48. Catequese e liturgia II


Como já dissemos, no processo de des-escolarização da catequese, papel importante tem a recuperação do vínculo entre liturgia e catequese. Mas como recuperar esse vínculo? Basta introduzir ritos, gestos e símbolos no itinerário catequético? Seria suficiente pegar o RICA – Ritual de Iniciação Cristã para Adultos – repetindo, na catequese paroquial, as celebrações nele previstas? Ou seria o caso de exigir que crianças, jovens e adultos da catequese participem das liturgias da paróquia? Devemos motivá-los até o constrangimento, a ponto de a participação na celebração dominical se tornar uma condição para a recepção dos sacramentos previstos no itinerário catequético?
Muitos têm entendido assim. E, num esforço hercúleo querendo acertar, temos visto na paróquia desde a repetição de ritos e gestos do RICA até a imposição da obrigação de frequentar a missa. Quanto aos ritos do RICA, melhor a gente ficar atenta. Tenho a impressão que estamos trocando uma catequese sacramental por uma catequese ritual. E isso não resolve o problema catequético atual. Quanto ao atrelamento da catequese com a missa dominical, além de esse não tornar a catequese mais litúrgica, as motivações para participação da liturgia parecem duvidosas: completar álbum de figurinha com textos do evangelho do dia, ganhar balas e outras guloseimas, ou até mesmo receber o sacramento desejado. A liturgia e a catequese devem atrair por si mesmas: porque são plenas de sentido, porque dão força para viver, porque ressignificam a vida da gente. Qualquer tentativa de atrair pessoas através de outra motivação seria esvaziar a vida de fé do seu sentido mais original. Não podemos correr esse risco.
Na catequese, a liturgia não é nem um anexo, como a missa dominical tornada obrigatória, nem se faz uma catequese litúrgica acrescentando ritos no itinerário catequético. Tudo isso é possível, mas não garante o caráter celebrativo da mesma. A liturgia é uma característica do ato catequético. Todo encontro catequético deveria ser litúrgico, pois a catequese celebra e comunica a presença do Deus vivo, possibilitando o encontro com o Ressuscitado. Em cada atividade da catequese, seja na oração ou na música, nas brincadeiras ou na proclamação e partilha da Palavra de Deus, é Deus mesmo que está se dando, se comunicando, entrando em comunhão com os catequizandos e o catequista. Assim, cada gesto da catequese reclama reverência; cada palavra pronunciada exige cuidado por causa de seu significado; cada rito realizado carrega tom de solenidade. Brincar, cantar, rezar, refletir, ouvir e partilhar a palavra se tornam rituais celebrativos, ou seja, comunicadores de uma presença que transcende o próprio ato de brincar, cantar, refletir ou rezar: o mistério pascal que a catequese comunica.
Uma catequese pode ser dita celebrativa não pelo tanto de rituais que ela prescreve, mas pelo modo como se desenvolve, pelo caráter orante e mistagógico que conserva. Nada impede que aconteçam ritos específicos em algumas ocasiões pontuando bem os itinerários da catequese, como no catecumenato. Fazer, de vez em quando, um encontro que é uma celebração é uma boa ideia. Os catequistas preparam uma bela liturgia, com símbolos, gestos, músicas, orações, textos bíblicos e rezam com os catequizandos, marcando as etapas da catequese. Nem precisa de padre ou algum ministro específico. Os catequistas mesmos – fazendo valer o caráter sacerdotal de seu batismo – celebram a liturgia, porque liturgia é vida feita oblação, oferta ao Pai. Desse modo, os catequizandos vão sendo mergulhados no mistério pascal que a liturgia – por meio de seus símbolos – faz acontecer. A cada encontro orante, a cada celebração realizada, a catequese dá a conhecer o Deus vivo e ressuscitado que nos acompanha e caminha conosco.
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