22. Desafio comunitário


Não incomum se tornou a reclamação de que as gerações mais jovens não têm laços de pertença, que não se identificam mais com as instituições, que entram e saem delas conforme suas conveniências. De fato, todos nós notamos que os vínculos institucionais se encontram afrouxados. Já foi o tempo em que a gente se identificava pela pertença institucional: “sou católico” ou “sou da família Correia” ou “sou professor”. Atualmente, podemos ser o que quiser; nossa liberdade – como já dissemos – se tornou nossa maior obrigação. Os laços que nos prendiam e davam as balizas do nosso ser, que direcionavam nossas escolhas, enfraqueceram-se. Temos dificuldades para estreitar esses laços, para manter vínculos comunitários, até porque – hoje em dia – a vida muda rápido demais e a pertença a um grupo acaba sendo provisória.
Mas como falar em fé cristã sem pertença, se a fé cristã é essencialmente eclesial? A fé que professamos, nós não a inventamos, nós a recebemos, foi-nos transmitida por uma comunidade eclesial, que a recebeu de outros e que a recebeu de outros... E veio sendo transmitida desde os apóstolos até chegar até nós. A fé cristã, apesar de ser resposta pessoal a Deus, é comunitária; é patrimônio dos que creem, ou seja, da Igreja. Por meio dela é que fomos interpelados pelo Deus de Jesus Cristo e demos a ele nosso assentimento de fé.
A catequese transmite a fé cristã quando proporciona oportunidade para que as pessoas possam entrar em contato com o Deus de Jesus Cristo, experimentá-lo, amá-lo, conhecê-lo. A fé que a catequese transmite é a fé da Igreja, assumida e professada pelo catequista e pela turma de catequese. Ora, então, como fazer tal transmissão em tempos que não favorecem os laços comunitários? Em tempos que – como dizem alguns pessimistas – o individualismo tomou conta do cenário social e as novas gerações não têm instinto gregário?
Certamente, as motivações dos laços comunitários devem ser bem outras. A pertença institucional não se dá mais por vínculos contratuais imutáveis como outrora, nem na família, nem na sociedade, nem nas igrejas. Ela se dá pelo desejo de pertencer, pelo prazer do convívio, pela alegria da partilha, pela identificação com o grupo que deve afirmar a interioridade do sujeito e não sufocá-la. As novas gerações não são avessas à pertença, como dizem alguns. Só não querem mais aquele modelo institucional oferecido em outros tempos. Querem comunidades mais abertas, mais livres, que sejam espaços sem violência simbólica, onde cada um possa ser o que quer ser (ou o que consegue ser). Em vez de cobrar pertença das gerações jovens, o que parece ser inútil, as comunidades eclesiais devem ser esses espaços de convívio e ajuda mútua, espaços para de amor e comunhão, muito mais que espaços das obrigações impostas, formais e contratuais. Afinal, o que é o cristianismo senão a religião do amor e do respeito ao outro? O que fez Jesus senão resgatar o outro de suas misérias e lhe oferecer espaço para desabrochar seu melhor eu? Os laços comunitários, dizem alguns, estão comprometidos. Eu diria: os laços contratuais, talvez; os de amor, jamais!
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