11. Superando o pecado


A Primeira Carta de João diz: “Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis” (1Jo 2,1a). Essa máxima do escritor sagrado revela-se prenhe de sabedoria. O desejo de todo aquele que instrui alguém na fé é que os seus discípulos não pequem. Mas não nos iludamos: vez ou outra o pecado acontece. Algum desejo mal orientado ganha força e acabamos, como disse Paulo, fazendo o mal que não queremos (cf. Rm 7,14). Aí fica evidente nossa fraqueza e nossa necessidade da redenção. Deus, no seu amor, nos estende a mão e nos acolhe, retirando-nos do lamaçal no qual o pecado nos faz mergulhar.
E vamos ser sinceros: atolar-nos no pecado não é coisa tão difícil. Sair dessa lama já é coisa bem mais complicada. De novo João aponta o caminho: “No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um defensor, Jesus Cristo, o justo. Ele é a oferenda de expiação pelos nossos pecados” (1Jo 2,1b-2). Alegra-nos saber que, apesar de, nas reviravoltas da vida, acabarmos pecando, não estamos sem amparo. Jesus, o justo, aquele que foi fiel todo o tempo, nos justifica e nos reconduz ao caminho.
Então, o negócio é enfrentar as fraquezas de peito aberto, até porque forte não é aquele que vence sempre, mas aquele que não foge à luta. Na luta contra o pecado, a fé nos dá seu reforço. Jesus expia nossos pecados: na sua fidelidade, ele nos capacita para o amor e para a fidelidade, pois nos apresenta ao Pai na comunhão com ele. Sendo assim, não há motivos para temor ou desespero. Fazemos tudo o que podemos para não pecar, para não ferir a vida – nem a nossa, nem a de ninguém – mas, caso isso venha a acontecer, podemos retomar o caminho da fidelidade, pois Jesus nos estende sua mão, ele nos redime e ajuda a superar o pecado.
Por que e como Jesus nos ajuda a superar o pecado? Porque ele é fiel e justo e sua justiça nos justifica. Ao dar sua vida na cruz, Jesus nos redimiu. Sua morte na cruz é redentora; seu sangue derramado é salvífico. Mas entendamos bem: não é o sangue escorrido de mãos e lado de Jesus, no sentido literal. O sangue na bíblia significa a vida. Dizer que o sangue de Jesus nos redime é afirmar que sua vida – toda ela redentora – não foi poupada, guardada para si, mas entregue na mais plena fidelidade ao Pai e por amor a nós. Essa entrega da vida irradia salvação; atinge nosso coração em cheio; rasga nosso peito e infunde em nós desejo de fidelidade. Aí, tomados pela mão, vamos com Jesus rumo à fidelidade do Calvário, pois também nós podemos e devemos ser fiéis como ele.
Pensando nesta salvação que Jesus nos oferece é que defendemos a tese de que catequese não é curso para primeira comunhão, crisma ou qualquer outro sacramento. Catequese é oportunidade para nos abrirmos a essa salvação, para experimentarmos esse amor redentor que Cristo nos disponibiliza. Como a catequese lida com esse mistério insondável do amor do Pai revelado em seu Filho encarnado, não poderíamos imaginar que ela é aula. O sistema escolar não dá conta do mistério; dá conta mais ou menos das ciências exatas e olhe lá, pois também quanto a isso há controvérsias. A catequese é ocasião para uma experiência existencial: quem experimenta o amor do Pai em Jesus, morto e ressuscitado, nunca mais será o mesmo. O encontro com Jesus muda a vida, e muda por dentro. É nessa comunhão de vida que está a força para superar o pecado, não no moralismo ou num monte de regras punitivas advindas da teologia do medo. A experiência do amor transforma a vida; faz a fraqueza virar força, como disse o apóstolo Paulo: “é quando sou fraco que sou forte...” (2Cor 12,10). Desejamos que os catequistas estejam prenhes deste amor e totalmente mergulhados neste mistério que nos transcende e do qual participamos. Assim, ajudarão seus catequizandos a dar passos importantes nesse sentido. Saberão entender suas quedas, suas fraquezas, seus pecados... mas não compactuarão com o pecado. Se o catequizando fizer de fato a experiência cristã de Deus, o pecado em sua vida será nada mais que mero descuido, um deslize. Imediatamente, a força do Ressuscitado o levantará e ele recomeçará ainda com mais vigor seu caminho, pois sua “opção fundamental” pela vida não terá sido desviada. Como bom discípulo de Cristo, retomará o caminho, como diz a poesia: “Se uma vez tu caíres sob o peso desse fardo que arrastas pela vida, ergue-te de novo e tão logo, ileso, recomeça a jornada interrompida. Se outra vez reincidires na caída e da fadiga se te vires preso, ante a angústia enorme da subida, levanta-te de ânimo mais aceso”. É assim que o pecado é superado; não com nossa força própria, mas com a força do Ressuscitado que nos ergue, sempre!
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