49. Celebração da Palavra


Não são poucos os lugares onde há escassez de presbíteros e a celebração da Eucaristia é coisa rara. Nos finais de semana, o povo se ajunta a rezar, revelando uma fé bonita e um desejo enorme de fazer sua comunhão com Deus. Sendo muito mais sábio do que podemos imaginar – não por formação teológica suficiente, mas por puro bom senso e juízo –, o povo intui que a Eucaristia não é o único modo de fazer comunhão, de cultivar sua amizade com Deus. E, em torno de outros símbolos, nossa gente se reúne e reza com vontade. Reza o terço, reza o ofício divino das comunidades, ladainhas, benditos... E reza, principalmente, a Palavra de Deus, partilhando suas angústias e esperanças.
A celebração da Palavra presidida pelo leigo – mais conhecida como culto e essa expressão é bem adequada, pois significa cultivo – costuma ser desmerecida por alguns desavisados que insistem em dizer que não há mistério maior que a Eucaristia e que, por isso, a missa tem mais valor que o culto.
Bom, que a Eucaristia é um mistério insondável, maravilhoso, nenhum cristão com juízo duvida. Mas esse negócio de dizer que um mistério é maior que outro, um sacramento é maior que outro é, no mínimo, estranho – pra não dizer absurdo. Com que critério medimos os sacramentos? Haverá um “medidor” capaz de mostrar em qual momento Deus se faz mais presente? Ora, claro que não! Deus está presente sempre e se a Igreja escolheu sete sinais para dizer essa presença não foi para reduzir a presença de Deus, mas exatamente o contrário: para dizer da plenitude (sete) de seu amor e de sua presença viva entre nós.
Além disso, lembremo-nos: antes de os sete sacramentos serem instituídos (definitivamente no século XVI, em Trento), a presença de Deus não era menos eficaz. Ao contrário, Deus sempre acompanhou seu povo. E toda dádiva, todo símbolo importante era visto como sinal de sua presença.
Por exemplo, a Palavra de Deus é um sacramento, mesmo não fazendo parte da lista dos sete sacramentos. Sacramento é tudo aquilo que nos revela o mistério de amor do Deus uno e trino. Ora, a Palavra de Deus nos comunica a presença dele com eficácia. Ela toca nosso coração, nos interpela. Deus se comunica; se diz a nós revelando que está sempre conosco. Então, ainda que a Eucaristia não seja celebrada, se o povo se reúne em torno da Palavra de Deus para acolher o que ele diz, para partilhar e orar, então Deus está presente. E que ninguém diga, por favor: “Ele está mais presente na missa, porque é celebrada a Eucaristia!”. Não é possível Deus estar mais presente ou menos presente. Em qualquer sinal que nos comunica Deus, Deus está todo presente, pois ou ele está conosco ou não está. Não é possível Deus se dar pela metade. Pela fé, sabemos que ele está com a gente, sempre.
Então, pra que os sacramentos? Ora, os sacramentos não são para Deus ficar mais presente em nossa vida (pois ele já está conosco), mas para que nós – por meio dos símbolos e ritos – percebamos mais e melhor sua presença. A presença de Deus é sempre real e eficaz. A pluralidade dos sinais apenas revela aspectos ou faces dessa multiforme presença. Isso não torna um maior que outro, mas cada qual portador de uma riqueza própria da presença, por meio dos distintos sinais sacramentais... Sua presença precisa ser celebrada por nós, seu povo. Se a gente não para um pouquinho para afinar nossa percepção, acabamos nos descuidando e esquecendo que ele é o Deus-conosco. Daí a importância dos sacramentos: eles não deixam a gente esquecer essa presença constante do Senhor.
Na celebração da Palavra, Deus está presente tanto quanto na celebração da Eucaristia. São modos diferentes de dizer a presença, mas é o mesmo Deus quem age, se manifesta, entra em comunhão conosco por causa de seu amor. Assim, sendo culto (com o leigo) ou missa (com o ministro ordenado), a presença de Deus está garantida. Seria bom, então, ajudar o povo a perder seus preconceitos com a celebração da Palavra. É importante insistir, ensinar, motivar, orientar... Se o próprio ministro ordenado desvaloriza o culto dizendo que a celebração eucarística é mais importante, o povo não vai aprender; não vai valorizar outras celebrações. O problema, na verdade, não é se a Eucaristia é maior ou igual a Palavra de Deus. No fundo, a questão é outra: é se o leigo é digno e capaz de celebrar a presença do Senhor como o ministro ordenado. Mas isso são outros quinhentos e merece mais tempo para ser discutido. Fica aí a dica!
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