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17. O CREDO: Creio em Deus Pai todo-poderoso (1)

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18.06.2015 | 7 minutos de leitura
Pe. Paulo Sérgio Carrara- C.Ss.R
Para Pensar
17. O CREDO: Creio em Deus Pai todo-poderoso (1)
Creio em Deus: Creio em um só Deus

Continuando nosso comentário teológico-espiritual ao Credo, passemos à sua primeira afirmação: “Creio em Deus Pai todo-poderoso” (conforme o Símbolo Apostólico). O Símbolo Niceno contém pequeno acréscimo: Creio em um só Deus. Por que a especificação um só Deus? No AT, o povo vivia tentado pelos ídolos pagãos, deuses falsos aos quais alguns prestavam culto a fim de conseguir favores (cf. 1Rs 21). Os ídolos são deuses manipuláveis segundo necessidades egoístas. Depois, em seu encontro com a cultura grega, os cristãos se depararam com o politeísmo, crença na existência de vários deuses. Talvez por isso a precisão: creio em um só Deus. O único Deus é aquele revelado em Jesus Cristo: Pai, Filho e Espírito Santo. São três pessoas numa unidade de essência. A palavra é difícil, mas o significado nem tanto: a diferença está nas pessoas que estão unidas entre si por uma mesma substância. O cristianismo se caracteriza como monoteísmo trinitário: cremos em um só Deus que são três pessoas (comunhão e autodoação absolutas). Deus é amor antes mesmo de se manifestar a nós. Se cremos em um só Deus e nossa fé é autêntica, renunciamos à idolatria do prazer, do ter, do poder; deuses falsos aos quais não queremos prestar culto. Infelizmente,muitas vezes, num vacilo, nos entregamos a esses deuses com uma confiança total e inabalável. Eis a origem de todos os males.


Creio em Deus Pai

Como sabemos que Deus é Pai? A resposta é simples: assim Jesus nomeou Deus. O termo Pai, no AT, aparece atribuído a Deus algumas poucas vezes, sempre em sentido metafórico. Deus é Pai porque libertou o povo do Egito e fez com ele uma Aliança no deserto, ou seja, Ele agiu como se fosse um Pai para Israel. No NT, o termo Pai é a palavra que melhor designa Deus. E tal utilização vai crescendo à medida que, nos Evangelhos, vão sendo escritos: 4 vezes em Marcos; 17 em Lucas; 30 em Mateus; o recorde fica com João, 120 vezes. Jesus jamais se dirige a uma divindade ou a um poder supremos. Seu Deus é uma pessoa que ele chama de Abba (Paizinho). No NT, Deus é Pai e tem um único Filho: Jesus Cristo.


Jesus tem um modo muito especial de se relacionar com Deus. Sua vida encontra sua explicação última no mistério do Pai, fonte de seu ser, de sua vida, de seu agir. Os cristãos das primeiras comunidades, ao pronunciarem o nome de Deus, pensam no Pai de Jesus Cristo. Se Jesus é o Filho de Deus, Deus deve ser chamado de Pai (cf. 2Cor 1,19; Gl 2,20). São Paulo atribui sua conversão ao fato de Deus ter nele revelado o seu Filho: “Houve por bem revelar em mim o seu Filho” (Gl 1,16). Deus enviou seu Filho na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,40). Há muitos textos que qualificam Deus de Pai: “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo” (2Cor 1,3). “Existe um só Deus, o Pai, de quem tudo procede e para o qual caminhamos, e um só Senhor Jesus Cristo, por quem tudo existe e para quem caminhamos” (1Cor 8,6). O nome Deus, no NT, indica aquele que é o Pai de Jesus Cristo.


O evangelista João tem preferência pela designação Pai. O Deus do Quarto Evangelho é aquele do qual Jesus é o Filho (cf. Jo 5,25; 10,36; 11,4). O Pai envia o Filho ao mundo(cf. Jo 13,16). Jesus veio do Pai (cf. Jo 8,42; 16,28). Deus e Pai são palavras que, para João, querem dizer a mesma coisa. O Verbo (Jesus) desde sempre estava com Deus (cf. Jo 1,1). O Filho unigênito está no seio do Pai (cf. Jo 1,18). Só o Filho viu o Pai (cf. Jo 6,46). Na páscoa, Jesus passa deste mundo ao Pai (cf. Jo 13,1; 20,17). A revelação do Pai se dá no Filho que ele mesmo enviou. E não há outra razão para esse envio, a não ser o amor de Deus: “Nisto se manifestou o amor de Deus por nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo para que vivamos por ele” (1Jo 4,9). Antes de vir ao mundo, Jesus, o Verbo, já era o Filho e estava numa relação de amor com o Pai. A encarnação de Jesus significa que o Filho assumiu a nossa humanidade. Desde então, nossa humanidade está no Filho – e estará para sempre.


A relação de Jesus com seu Pai se mostra tão especial, que ele fala de Deus como meu Pai e vosso Pai. No Evangelho de João, no relato da aparição do Ressuscitado a Maria Madalena, Jesus ordena: “Vai, porém, a meus irmãos e dize-lhes: subo a meu Pai e vosso Pai; a meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17). Também em Mateus Jesus utiliza as expressões meu Pai e vosso Pai: “Se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedem!” (Mt7,11); “nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Esses exemplos mostram que, de fato, a relação de Jesus com o Pai, que aparece, sobretudo, nas suas orações, tem um caráter único. Apesar de Jesus afirmar que Deus é Pai de todos, ele revela que Deus é, antes de tudo, seu Pai.


Creio que Deus é nosso Pai

Jesus é, desde toda a eternidade, o Filho de Deus. “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho Unigênito que está no seio do Pai é que abriu caminho para ele” (Jo 1,18). Mas o Filho único, ao assumir nossa condição humana, nos deu acesso à paternidade de Deus e nos tornamos também filhos de Deus. Jesus, enquanto primogênito, foi gerado primeiro para se tornar irmão de muitos (cf. Rm 8,29). Quem foi batizado no Cristo se revestiu de Cristo (cf. Gl 3,26). Segundo Paulo, os cristãos são constituídos filhos de Deus por adoção (cf. Rm 8,14-17), porque se tornam filhos no Filho. A filiação dos cristãos é uma filiação real, porque em Cristo nos tornamos verdadeiros filhos de Deus. A filiação do cristão é carregada de realismo: “Vede que manifestação de amor nos deu o Pai, sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos!” (1Jo 3,1). Somos nascidos de Deus (cf. Jo 1,12-13; 3,1-11; 1Jo 2,29–3,10; 4,7; 5,1; 5,18). O Filho nos comunica sua filiação e, nele, somos filhos e podemos chamar Deus de Pai.


Que tipo de pai Deus é? Em Lc 15,11-32, Jesus nos conta uma parábola sobre o pai que acolhe o filho que se perdera. Acolhe com amor, ternura, benevolência e misericórdia infinita. Podemos, então, confiar num Pai que trata dessa maneira seus filhos. Ele só quer e só faz o que é melhor para nós. Seu perdão fica à nossa disposição, basta que o aceitemos para que aconteça em nossa vida e a transforme. Faria bem a nossa espiritualidade se aprendêssemos a chamar Deus de Pai com toda confiança filial. Isso encheria nosso coração de alegria e daria uma orientação mais otimista à nossa vida, fundada na bondade de nosso Pai que nos chamou à vida e nos quer bem.