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99. Estreitezas

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17.12.2018 | 1 minutos de leitura
Frei João F. Júnior - OFMCap
Poesia
99. Estreitezas

O entardecer me encheu de poesia. 

Mas ela não tinha palavras. 

Era um estupor com tristeza... 

A lembrança de uma música e a saudade do desconhecido. 

Essas coisas sem nome que acertam a gente, 

enquanto o sol se esconde entre nuvens rubras...


Tentei ainda assim escrevê-las, 

mas as poesias mudas não aceitam desobediências. 

As palavras se escondem como se fossem também Crepúsculo.


Não sei lidar com poesias caladas, 

porque elas doem demais. 

Elas recordam que a finitude é pra já. 

O eterno que elas propõe não é o que lança o olhar pro futuro, 

mas é o da embriaguez do agora. 

Enchem tanto o peito que deixo de ser capaz de continências.


A poesia muda lembra que nosso coração 

é estreito demais pra caber a vida. 

Pois, de hoje em diante, quero deixar de propor uma morada 

para a palavra ou para a poesia, 

ou mesmo ainda para a Vida. 

Sou pequeno demais para presunções tamanhas.


Mas se eu puder, silente, dando passos descalços, 

descansar dentro da Palavra-casa, 

da Poesia-templo e da Vida-infinita, 

servi-las-ei com minhas estreitezas.