11. O livro de Miqueias: Deus não tolera o mal


O livro de Miquéias, apesar de ser a princípio um texto meio retalhado, chama a atenção pela força de seus oráculos. São somente sete capítulos, mas a força de sua mensagem impressiona. O profeta, que provavelmente atuou entre os anos 740 a 700 aC – época dos reis Acaz e Ezequias –, não faz vistas grossas sobre a situação de injustiça que campeia sobre Judá e Israel. Logo nos primeiros capítulos, suas denúncias contra Jerusalém (capital de Judá – Reino do Sul) e contra a Samaria (capital de Israel – Reino do Norte) já impressionam o leitor. Deus vê os crimes de Judá e Israel e não fica indiferente a isso; por isso é preciso profetizar contra as lideranças, alertando-as de que o Senhor não tolera o mal que vem sendo feito contra sua gente. E pior! Os opressores do povo não são estrangeiros, inimigos da vizinhança, nem povos vindos de longe para saquear e matar. Os inimigos são as lideranças; aqueles que deveriam amparar e defender o povo oprimem-no e exploram-no. Isso já é demais para o profeta; não dá para ver isso e ficar calado!
Miquéias vai abrir a boca e denunciar as injustiças. Os ricos não descansam no desejo de crescer e explorar o povo para se enriquecer ainda mais. Deitados em sua cama, planejam suas maldades: arquitetam um modo de roubar as terras e de invadir as casas (cf. 2,1-2). Os profetas, que deveriam denunciar o mal, ora se calam, ora profetizam falsamente prejudicando os pobres; assumindo o papel de inimigos do povo! (cf. 2,8). Os dirigentes arrancam o couro dos justos em vez de fazer a justiça prevalecer (cf. 3,1-4); vendem-se por qualquer propina (cf. 3,11). E até os sacerdotes – que vergonha! – entraram no jogo da defesa de seus próprios interesses: instruem em busca de lucro; advinham em troca de dinheiro e – o que é pior ainda – tudo isso em nome de Deus! (cf. 3,11).
Miquéias não se cansa de listar as falcatruas e as maracutaias que vê no meio das lideranças. Sua coragem impressiona. Mas nem tudo são espinhos: alguma esperança resta para Israel e Judá porque o Deus fiel – vendo tudo isto e se indignando com tais atitudes – vai dar jeito de agir e mudar a sorte de sua gente. Os capítulos 4 e 5 trazem belas promessas de restauração: Deus vai ajuntar seu povo por meio de sua palavra e a força bélica e destruidora vai dar lugar à força de trabalho (cf. 4,1-2); cada pessoa poderá ficar tranquila debaixo da figueira – certamente meditando a Torá – sem ser incomodada por ninguém; do resto de Israel, Deus vai fazer um povo; de Belém, a menor das cidades, vai sair o governante de Israel, aquele que vai apascentar o povo com Justiça; finalmente, o povo estará feliz e seguro (cf. 4,3-4; 5,2-5). Mas, se Deus vai agir em favor do seu povo – que ninguém se engane! – também vai punir os maus; afinal, ele não tolera o mal; a exploração do pobre e a injustiça lhe causam horrores (cf. 6,9-13).
Ao final, uma bela promessa: Deus vai perdoar sua gente, pois não há Deus igual a ele. O Senhor tira o pecado e passa por cima dos erros; calca as culpas do povo para o fundo do mar; ele – por causa de seu amor – vai dar fidelidade à sua gente.
Ecoa ainda forte e vigorosa, a voz de Miquéias no meio de nós. Até parece que nosso profeta, vindo de Morasti, na verdade vive entre nós e assiste os noticiários da TV e lê as notícias escabrosas de nossos jornais. Propinas, mensalões, corrupções, licitações falsas... Será que os pecados de nossos governantes continuam os mesmos? E o que dizer dos profetas que usam suas influencias para tirar lucro? E o que pensar das lideranças religiosas que, em nome de Deus, molestam crianças, enganam os pobres e se enriquecem às custas da exploração do povo? O que fazer diante dos ricos que, deitados preguiçosamente em divãs ou internados em spas, gastam suas vidas com futilidades e vivem às custas de explorar o trabalhador? Temos saudades de Miquéias e de sua coragem. Perdidos como estamos diante de tanta injustiça, o texto de Miquéias pelo menos nos faz acordar para o problema. Que todos fiquem sabendo: Deus não tolera o mal e não compactua com os injustos. É melhor abrir os olhos e procurar a conversão, pois sua misericórdia é infinita. Mas ele não vai fazer vistas grossas para a exploração do pobre que campeia entre nós.
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