. Mas qual não foi a surpresa do doutor quando descobriu que aquele rapaz era o namorado de seu filho.
Ao voltar para casa, Dr. Cândido recuperou a candura que sua dureza religiosa não permitia aflorar. Ficara dias isolado num hospital e estava doido para abraçar seus filhos. Diante do grave perigo, entendeu que Deus é amor e que a verdade sem amor é legalismo que mata e mentira revestida de argumento religioso. Foi aí que ressignificou suas compreensões da vida e da sexualidade e aceitou de volta o primogênito com sua orientação sexual no seio da família.
Oração
Dirigente: Irmãs e irmãs, aqui reunidos, façamos nossa oração ao Deus de Jesus Cristo, que não é verdade imutável nem palavra intransigente.
Grupo: Deus é diálogo e acolhida e não há lugar para um Deus intransigente e intolerante entre nós. Só há lugar entre nós para o Deus amoroso, que Jesus Cristo nos revelou.
Dirigente: Rezemos juntos com a ajuda do poema Ato de fé, de Solange do Carmo.
Grupo:
De gota em gota, De conta em conta,
Prosseguimos resolutos, Rumo ao ano que já desponta.
Numa mão temos o amor. Na outra, a esperança. Na incerteza da fé,
Se firma nossa aliança.
Sugerimos cantar a música n. 9, Eu creio sim.
Compromisso cristão
Bem sabemos como são tentadoras a rigidez e a moral religiosa praticada por diversas pessoas e muitos grupos em nossa religião. Esses justificam suas ideologias e preconceitos a partir da imagem de um deus que se impõe ao ser humano e que impõe a todos nós uma verdade inquestionável. A fé cristã ensina que Deus está sempre disposto a experimentar as venturas e desventuras da nossa humanidade. Enquanto cristãos e cristãs, seguidores de Jesus, somos exortados a ouvir os sinais dos tempos e todas as histórias de vida, de modo a não fecharmos as portas às pessoas que procuram o Senhor no cotidiano de suas vidas. Que tal repensarmos nossos juízos e abrirmos o coração para acolher as pessoas como elas são?
Despedir-se com simpatia e marcar novo encontro.
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