35. Des-escolarização da catequese


Muito se tem dito por aí sobre a des-escolarização da catequese. Nossa catequese adquiriu ritmo escolar, se tornou aula, fazendo do catequista um professor e do catequizando um aluno. Com isso, a fé cristã que a catequese transmite virou um conjunto de dogmas, doutrinas, orações e preceitos morais a serem ensinados na catequese. Mas, como disse o papa Bento XVI na sua Carta Deus Caritas est, “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (DCE, 12). Uma boa aula de religião não garante a adesão a Jesus Cristo. Essa adesão só se alcança a partir de um encontro pessoal com ele.
No processo de des-escolariazção da catequese, tem papel importante a des-escolarização da formação dos catequistas. Quando a catequese era entendida como aula e os catequistas como professores de religião, era normal investir todas as forças em uma formação intelectual para os catequistas. A formação seguia o esquema curso. Curso de bíblia, de doutrina, de moral, de história da Igreja, de liturgia etc. Tentava-se suprir uma lacuna deixada na formação do catequista no que diz respeito à sua compreensão e assimilação de conteúdos teológicos – ou no mínimo religiosos!
Agora que já percebemos que o esquema curso de catequese não deu os resultados esperados em nosso tempo e que um déficit de iniciação perdura ao longo dos anos tanto no que diz respeito aos catequizandos quanto aos pais e aos catequistas, é hora de mudar também o foco da formação dos catequistas. A pergunta que deve nortear os encontros de formação não é mais “O que os catequistas precisam saber para serem bons catequistas?”, mas sim “O que essa gente precisa experimentar, que tipo de experiência lhes falta, para que comuniquem com entusiasmo o Deus de Jesus Cristo?”. Não só os encontros catequéticos devem ser des-escolarizados, mas também os encontros formativos dos catequistas.
Assim, os momentos formativos devem ser ocasião para rezar, cantar, partilhar, celebrar, escutar e aprofundar a Palavra de Deus. Aquele velho esquema de curso ou escola catequética, com um professor falando e os catequistas copiando e fazendo trabalhos para entregar no próximo encontro, já não cola mais. Os catequistas – que deverão rezar com os catequizandos – precisam de ocasião para cultivar a intimidade com Deus. Precisam de silêncio, meditação, símbolos, caminhos orantes que os ajudem a sair da simples recitação das orações dos cristãos, aquelas decoradas e prontas na ponta da língua, mas quase sempre longe do coração. Os catequistas – que deverão celebrar e cantar com os catequizandos – precisam de espaço para celebrar a vida e cantar alegremente, experimentando eles mesmos a força do símbolo, o poder da linguagem simbólica. Os catequistas – que deverão brincar com os catequizandos – precisam eles mesmos de desenvoltura e leveza para cultivar o belo e o lúdico, arrancando da religião cristã aquele ar pesado e sisudo que lhe foi imposto ao longo dos anos. Certamente, cantar, brincar, rezar e celebrar não dispensa o ato de estudar e investigar, buscando as razões da fé. Mas que as razões da fé sejam buscadas de modo mistagógico, depois de ter experimentado a maravilha de estar na presença do Deus vivo! E, para isso, brincar, cantar, celebrar, rezar, ouvir a Palavra são atitudes fundamentais!
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