Mateus elenca nove Bem-aventuranças. Oito são dirigidas a todos, na terceira pessoa do plural: Bem-aventurados os pobres em espírito, os que choram etc. A oitava é uma espécie de resumo das sete anteriores, confirmando o que foi dito. Quem se atrever a viver como Jesus indica vai ser perseguido por causa da justiça. A justiça, antes entendida como cumprimento estrito da Torah, ou seja, um modo de vida preso à prescrição da Lei, passa a ser o esforço para se construir uma nova sociedade, onde o amor é a única lei que de fato importa.
Quem se faz pobre com os pobres, quem é capaz de se comover e se derramar em pranto diante do sistema injusto que a tantos oprime, quem é manso e luta com ternura por seus direitos, quem tem fome e sede de justiça e, no entanto, não se acomoda, pois se importa com a fome dos outros, quem é misericordioso em vez de legalista, quem é puro no íntimo do coração e não se atreve a ser moralista e preso a regras religiosas ou a rituais litúrgicos, quem é defensor da paz e não da violência, este certamente é perseguido. É perseguido, porque o amor incomoda, desinstala os poderosos. Mas, apesar de perseguido, esse é também feliz, pois vive no amor. E não há nada que possa ser mais importante e mais belo que o amor. Desta forma, Jesus convida seus discípulos a seguir sempre em frente, implantando essa sociedade alternativa, onde as regras são pautadas no amor e na solidariedade e não na lógica do capital, das posses, do lucro.