28. O mistério pascal na catequese


A pedagogia da iniciação tem como ponto de partida o mistério pascal. Um mistério não se esgota, não se desvenda, não se decifra, nem se resolve. Ele não é um problema que precisa de solução. Sua existência não atrapalha a vida, ao contrário, dá-lhe significado. Assim, não faz sentido que a relação de uma pessoa com o mistério seja intelectual; ao contrário, ela deve ser humilde e contemplativa, como quando se acolhe um dom, algo que é ofertado gratuitamente sem nenhum merecimento. E, quanto mais alguém é mergulhado no mistério, mais percebe sua grandeza e mais o admira. Esse mergulho é feito por meio de uma porção de ritos e símbolos, que comunicam o mistério, e não por meio de estudos e deduções lógicas. Trata-se de uma experiência do coração que a liturgia, a partilha e a comunhão prazerosa favorecem.
Na fé cristã, lidamos com muitos mistérios; o mistério da Criação, o mistério da Encarnação, o mistério da Santíssima Trindade, o mistério da Páscoa etc. De todos eles, o mistério pascal é o mais central. Tudo converge para ele é e é por ele que somos mergulhados nos outros. É na vida, morte e ressurreição de Jesus que sua encarnação tem o ponto mais culminante. É na sua morte e ressurreição que a criação inteira ganha plenitude. É na sua morte e ressurreição que conhecemos a Trindade de amor.
O mistério pascal não é um anexo à fé cristã, um detalhe que lhe dá colorido. Não! O mistério pascal é o que a fé cristã tem de mais genuíno, de mais único, de mais particular. Na morte de Jesus, o nazareno, Deus mostra as injustiças desse mundo, mostra a magnitude do mal e a iniquidade dos juízos dos homens. E, na sua ressurreição, Deus toma o partido dos sofredores, julga os algozes de seu Filho e de todos os injustiçados, e exige de nós tomar partido nesse processo. No mistério pascal, Deus se revela amor e fidelidade. Ele nos comunica que está conosco todos os dias e que a fidelidade, mesmo ao preço da morte, deve ser mantida. Ele nos mostra que, para se morrer com liberdade, é preciso ter vivido por amor, no amor. Na entrega de Jesus, que amou os seus até o fim, a vida é ressignificada. E quem faz parte desse mistério tem sua vida ressignificada por ele.
A catequese que trabalha com a pedagogia da iniciação insiste em comunicar esse mistério. Não quer explicá-lo, apesar de buscar uma linguagem capaz de traduzi-lo. Sabe que toda linguagem se esgota diante das grandes coisas, como o amor e a dor. Nessas ocasiões, sobram apenas os gestos: um abraço, um afago, um sorriso, uma lágrima, uma presença muitas vezes silenciosa, mas fiel. Por isso, por meio de uma catequese mais simbólica que intelectual, o catequista que trabalha com a pedagogia da iniciação testemunha sua fé a partir de sua própria vida. Ao aceitar ele próprio ser mergulhado todos os dias no mistério do Cristo morto e ressuscitado, mostra aos catequizandos que o evangelho é força para viver e que a vida, com suas alegrias e dores, tem sentido a partir da fé cristã. Assim, desperta em seus catequizandos o desejo de fazer a mesma experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo.
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