78. A cadeira do presidente


Tenho observado por onde ando a serviço pastoral uma estranheza: em algumas comunidades, há um verdadeiro trono em lugar de uma simples cadeira para o presidente da celebração. Eu fico a me perguntar o que há por trás disso. Não sei se são exigências do presbítero ou se é reverência do reverência ao ministro ordenado. Só sei que essa prática está ficando comum. Às vezes, chego em comunidades de periferia, com templos bem simples – pobres até! – mas lá está a cadeira do presidente da celebração toda pomposa como se fosse um trono de um rei. Nada contra a deferência ao ministro ordenado; nem mesmo contra o reconhecimento aos seus serviços prestados à comunidade – serviços muito úteis e benéficos na maioria das vezes. Mas, quando a gente pensa que já superou com o Vaticano II aquela mentalidade hierárquica da Igreja, esses pequenos símbolos nos lembram que a “Igreja povo santo e sacerdotal” é apenas um sonho. Perdura ainda uma eclesiologia estranha, de reverência e submissão ao ministro ordenado, em detrimento da eclesiologia que realça a dignidade de todos pelo batismo. Muitas vezes, essa imagem destacada do ministro ordenado – que insiste em ser chamado de sacerdote em vez de presbítero, como se o povo também não fosse sacerdotal – vem do próprio ministro. Ele exige ser tratado assim, exige que o povo tome a bênção, que se incline para receber a bênção de suas mãos sacerdotais, que o reconheça como a figura de Cristo na terra. E, por isso, exige uma cadeira especial. Isso é lamentável! Outras vezes, é nossa gente simples mesmo que insiste em colocar o presbítero num pedestal. Tendo sido formada na eclesiologia que precedeu o Vaticano II, não consegue se descolar dessa mentalidade e insiste em “divinizar” o padre. Para isso usam palavras de São João Maria Vianey, que teria dito mais ou menos assim: “Se um anjo de Deus me aparecer e, ao mesmo tempo, estiver ao meu lado um ministro ordenado, deixo de cumprimentar o anjo para cumprimentar o padre, pois ele é a figura de Cristo na terra”. Não sei se São João Maria Vianey falou mesmo isso – o que não duvido, pois é um homem do século XVIII –, mas, em pleno século XXI, a gente continuar com esse argumento, não parece muito razoável. Aos ministros que insistem em receber lugar de destaque, lembremos os conselhos de Jesus nos Evangelhos: “entre vós não deve ser assim” (Mt 20,26), “ o maior deve ser o menor” (Lc 22,5), “quem quiser ser o maior seja o servo de todos” (Mt 23,11) etc. Lembremo-nos: nos Evangelhos, Jesus ganha o título de rei apenas uma ou duas vezes e, quando quiseram proclamá-lo rei, ele saiu de mansinho e se retirou para um lugar deserto (Jo 6,15). Mas o título de servo lhe é recorrente. Quem quiser ser reconhecido como outro Cristo não mude a cadeira do presbitério; mude o seu modo de ser, servindo os mais fracos, acolhendo os pequenos, amparando os necessitados, eliminando seus preconceitos, vencendo suas vaidades... O Cristo é o servo de todos. Foi assim que viveu Jesus. Fica aí a dica!
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