4. Compunção do Coração


Quando a multidão ouviu a pregação de Pedro, continua relatando Lucas em Atos dos Apóstolos, não ficou inerte, nem indiferente ao anúncio. A força da boa-nova anunciada saiu devastando corações e fazendo sua obra (cf. At 2, 37-41). A primeira reação foi a compunção do coração. Ficar com o coração compungido é ser tocado lá no íntimo; é ver as entranhas remexidas; é ter as estruturas abaladas pela palavra que fora anunciada. Não é possível ser tocado assim e não se interrogar acerca do que fazer a partir de então. Quem tem seu coração compungido sabe que nunca mais será o mesmo; algo novo aconteceu dentro de si. À pergunta dos ouvintes, Lucas aconselha a conversão e o batismo. A conversão é a consequência primeira e imediata do encontro com Jesus boa-nova. Não é condição para encontrá-lo, mas é algo intrínseco a esse encontro. O batismo é a adesão ao caminho dos seguidores, ou seja, é sinal da pertença ao grupo dos que pertencem ao Ressuscitado. Apesar de a experiência do encontro com Jesus ser pessoal e exigir uma resposta personalizada, a fé cristã é eclesial e não pode ser vivida no isolamento a não ser ao preço de cair no intimismo e deixar de ser fé cristã tornando-se pura ilusão. Só depois de propor o mergulho em Cristo na comunidade cristã, Lucas anuncia aos novos convertidos que também eles podem e devem ficar cheios do Espírito Santo, pois a promessa é para todos. Mas Lucas sabe que o Espírito não respeita a lógica eclesial: primeiro a pertença; depois o recebimento do Espírito. É só ver o que aconteceu na casa de Cornélio (cf. At 10,44-48). Lucas organiza a comunidade; o Espírito, no entanto, faça o que bem lhe aprouver. E, depois de responder às indagações dos ouvintes, Pedro continua dando testemunho da fé que ele mesmo experimentava.
Diante do esquema lucano, nossa catequese é colocada em xeque. A palavra que anunciamos tem compungido os corações dos ouvintes ao ponto de eles se perguntam: “O que fazer?”. Se nossa palavra não é testemunho de uma novidade que faz viver, mas mera transmissão de doutrina, de dogmas, de preceitos morais e normais eclesiais, não dispomos de elementos suficientes para tocar os corações dos ouvintes, especialmente dos jovens. Como afirmou o Papa Bento XVI: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (Deus Caritas Est, 12). É o encontro pessoal com Jesus Cristo, com o acontecimento de sua morte e ressurreição, que pode mexer com nossas entranhas e nos fazer questionar os caminhos seguidos e as convicções mantidas até agora. Nossa catequese, tão dogmática e doutrinária, voltada quase que exclusivamente para a recepção dos sacramentos da iniciação, não tem iniciado nossa gente. Não é de estranhar, então, que, uma vez recebidos os sacramentos, nosso povo abandone a vida eclesial. Nossos jovens têm recebido os sacramentos da iniciação, mas não têm sido iniciados na fé, logo a pertença e o engajamento ficam comprometidos na base.
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