42. Missa de sétimo dia


Falemos hoje sobre as missas de sétimo dia.
Não é incomum nossa gente querer rezar por um parente ou um amigo falecido, quando se completam sete dias de sua morte. E são sete dias mesmo, contadinhos nos dedos da mão. E ai do presbítero que se negar a fazê-lo; terá comprado boa encrenca com sua gente.
Primeiramente, vejamos. De onde vem o costume de se rezar a missa de sétimo dia? Parece que tudo começou quando, na ausência do presbítero para celebrar a missa de corpo presente (ou seja, enquanto ainda não se enterrou o morto e não necessariamente com o morto no local da celebração), a Igreja propôs a celebração da Eucaristia na oitava do passamento da pessoa, ou seja, na semana que se segue ao falecimento.
Quando as paróquias eram pequenininhas e todo mundo era católico, para cada pessoa que morria, o presbítero era convocado – como um bom pastor – a se fazer presente, apoiando a família na hora da dor. Ora, o presbítero não só ia lá e dava as condolências, mas animava a família por meio da fé, enchia-a de esperança cristã, orando pelo irmão falecido e pela família. Daí todos se reuniam na igreja, antes de enterrar o defunto, para encomendá-lo a Deus por meio da última prece: a missa. Com o passar do tempo, tal prática ficou impossível pelo aumento do número de pessoas. Surgiu a missa de sétimo dia. Depois, com a chegada da secularização, as famílias foram se distanciando da fé católica, mas o costume de rezar a missa pelo falecido perdurou mesmo entre os católicos mais afastados da fé cristã. E perdura até hoje.
Em segundo lugar, é bom esclarecer por que a Igreja escolheu sete dias e não seis, oito ou vinte ou outro número qualquer. O número sete é muito importante para nós cristãos. Ele designa perfeição, e por isso também lembra descanso e repouso. Conforme o relato da criação em Gn 1, Deus criou o mundo trabalhando seis dias e, depois, no sétimo, descansou (cf. Gn 2,1-4). Ora, certamente Deus não ficou cansado, nem mesmo fez o mundo assim como está dito ali, pois aquele texto é uma poesia, uma metáfora, para falar que a vida vem de Deus, que somos obra de suas mãos. O que o autor quis dizer é que Deus nos ama tanto que fez tudo belo e perfeito, destinando-nos para o sétimo dia, ou seja, o repouso nele. Ele mesmo é nosso repouso; nele se encontra nosso descanso, nossa vida plena. Então, a missa de sétimo dia significa que a pessoa encontrou descanso em Deus; que sua felicidade e perfeição estão nele. Rezar a missa de sétimo dia não é cumprir um preceito, nem fazer um rito supersticioso, mas num gesto de entrega da fé, confirmando que a pessoa que morreu descansa em Deus, aquele que a criou.
Se é assim, esse número sete não é matemático. Não é aquele que vem depois do seis e antes do oito; é um número teológico. Logo, a missa de sétimo dia pode e deve ser rezada a qualquer dia, quando a comunidade puder se reunir para fazer memória ao irmão falecido, lembrando sua fé e recordando a alegria de ter compartilhado de sua existência. Não é necessário que a missa seja exatamente no sétimo dia.
Só pra ilustrar, há quatro anos atrás faleceu minha mãe numa quarta-feira, sendo enterrada na quinta. E, numa destas tragédias que a vida reserva, uma de minhas irmãs infartou e morreu na segunda seguinte. Mal tínhamos enterrado minha mãe e já tínhamos minha irmã para enterrar. Foi um golpe duríssimo para todos nós, ainda mais porque a morte foi repentina e minha irmã era ainda nova. A missa de sétimo dia de minha mãe estava marcada para a terça-feira, sete dias certinho depois da morte dela e um dia depois da morte de minha irmã. Sugeri trocar: ninguém tinha condições de se reunir para rezar no dia seguinte; estávamos mortos de cansaço e sem forças para chorar mais no reencontro emocionado dos parentes. Meus familiares mais próximos entenderam minha explicação que o número sete era teológico, que podíamos rezar em outra data. Marcamos a missa de minha mãe e de minha irmã para a mesma data, num dia qualquer que favorecesse a todos e quando a gente já estava mais em condições para fazê-lo. Foi tranquilo para alguns, mas não faltou quem criticasse a falta da missa de sétimo dia de minha mãe.
Que o povo tenha reações, é normal. Mas que a gente se canse de formá-lo, aí é bem estranho! Não custa tentar formar o povo: fica aí a dica!
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