12. Ensinamento de Santo Afonso sobre a oração: A meditação


Santo Afonso vê a oração como o melhor caminho para o encontro verdadeiro e íntimo com Deus. Quem a procura com as disposições devidas, faz a experiência da salvação, graça que Deus concede aos que o buscam de coração sincero. Humildade e confiança garantem a autenticidade da oração. O ser humano, para se encontrar com Deus, parte sempre da sua precariedade, enquanto está constitutivamente referido a Deus. Dele recebe o ser e a vida. Além disso, ao fazer a experiência do seu pecado, descobre que não produz sua salvação, mas a recebe como graça.
Nosso doutor insiste ainda no desapego como condição necessária para a oração. Em italiano, Afonso chamou o desapego de “distacco”, que significa o abandono dos falsos valores que ameaçam tomar o lugar de Deus em nossas vidas. “Onde Deus falta, outras coisas são feitas Deus”, afirmou o grande psiquiatra judeu Victor Frankl. Quando o homem não se encontra verdadeiramente com Deus, acaba tornando-se escravo dos ídolos de suas preferências. O encontro com Deus, através de seu Filho Jesus Cristo que a oração mediatiza, exige desapego da criatura e atenção ao Criador. As criaturas, enquanto criadas por Deus, são boas, porém o apego exagerado a elas atrapalha a busca d’Aquele que é sua origem última. O apego desordenado a pessoas, coisas, poder, posições não deixa a relação com Deus fluir.
Estabelecidas as bases para a oração, resta a pergunta: como realizá-la? Santo Afonso é prático, propõe que seja feita em três momentos distintos: preparação, meditação e conclusão. Na preparação, o orante faz um breve ato de fé em Deus, de humildade e de contrição. Reconhece-se, pois, pecador diante de Deus e necessitado de sua misericórdia. Em seguida, pede a luz a Deus para aquele momento. Entra assim no âmbito das “coisas de Deus”, o que supõe mudar a frequência, passando das ondas do burburinho da vida cotidiana para as ondas da transcendência.
A medição constitui o segundo momento e segue quatro movimentos distintos. Primeiro: refletir sobre um detalhe da fé encontrado nas Escrituras ou num bom livro espiritual. Após degustar o texto, pergunto-me: o que ele me ensina sobre Deus e sua vontade? Que novidade traz à minha vida cristã? Segundo: Elevar o coração e o afeto a Deus em atos de amor e contrição. Afonso propõe que oremos com todo nosso ser, portanto, também com o coração. Nossa relação com Deus precisa ser afetiva. Movido por sua Palavra, pelo mesmo Espírito que a inspirou e agora interpela a minha vida, ouso conversar com Deus e a ele me dirijo com a um amigo. Abro-lhe o meu coração sem reservas. Terceiro: elevar a Deus louvores e súplicas. Apresento-lhe as minhas necessidades, não para curvá-lo à minha vontade, mas para mostra-lhe a minha fragilidade. Posso pedir-lhe graças específicas, sem esquecer-me de lhe manifestar o desejo de acolher a sua vontade para minha salvação, bem supremo que ele me concede. Quarto: Tomar uma decisão prática que me ajudará no meu caminho com Deus. A verdadeira oração transforma, por isso, antes de terminá-la, pergunto-me: o que o Senhor me pede em relação à minha vida e à minha ação no mundo? Que decisão me inspira este momento de intimidade com Deus?
E aí vem a conclusão. Termino agradecendo a Deus iluminações recebidas; afirmo minha resolução de respeitar a decisão tomada e peço a Deus a graça da fidelidade.
Afonso nos encoraja, ainda, a rezar pelos outros, amigos, parentes, pessoas que se recomendaram a nós. Nosso santo crê na força da intercessão. Dá-nos também conselhos para enfrentar distrações e aridez. Quanto à distração, aconselha-nos a eliminá-la com calma e serenidade, reconhecendo-a por aquilo que é. É mera nuvem que passa e apenas ofusca o sol da graça de Deus que brilha sempre. A aridez ocorre quando estamos amadurecendo na vida espiritual, que não depende de consolações sensíveis. A aridez prova a qualidade da nossa adesão a Deus. A perseverança nos levará a bom termo.
Para finalizar, lembremos que nosso doutor respeita a dimensão trinitária da oração. O Espírito Santo nos faz orar. Nossa oração se dirige a Cristo ou ao Pai. Como Cristo nos ensinou, ela se dirige preferencialmente ao Pai, porque assim como participamos de sua filiação, participamos de sua oração. O Espírito nos configura a Cristo. Em Cristo clamamos “Abba, Pai”. A oração, em última instância, cumpre seu papel se fortalece nossa comunhão com Cristo, que nos leva ao Pai. Ela nos introduz no próprio mistério do Deus Uno e Trino. Revela-se, pois, o “grande meio da salvação”, como gostava de repetir Santo Afonso.
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