71. A família e seus desafios


Em tempos de Francisco, a Igreja é convidada a repensar sua pastoral familiar, assim como o conceito de família. O papa Francisco tem nos convocado para um exercício pastoral misericordioso, que nos obriga à acolhida de todas as pessoas, especialmente daqueles grupos cuja tradição eclesial até agora foi de culpar, excluir e discriminar.
Por muito tempo, era lugar comum dizer que os casais de segunda união estavam fora da comunhão com a Igreja. Isso nos dava o direito de excluir essas pessoas das diversas atividades paroquiais, desde ser padrinhos de batismo até ser leitores nas celebrações. Parecia-nos tão normal essa atitude, que muitos nem questionavam se esse casal vivia a fraternidade, se formava uma família feliz onde as relações são pautadas pelo amor. O simples fato de os cônjuges estarem unidos sem o sacramento do matrimônio era suficiente para uma condenação à exclusão eclesial.
O tempo foi passando e a gente foi vendo que nem tudo é tão claro como parece. Primeiro, muitos casais que receberam o sacramento do matrimônio não vivem a aliança jurada no altar. Logo, o sacramento por si só não é garantia de fidelidade um ao outro, nem aos filhos, nem a Deus. Segundo, muitos casais de segunda união vivem um amor admirável, numa relação respeitosa que só fazem bem um ao outro, aos filhos e ainda dão testemunho diante do mundo que o amor vale a pena. Terceiro, por que excluir quem, ao longo da jornada da vida, cometeu um equívoco em relação às suas escolhas e agora quer corrigi-las? Por que a escolha equivocada que envolve a relação sexual é mais grave que outras escolhas também não acertadas? Por que vitimamos casais de segunda união ou outros modelos de família e nos esquecemos de condenar com a mesma veemência a corrupção, a mentira, a trapaça, a maledicência?
Bom, a vida concreta mostrou que as regras eclesiais são boas, mas não são absolutas. Acima de toda lei está sempre o amor. O princípio da misericórdia, evocado por Jesus no Evangelho de Lucas na cena da pecadora que lava seus pés, deve ser continuamente reiterado nas nossas comunidades eclesiais. O mundo passa por mudanças gigantes. As pessoas adotam novos modos de pensar e de se posicionar na sociedade. É normal que as famílias também ganhem novas configurações. É hora de aproveitar o apelo do papa e começar a repensar nossos conceitos, nossa compreensão de família. Não seria o amor, o cuidado com o outro, o zelo e a fidelidade os critérios máximos da família? Ou seria o rito religioso a norma máxima que a regula? Como diz um slogan conhecido por aí: “família: meu pai, minha mãe, minha tia, aquele que cuida de mim todo dia”. Se Jesus não discriminou nem rejeitou nenhum daqueles que dele se aproximou, ao contrário, se ele acolheu a todos com amor, por que nós não iríamos fazer o mesmo? “Não é o discípulo maior que o mestre”, lembra-nos Jesus (Lc 6,40). Como bons discípulos, sigamos os passos do mestre, acolhendo as famílias nos seus diversos formatos. Tentar “moralizar” a situação não ajuda em nada. Com moralismos, caímos no descrédito, pois não é assim que funciona mais a relação das pessoas e do mundo com a Igreja. Já foi o tempo em que “a Igreja falou, água parou”. Agora as pessoas querem ser ouvidas, querem dar as razões de suas escolhas, querem ser responsáveis por suas próprias decisões. A relação Igreja-povo hoje é mais dialogal; não se admite mais uma palavra unidirecional da parte da Igreja, só porque ela fala em nome de Deus. Sabemos que Deus age no íntimo do coração humano, e não só na instituição-igreja. Acolher, dialogar, aceitar o dom de si que essas famílias ofertam é a melhor opção. Fica aí a dica.
Dica anterior: 70. Mortificações e penitências mil
Próxima dica: 72. Lendo o texto no contexto
-
280. “Tu lhes falarás minhas palavras – quer te escutem quer não – pois são uns rebeldes” (Ez 2,7)O anúncio da palavra da vida não se apresenta como tarefa fácil, mas sempre necessária apesar dos percalços. Fazer-...24.08.2020 | 1 minutos de leitura
-
279. “Não terás outros deuses além de mim” (Ex 20,3)Uma tentação que sempre perseguiu o povo da Bíblia é a de trocar o Deus da vida por ídolos, que prometem vida fáci...12.08.2020 | 1 minutos de leitura
-
278. “Toda a comunidade dos israelitas partiu para o deserto de Sin, seguindo as etapas indicadas pelo Senhor” (Ex 17,1)O deserto é lugar de desolação, de solidão, de prova, de abandono. Mas é também lugar do encontro com Deus e de fa...04.08.2020 | 1 minutos de leitura
-
277. “O Senhor disse a Moisés: Ordena aos israelitas para que mudem de rumo” (Ex 14,1)Sempre é tempo de mudar nosso destino e iniciar um percurso de recomeço. A pandemia e o distanciamento social que ela ...24.07.2020 | 1 minutos de leitura
-
276. “O ser humano tem a vida curta e cheia de inquietações. É como a flor que se abre e logo murcha” (Jó 14,1)A ligeireza da vida deveria ser para nós motivo para o bem-viver. O tempo passa tão rápido. Fechamos os olhos e quand...23.07.2020 | 1 minutos de leitura
-
275. “Deixa, pois, que alivie um pouco a minha dor” (Jó 10,20)A prece de Jó hoje é nossa. O peso da vida tem nos feito curvar e quase sucumbir. Rezamos todos os dias um rosário ...22.07.2020 | 1 minutos de leitura
-
274. “Acaso sou forte como as pedras? E minha carne será de bronze?” (Jó 6,12)Nesses tempos de crise sanitária por causa do coronavírus e de crise humanitária por causa do descaso do governo, é ...17.07.2020 | 1 minutos de leitura
-
273. “Que tipo de casa podereis construir para mim? Que lugar me poderia servir de pousada?” (Is 66,1b)Em tempos de pandemia, quando não podemos nos reunir para celebrar a liturgia eucarística, nunca é muito lembrar que ...03.07.2020 | 1 minutos de leitura
-
272. “Procurai o bem e não o mal para poderdes viver e para que assim o Senhor esteja convosco” (Am 5,14)O Deus da vida, amoroso e bom, nos dispensa seu amor e nos oferece sua graça sem exigir nada de nossa parte. Mas, para ...01.07.2020 | 1 minutos de leitura
-
3. Carta aberta à ComunidadeQuando receber a visita dos catequistas da paróquia, acolha-os com carinho. Se tem crianças ou jovens em casa, procure...14.02.2020 | 3 minutos de leitura
- 109. Mapear as necessidadesBasta a gente ter boa disposição e humildade para aprender.05.11.2020 | 4 minutos de leitura
- 108. Organizar para melhor servirPara se fazer uma boa pastoral é preciso planejamento e investimento. É preciso saber onde estamos e onde queremos chegar. Só aí podemos traçar o...21.10.2020 | 4 minutos de leitura
- 107. O caos pastoralNesses tempos de pandemia, por exemplo, não seria difícil acompanhar as famílias, os idosos, os doentes, os desempregados etc., se tivéssemos tudo...15.10.2020 | 4 minutos de leitura
- 106. Em tempos de pandemiaA pandemia revelou a fragilidade de nossa pastoral. Escorada em duas pernas de barro, os sacramentos e a devoção popular, nossa pastoral ruiu quando...13.10.2020 | 5 minutos de leitura
- 105. Sétima arte a serviço da fé cristãO cinema conquistou seu espaço no mundo da arte. Ganhou status, cresceu, caiu no gosto popular. Nos tempos idos, havia a magia da película projetada...14.06.2018 | 3 minutos de leitura
- 104. O bicho papão do comunismoNossa gente vive com medo do bicho papão do comunismo. Reforçam essa fantasia o tal segredo de Fátima, as ditas aparições de Nossa Senhora em Med...06.06.2018 | 3 minutos de leitura
- 103. Elogio à diversidadeFaz parte da cultura judaica a diferenciação. No primeiro relato da criação no Livro do Gênesis (1,1–2,4), essa diferenciação fica muito bem ...15.05.2018 | 3 minutos de leitura
- 102. Crendices e temores quaresmaisCom a quaresma chegam as crendices e os medos. Apesar de toda informação disponível hoje, não falta quem pense que esse tempo é mais perigoso que...28.03.2018 | 3 minutos de leitura
- 101. Penitências quaresmaisQuaresma: tempo de conversão e, por isso, tempo de penitência, ensina a Igreja. A penitência quaresmal ganha diversos formatos, especialmente nas p...14.03.2018 | 4 minutos de leitura
- 100. Rituais apenas10.01.2018 | 2 minutos de leitura