7. Raízes do déficit de iniciação


Hoje trataremos das raízes do déficit de iniciação. Se está faltando algo, há uma dívida. E essa dívida da Igreja com sua gente não é de hoje. Há muito escutamos falar que os católicos foram batizados e não evangelizados. O Documento de Aparecida falou muito sobre isso. Mas quando foi que a Igreja se esmerou em dar os sacramentos e se esqueceu de investir seus melhores dons na evangelização? Por que a prática sacramental se firmou e a prática evangelizadora arrefeceu? Vejamos! No período da cristandade, quando o poder temporal (o Estado) e o poder espiritual (a Igreja) estavam unidos, a cultura, o meio social e político, tudo era permeado pela fé cristã. Tudo falava de Deus, de Jesus, da Virgem Maria... Os pintores se inspiravam na religião para retratar sua arte, os melhores músicos usavam sua intuição musical e genialidade para produzir peças religiosas, os arquitetos e pedreiros construíam belas catedrais, os reis assumiam posturas religiosas arrebanhando grupos atrás de si... O ar respirado estava impregnado de sinais do cristianismo. Logo, para ser cristão não era preciso muita coisa: nascia-se numa família cristã e a fé era naturalmente herdada dos pais. Ela passava de pai pra filho. E parecia que isso bastava! A evangelização não era uma urgência. Para que evangelizar, se a pessoa já “nascia cristã’? Bastava dar os sacramentos para celebrar a fé que a família se encarregava de transmitir. No máximo, fazia-se uma catequese para burilar a fé, ou seja, para esclarecer pontos doutrinais e morais. E isso parecia suficiente.
Com o passar do tempo, a cristandade foi desbancada pela modernidade, que rejeitou todo traço religioso e trouxe a secularização que hoje presenciamos. A Igreja e o Estado se separaram. Cada qual passou a ter seu estatuto, sem que um dependesse mais do outro. Foi aí que a coisa desandou. Não que a modernidade seja má e queiramos retomar a cristandade. Não. Mas, para novos tempos, novos métodos são necessários. Se chegou novo tempo, a evangelização precisava de novos rumos. Porém, acostumada à cristandade, a pastoral católica continuou seu ritmo, sem muito se preocupar com as novidades que se impunham. Não houve grandes mudanças pastorais: continuamos batizando as crianças como se as famílias ainda fossem cristãs e como se elas transmitissem a fé a seus filhos; insistimos na primeira comunhão de crianças sem nos preocupar com os adultos nos quais deveriam ser investidos os melhores esforços da evangelização. E assim foi. Transmitimos costumes religiosos, conservamos a piedade religiosa, aprendemos orações e até mantivemos o costume de receber os sacramentos. Mas isso não basta para se ter fé. A fé é uma reposta pessoal que se dá a Deus, não um pacote automaticamente herdado do meio em que vivemos. Uma vez recebida a cultura cristã, mas não a fé cristã, implantou-se o déficit de iniciação. Ou seja, as pessoas não estão suficientemente iniciadas na fé a ponto de poder dar sua resposta pessoal a Deus, mesmo já estando inseridas na vida religiosa que a Igreja disponibilizou para elas. Falaremos mais disso no próximo post.
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