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5. Maturidade provisória ou santidade

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07.02.2014 | 5 minutos de leitura
Pe. Paulo Sérgio Carrara- C.Ss.R
Para Pensar
5. Maturidade provisória ou santidade

Não poucas vezes, enfrentamos à luz da fé a noite escura ou crise, marcada pelo advento do inevitável; eis uma etapa decisiva do crescimento em Cristo. Quem não enfrentou o sofrimento e se deparou com o inevitável, permanece imaturo e infantil na relação com Deus; não consegue sair da busca de gratificações sensíveis. Nesse caso, Deus se torna um mero “tapa-buraco” ao qual a pessoa recorre em busca apenas da realização de desejos egoístas. No fundo, busca apenas os bens de Deus e não o bem que é Deus. Amar a Deus por Deus mesmo é, segundo São João da Cruz, passo necessário na vida cristã. Ele nos quer adultos e conduz nossa vida para esse fim: uma relação responsável com ele, com o mundo e com os outros. Uma relação que se situa numa escolha firme e decidida, que envolve a liberdade e a consciência e independe de circunstâncias exteriores.
Quem passou pela crise e permaneceu fiel entra numa nova etapa, mais consistente e profunda, chamada “maturidade provisória”. O cristão descobre que a relação com Deus envolve o sentimento, mas não mais identifica Jesus e seu evangelho com o sentimento. E por uma razão muito simples: o Cristianismo é, antes de tudo, ‘revelação’, revelação em gestos históricos e em uma figura histórica: Jesus Cristo, plenitude da revelação. O plano de salvação de Deus se concretiza em Jesus: encarnação, morte, ressurreição. Uma objetividade que independe do sentimento. A fé é uma experiência de Deus em Cristo, a partir do Espírito. O Espírito nos insere no mistério pascal de Cristo. Tal experiência ultrapassa o sentimento religioso. Eis um erro grave, muito cometido hoje: pensar a fé como sentimento. As verdades da fé não são criações do sentimento. A fé é, por um lado, adesão existencial a Jesus. Por outro, acolhimento da revelação, ou seja, de tudo o que Deus nos revela em Jesus Cristo e que é ensinado pela Igreja e estudado pela teologia. Cristo e as verdades do evangelho não são inventados pela afetividade. Ao contrário, o sentimento se submete à verdade de Jesus Cristo.  Reduzir a experiência de Deus a sentimento significa esvaziar a revelação, que se tornaria um fato relativo e subjetivo. As afirmações da fé: a graça, o pecado, o homem como criatura de Deus destinado à comunhão com ele, a divindade e humanidade de Jesus, a presença real de Jesus na Eucaristia, a maternidade divina de Maria enquanto a que gera o Verbo na nossa humanidade, por exemplo, independem de nossos estados afetivos. Portanto, a crise ou noite escura ensina que a adesão a Jesus e a sua proposta, o Reino, permanece também nas horas difíceis, nas noites escuras da vida. Justamente nas dificuldades se faz necessária uma maior submissão à vontade de Deus. Quem age assim atravessa a crise e sai fortalecido, menos dependente das mediações sensíveis. Sua experiência, embora afetiva, se alicerça na fé e na caridade e se caracteriza mais pela busca da vontade de Deus do que da própria vontade. Passadas as trevas da noite, abrimo-nos a uma esperança mais teologal, ou seja, mais fundamentada na fé do que em perspectivas meramente humanas.
O longo processo de crescimento em Cristo que começou com o batismo culmina na maturidade. Mas também esta maturidade se revela apenas um momento do processo de santificação. Trata-se de uma santidade a caminho, portanto compreendida como “maturidade provisória”, que não conclui o processo ou o paralisa, mas o leva adiante. Às vezes idealizamos os santos, vendo em sua vida uma plenitude terrena com a qual parecem ter nascido. Ignoramos o longo processo de amadurecimento da fé que atravessaram ao longo da vida até chegar a ser o que se tornaram. Como se, por uma graça especial, fossem santos quase de modo automático, por causa de um estranho privilégio da graça. Além disso, é como se sua vida praticamente não tivesse horizontes ulteriores, desde que foram considerados. Os santos, no entanto, sempre afirmaram o caráter provisório e dinâmico de sua experiência. Deus pôs a santidade no amor de comunhão e de serviço com relação a Ele e aos homens, e é precisamente aqui que o santo a encontra. O santo unifica em Deus a sua vocação, vida, serviço, sofrimento, qualidades e limites. Jesus e seu evangelho se tornam o valor supremo a partir do qual fazem suas escolhas e as vivem, sejam quais forem as circunstâncias interiores. São João da Cruz aconselhava: “Fixa os olhos em Jesus Cristo, em quem o Pai disse e revelou tudo”. Cristo, presente em nossa vida através do Espírito, é a motivação verdadeira da vida espiritual. O crescimento significa sempre uma adesão mais profunda a ele. A maturidade se identifica com certa estabilidade na relação com ele. Isso é a santidade. O que chama a atenção num santo não são seus feitos extraordinários, mas a unidade realizada entre o trabalho do Espírito que age nele e a criatividade pessoal como livre colaboração. Sua maturidade-santidade não é uma mágica, mas obra da graça e da liberdade em sua vida. Mas a “maturidade provisória” não é, ainda, a etapa final do processo, que tende sempre para uma plenitude. Quando termina o crescimento em Cristo? Seu ponto final é a morte e a glorificação.

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