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395. Setenta vezes sete, infinitamente

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06.10.2023 | 3 minutos de leitura
Pe. Eduardo César Rodrigues Calil
Para Rezar
395. Setenta vezes sete, infinitamente
Será preciso, agora, Jesus, sermos honestos convosco. Antes de perdoarmo-nos uns aos outros, antes de libertarmo-nos da dor, isso que nos ensinaste com vossa anti-matemática, vosso Pai e nosso precisa também do nosso perdão. 
Precisamos perdoá-lo por nos ter feito humanos, tão pequenos e tão pobres e por nos ter amado tanto nessa condição tão humilde e miserável. Precisamos perdoá-lo não sete, nem setenta vezes sete, mas sete vezes mais que isso, pelo silêncio com que Ele celebra nossa difícil liberdade e o recuo com que Ele nos olha respeitosamente. 
Perdoá-lo por não nos atender, por não nos dar o que pedimos, mesmo quando cremos que o inexplicável é sua ação. Perdoá-lo por não ser a polícia do universo, por não nos punir, apesar de requerermos dele que seja a Lei e não o amor que vós demonstrastes, Jesus. E assim, por nos deixar fazer nossas escolhas, nossa vida e nosso destino, estando ao nosso lado, mas não no nosso lugar; acompanhando-nos sem fazer nenhum plano que precisamos descobrir de antemão, para nos livrar da liberdade. Perdoá-lo, ó Jesus, por não ter decidido nossa vida. Como gostaríamos, enfim, de ter alguém para culpar por nossos desatinos, por nossos erros e e quedas. Como gostaríamos de dizer, com nossa resignação: é vontade de Deus, Deus quis assim, foi o melhor, esse é meu destino; como gostaríamos de ter alguém para culpar pela dor que decidimos como corolário de nossa pequena vida. É preciso perdoar Deus por não nos ter dado esse direito e por nos ter dado tanta importância.
É preciso perdoá-lo por não ser o Pai que imaginamos, o pai-rei; o pai-patrão; o pai-poderoso, o pai que os religiosos reclamam, mas o pai furado, como só o amor é furado; o Pai furado em vossas mãos e em vossos pés, e em vosso lado, Jesus. Perdoá-lo por não nos responder, à nossa multiloquência, à nossa prece obsedada, aos nossos ritualismos obsessivos. Será preciso perdoá-lo por preferir que falemos a ele como a amigos. 
E perdoá-lo, enfim, pela dor do mundo. Porque o culpamos por não nos dar uma explicação para nossos crimes, por não nos dar uma razão para nosso sofrimento, apesar de Ele sofrer conosco nossas dores. Perdoá-lo, porque seu amor não resolve a conta incerta das nossas lógicas calculistas, essa que deveria ser abandonada, mas que queremos manter e juntar com o além-do-cálculo que Ele propõe. Seguimos tentando juntar roupa nova com remendos velhos. 
Ó Deus, eu lhe perdoo, setenta vezes sete, vezes sete, infinitamente, porque O Senhor me parece ter esquecido, enquanto me apego às minhas dores e reclamo sua existência, sua intervenção, à espera de que faça por mim, o que eu mesmo não ouso fazer. À espera de que o Senhor me ame e me queira, em meu lugar, ao invés de mim. Eu lhe perdoo, porque com seu silêncio e recuo, sobra-me a pequena ousadia com que me porei de pé, para perdoar-me a mim mesmo, porque sou fraco. Não saberei que fiquei de pé, por sua causa e não saberei que o perdão que me darei será o seu perdão, afinal. Mas saberei que o seu amor é amor fragílimo; mais fraco que o meu e, por isso, mais forte que o meu… Aquele amor possível que nos vem à ideia e ao coração. O amor das cicatrizes curadas, essas que jamais esquecerei, porque perdoar não é esquecer…