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486. REFLEXÃO PARA O 9º DOMINGO DO TEMPO COMUM – Mc 2,23–3,6 (Ano B)

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01.06.2024 | 16 minutos de leitura
Pe. Francisco Cornélio F. Rodrigues
Evangelho Dominical
486. REFLEXÃO PARA O 9º DOMINGO DO TEMPO COMUM – Mc 2,23–3,6 (Ano B)
Com a retomada do tempo comum, a liturgia dominical retoma também a leitura semi-contínua do Evangelho de Marcos, como é característico do ciclo litúrgico B, após a longa interrupção para a vivência do ciclo pascal com as solenidades que lhe seguem. Estamos celebrando o nono domingo do tempo comum, cujo evangelho é Mc 2,23–3,6. A pausa para a vivência do ciclo pascal, iniciado na Quarta-Feira de Cinzas, ocorreu durante a sexta semana do tempo comum, logo, o último domingo comum celebrado foi o sexto. Isto quer dizer que dois domingos desse tempo foram substituídos por solenidades, perdendo-se a sequência da leitura do Evangelho. No sexto domingo, o evangelho lido correspondia ao relato da cura de um leproso, a única desse tipo em todo o Evangelho de Marcos (Mc 1,40-45). A partir do sétimo domingo, suprimido neste ano, o evangelho passa a ser tirado de uma sequência narrativa marcada por uma série de cinco controvérsias entre os fariseus e Jesus (Mc 2,1–3,6). São cinco cenas de conflitos, nas quais Jesus mostra a primazia do amor e da misericórdia sobre qualquer preceito. Tendo escolhido o bem do ser humano como principal prioridade em sua missão de humanizar o mundo mediante a construção do Reino de Deus, ele foi duramente contestado pelos grupos religiosos legalistas do seu tempo, como mostram todos os evangelhos

As polêmicas da sequência narrativa supramencionada – Mc 2,23–3,6 – renderam as seguintes acusações a Jesus: fazer-se igual a Deus, ao perdoar pecados (Mc 2,1-12); comer com publicanos e pecadores (Mc 2,15-17); não ensinar seus discípulos a praticarem o jejum (2,18-22); transgredir o mandamento do sábado junto com os discípulos, como relata o evangelho de hoje, o qual é composto de duas cenas (Mc 2,23-28; 3,1-6). Ora, a observância rigorosa do sábado tinha se tornado o traço mais importante da religiosidade praticada pelos fariseus. Havia, inclusive, uma grande vigilância deles em relação a esse preceito, principalmente nas pequenas cidades e aldeias, distantes de Jerusalém e do templo. A vida rural, totalmente dependente das atividades manuais, oferecia bem mais possibilidades de “transgressão”, conforme a mentalidade farisaica, por isso, a vigilância era maior nesses ambientes. O contexto mais amplo do texto lido hoje e da sequência da qual esse faz parte é o ministério de Jesus na Galileia, que se encontra ainda no início, embora ele já tenha feito muita coisa até então, como até mesmo despertar a oposição dos grupos religiosos mais rigorosos na observação dos preceitos da Lei. As duas cenas polêmicas que compõem o evangelho de hoje mostram isso, ao mesmo tempo em que, como contraposição, mostram Jesus ressignificando a Lei, colocando-a a serviço do bem do ser humano. Como última observação a nível de introdução e contexto, recordamos que as duas cenas que compõem o evangelho de hoje possuem versões paralelas também nos outros dois evangelhos sinóticos (Mt 12,1-14; Lc 6,1-11).  

Olhando diretamente para o texto, partindo do primeiro versículo, já podemos colher várias informações determinantes para a compreensão do texto inteiro. Eis o que se diz: «Jesus estava passando por uns campos de trigo, em dia de sábado. Seus discípulos começaram a arrancar espigas, enquanto caminhavam» (2,23). Quando aparece a palavra sábado nos evangelhos, sobretudo nos sinóticos (Mt-Mc-Lc), é quase certo que a cena terminará em conflito. O simples fato de passar pelos campos de trigo já levantava suspeitas, pois havia um limite de distância permitida para ser percorrida em dia de sábado, pelos judeus, mesmo sem consenso entre os diversos grupos. Em alguns ambientes permitia-se até um quilômetro e meio, enquanto em outros o limite era de apenas oitocentos metros. Portanto, ao passar pelos campos em dia de sábado, Jesus e seus discípulos se tornavam suspeitos de transgredir a Lei, a depender da distância que estavam percorrendo. A transgressão se consuma realmente quando começam a arrancar as espigas, realizando concretamente uma atividade manual. Enquanto as versões de Mateus e Lucas dizem que os discípulos arrancaram as espigas para comer, Marcos diz que arrancaram para abrir caminho, embora a tradução litúrgica não deixe claro; a tradução mais correta seria: «Seus discípulos começaram a abrir caminho, arrancando as espigas» (v. 23b). Esse diferencial de Marcos acentua ainda mais o grau de transgressão: arrancar espigas para abrir caminho enfatiza ainda mais o aspecto de um trabalho braçal.

A reação dos fariseus dá a entender que eles estavam realmente vigiando Jesus e seus discípulos. Parece até que se espalhavam em diversos lugares, pois os deslocamentos de Jesus eram sempre imprevisíveis, inclusive, ele procurava evitar ser visto enquanto passava, para não despertar falsas expectativas nas pessoas. E os fariseus, enquanto grupo fundamentalista, na perspectiva dos evangelhos, montavam guarda em diversos lugares para vigiar os seus passos, em busca de provas para acusá-lo de relativista e transgressor dos preceitos da Lei. Por isso, viram o que tinha acontecido nos campos de trigo e contestaram Jesus: «Então, os fariseus disseram a Jesus: “Olha! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?”» (2,24). A simples contestação dos fariseus já revela a prática de uma religião caduca, vigilante e punitiva. E era uma prática altamente hipócrita, pois ao invés de estarem naquele dia cultuando a Deus ou estavam vigiando se Jesus e seus discípulos estavam observando o mandamento. O rigorismo farisaico era tão forte a ponto de espalharem vigilantes para observar se alguém transgredia a lei. É esse tipo de religião que Jesus denuncia com sua interpretação livre e sua prática libertadora, e o evangelista Marcos faz questão de recordar para sua comunidade. O Reino a ser construído pelos discípulos e discípulas de Jesus não pode seguir os parâmetros daquela religião.

Os fariseus questionam Jesus, embora a transgressão identificada tenha sido praticada pelos discípulos. Mas um mestre era sempre responsável pelo comportamento dos seus discípulos. Outros mestres, numa situação dessa, repreenderiam os discípulos. Jesus não faz isso porque a atitude dos discípulos, naquele momento, refletia seus ensinamentos, estavam agindo como pessoas livres, estavam compreendendo que o fim da Lei deve ser o bem do ser humano. Ora, pouco antes, ele tinha sido questionado pelos fariseus sobre o comportamento dos seus discípulos em relação ao jejum (Mc 2,18-22). Naquela ocasião, usou como argumento a presença do noivo como sinônimo de alegria, tornando o momento impróprio para o jejum. Dessa vez, sua resposta se fundamenta diretamente na Escritura: «Jesus lhes disse: “Por acaso nunca lestes o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram por necessidade e tiveram fome? Como ele entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu os pães oferecidos a Deus, e os deu também a seus companheiros? No entanto, só aos sacerdotes é permitido comer esses pães”» (2,25-26). O episódio tomado por Jesus como exemplo para justificar o comportamento dos seus discípulos encontra-se em 1Sm 21,1-10. A comparação com David tem a função de deslegitimar a acusação, uma vez que ele era uma figura considerada irrepreensível para o imaginário judaico, e Jesus mostra-o como transgressor da Lei. Com a comparação, Jesus afirma que também Davi soube sobrepor as necessidades humanas aos preceitos. É a Lei que deve estar sempre a serviço da vida.

Há um pequeno equívoco do evangelista em relação ao nome do sacerdote no episódio de Davi: ao invés de Abiatar, era seu pai Aquimeleque. Porém, o importante não são esses detalhes, mas a mensagem em seu complexo: a obsessão dos fariseus pelo sábado fecha-os completamente, a ponto de não compreenderem a Escritura. Na época de Davi, havia diante do tabernáculo do templo, que ainda era a tenda, a exposição contínua de doze pães, representando as ofertas das doze tribos de Israel. Esses pães eram substituídos todos os sábados, passando uma semana inteira expostos. Com a substituição, eram consumidos somente pelos sacerdotes. Tendo comido destes pães, Davi transgrediu a Lei, pois comeu algo proibido. Contudo, não foi uma transgressão ao sábado, mas à Lei, e o sábado era considerado o mandamento síntese da Lei. Após citar o exemplo do rei, figura exemplar para a devoção judaica, Jesus resolve a primeira polêmica do evangelho de hoje com uma afirmação de caráter sapiencial, e exclusiva do Evangelhos de Marcos: E acrescentou: «O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado» (2,27). Com essa afirmação, ele deixa claro o sentido do sábado e de toda a lei: o bem do ser humano. Nenhum aspecto da Lei deve ser usado para impedir o bem do ser humano. O sábado e toda a Lei foram feitos para o bem da pessoa humana, para sua plena realização e libertação. Enfim, a Lei só tem sentido se servir para a humanização do mundo. Com essa interpretação, ao invés de transgredir, Jesus recupera o sentido verdadeiro do sábado como memorial de libertação (Dt 5,12-15), e o faz com plena convicção de que, «portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado» (2,28). Do senhorio de Jesus sobre o sábado emana a liberdade dos seus discípulos em relação a qualquer preceito da Lei.

A segunda parte do texto apresenta a conclusão da série de polêmicas. A cena acontece ainda no sábado, e dentro da sinagoga: «Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca» (3,1). Ora, se o sábado em si já era indicativo de polêmica em torno de Jesus, isso se acentua ainda mais quando aparecem juntas as palavras sábado e sinagoga. Ao dizer que Jesus entrou de novo, o evangelista indica que ele entrava com frequência na sinagoga, certamente todos os sábados. Ao mencionar a presença de um homem com a mão seca, enfatiza que se trata de uma pessoa impossibilitada de trabalhar para o seu sustento e também de fazer o bem. Em uma sociedade basicamente agrícola como aquela, as mãos eram os membros mais valorizados numa pessoa; portanto, aquele homem estava privado de sua dignidade, do respeito, e da capacidade de colaborar com a criação e a sociedade. Para quem praticava uma falsa religião, ou seja, frequentava o culto, mas o separava da vida e da prática do bem ao próximo, aquela situação já não preocupava, era vista como normal. Como para Jesus o culto agradável a Deus é sempre o bem do ser humano, a situação daquele homem não poderia lhe passar despercebida. Como sua fama de transgressor da lei e dos bons costumes já tinha se espalhado, onde ele chegava era bastante observado e vigiado, principalmente nos ambientes religiosos. Por isso, ali na sinagoga «alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo» (3,2). Os adversários já estavam prontos para acusá-lo, caso ele interviesse na situação daquele homem. O evangelista mostra o quanto os praticantes da religião já estavam perseguindo Jesus: o vigiavam enquanto caminhava e também quando parava e entrava em algum lugar. Já estava claro que a prática libertadora de Jesus era uma ameaça e um perigo àquela religião. Onde quer que Jesus se encontrasse, havia representantes da religião vigiando-o.

É claro que Jesus não se intimidava com a perseguição e a vigilância das pessoas muito religiosas do seu tempo. O bem do próximo, principalmente dos desvalidos e excluídos, era sempre a sua prioridade maior. Diante disso, eis, então, a sua atitude: «Jesus disse ao homem da mão seca: “Levanta-te e fica aqui no meio!”» (3,3). Geralmente, são as pessoas quem procuram Jesus pedindo a cura para si e para pessoas próximas. Aqui, a iniciativa é toda de Jesus! Ele percebe o que estavam imaginando e, vendo um homem necessitado diante de si, ele não fica indiferente! Por isso, ordena ao homem que se levante e fique no meio, se torne protagonista. Para a ordem de levantar-se, o evangelista emprega o mesmo verbo que vai empregar para expressar a ressurreição de Jesus, no final do Evangelho – o verbo grego “egheiro” - ἐγείρω. Com essa ordem, portanto, ele restituiu a vida àquele homem, com seu sentido de liberdade e dignidade plenas. Assim, ele fez a ressurreição acontecer. Ao ordenar que fique no meio, Jesus o torna protagonista e mostra que o centro do verdadeiro culto e da religião deve ser sempre o bem da pessoa humana. Portanto, Jesus resgatou a vida daquele homem, mandando-o levantar-se, e deslocou o ser humano para o centro do culto, deixando de lado a Lei com seus preceitos. O meio é o lugar para onde todas as pessoas que estão em volta dirigem o olhar. Quando ressuscitar, Jesus vai se manifestar no meio dos discípulos (Jo 20,19.26), como permanece no meio dos que se reúnem em seu nome (Mt 18,20). Desse modo, ele ensina que o ser humano necessitado é sua imagem, é sua presença viva e real na comunidade. Sem esse reconhecimento, as mais expressivas formas de culto e devoção são apenas teatro.

Sabendo que estava sendo observado e até mesmo odiado pelas pessoas devotas presentes na sinagoga, Jesus faz uma pergunta decisiva para a compreensão da sua mensagem: «“É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” Mas eles nada disseram» (3,4). A resposta dos presentes na sinagoga foi o silêncio. Certamente, o silêncio da vergonha e da hipocrisia. A pergunta evidencia a diferença na maneira de compreender o sentido do sábado entre Jesus e seus adversários. A alternativa entre fazer o bem ou o mal mostra que deixar de fazer o bem já é uma forma de fazer o mal. A omissão e a indiferença não podem ser aceitas na comunidade cristã. Aplicando-a ao cuidado com a vida, quer dizer que deixar de cuidar da vida já é uma forma de promover a morte. É isso o que recorda o evangelista com a dupla pergunta de Jesus. Não se pode desperdiçar uma única oportunidade de fazer o bem e salvar uma vida. O espaço e o momento cultual da cena recordam para a comunidade qual a natureza do verdadeiro culto agradável a Deus: fazer sempre o bem ao necessitado. Mas o agir de Jesus em favor do bem do ser humano não sensibiliza seus adversários que preferem permanecer atacados às tradições e prescrições, preferindo uma religião indiferente à vida.

Diante disso, «Jesus então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu e a mão ficou curada» (3,5). É interessante que, antes mesmo de narrar a cura, o evangelista descreve desse modo a reação de Jesus à dureza de coração dos adversários: ele ficou «cheio de ira e tristeza». Marcos é o único evangelista que apresenta Jesus com esses sentimentos de indignação, sobretudo a ira (em grego: ὀργή – orghê). Essa é a reação de Deus à rejeição do seu amor. A dureza de coração reflete uma religião petrificada, sem a mínima abertura à novidade do Reino de Deus proposto por Jesus. Uma religião carente de humanização. Endurecendo o coração ao ver Jesus fazendo o bem, os seus adversários demonstram a adesão a uma religião excludente, punitiva, legalista e fechada. Ora, com a cura, do mais que mostrar um ato extraordinário de Jesus, o evangelista alerta a comunidade a colocar sempre a prática do bem como prioridade. A mão curada daquele homem significa a restauração da sua vida; com sua saúde restituída, ele voltou a ser protagonista da própria história, ou seja, voltou a viver. Certamente, Jesus poderia ter deixado para fazer a cura em um outro momento, afinal, a mão seca não era uma enfermidade exposta nem dificultava a mobilidade do homem. Mas o fez no sábado e na sinagoga para desmascarar aquela religião segregadora e hipócrita. Fazendo em outro momento, estaria sendo conivente com aquele culto ultrapassado indiferente à vida das pessoas com seus problemas. Fazendo em um contexto cultual, ele deixou explícita a sua denúncia e a sua indignação com uma religião fechada ao amor que é a essência mesma de Deus.

A postura libertadora de Jesus incomoda aos duros de coração; e isso os leva a procurarem uma maneira de eliminá-lo, afinal, Jesus estava sendo um perigo para aquele modelo de sociedade e de religião. Por isso, «Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo» (3,6). A coalizão dos fariseus com os partidários de Herodes mostra o quanto a mensagem de Jesus era inquietante, tornando-se uma ameaça para o sistema, e denuncia o máximo de hipocrisia: é o conluio dos covardes, dos opressores, de quem percebe que seus sistemas falharam e, por isso, apelam para a violência. Fariseus e herodianos eram grupos adversários que não se suportavam, mas tinham escolhido Jesus como inimigo comum. Os herodianos constituíam o grupo de apoio público à dominação romana, e reconheciam a divindade do imperador. Já os fariseus, como o mais devoto dos grupos religiosos judaicos, viam a dominação romana como um abomínio, por isso esperavam constantemente pelo envio de um Messias glorioso e guerreiro que ressuscitasse o reino davídico-salomônico e, assim, expulsasse os agentes do império romano do país. Nesse plano de fariseus e herodianos, está uma antecipação do plano futuro que levará Jesus à morte: a religião e o império romano unidos para pôr fim a um personagem incômodo e indesejado: Jesus de Nazaré. E a causa desse plano não foi predestinação, nem vontade do Pai nem o pecado do mundo. Foi o perigo que Jesus de Nazaré representou para o império e a religião.

Mesmo não sendo observantes do sábado, as comunidades cristãs de hoje devem ser questionadas pelo Evangelho de hoje. São convidadas a refletir sobre quais são suas prioridades cultuais, sobre suas opções preferenciais e, principalmente, sobre a presença de Jesus em seu meio. A presença do Ressuscitado numa comunidade provoca mudanças, abala estruturas, desconstrói paradigmas e concepções. Ao ressignificar o sábado, Jesus mexeu com aquilo que o seu povo considerava mais sagrado. Precisamos aprender com ele a discernir entre o essencial e o periférico, sabendo de antemão que o essencial é sempre a promoção do bem e a libertação do ser humano.