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88. A lentidão das mudanças

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27.04.2017 | 4 minutos de leitura
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88. A lentidão das mudanças

Matamos sete leões para conquistar uma agulha. Tanto esforço para resultados tão mínimos acaba desanimando a gente de continuar despendendo energias em outras lutas. A vida é mesmo pelejada, mas algum resultado do trabalho a gente quer ver para alimentar a esperança que vale a pena continuar lutando.


As mudanças na Igreja são lentas. A instituição é muito pesada, milenar; envolve muita gente e estruturas com engrenagens bem complicadas. Há poucos dias ouvimos no noticiário que uma das mulheres da equipe de investigação de abusos sexuais do Vaticano – ela mesma vítima de abuso aos doze anos por um padre – pediu demissão de sua função. Motivo: o papa quer muito que as investigações prossigam, mas a cúria romana trava tudo, disse ela. Cansada, desistiu. Eu não tiro sua razão. A gente se cansa mesmo. Matar sete leões todo dia não é fácil. Na matança desses inimigos, imaginamos que vamos ter menos feras à frente. Mas não. Para cada Golias morto, vêm dez gigantes para o enterro. E pior, parece que não multiplica na mesma proporção o número de Davis, nem crescem exponencialmente os estilingues e pedras para nos armar no combate. Realmente, é desanimador.


A lentidão das mudanças eclesiais cansa. Para decidir se vai cantar essa ou aquela música na liturgia são reuniões e mais reuniões... Para decidir se tiramos a sacola da coleta da hora do ofertório são muitas reuniões de CPP... Para decidir se um casal de segunda união pode ser catequista são horas a fio de discussão inútil e muitas brigas em nome da moral cristã... Para decidir se mudamos uma vírgula na catequese, precisamos de anos de consulta ao povo, com medo de perder catequistas e coordenadores, que já estão mais do que perdidos sem saber o que fazer... Para ensinar ao povo uma teologia mínima sobre as intenções de missa, é preciso um motim dentro da liderança... São tantas energias dissipadas em vão! São tantas horas gastas com nada! São tantos melindres e não-me-toques! Cada um é dono de um pedaço e se ofende se acontece uma mexida no seu espaço! A comunidade eclesial foi repartida e leiloada; e não sobrou nada de eclesialidade evangélica. Isso é preocupante!


Mais preocupante ainda é ver como os párocos lidam com isso. Eles têm medo de mudar; não porque não estejam convencidos da necessidade, mas por comodismo ou por medo de perder a popularidade. E por causa do medo, se escoram em desculpas esfarrapadas: o povo não gosta de mudanças; é prudente ir devagar; acabei de chegar e não conheço o terreno etc.  O problema é que a validade de uma provisão – aquela autorização do bispo fazendo o presbítero pároco – é de normalmente seis anos, para o diocesano, e três para os religiosos. O tempo voa; os párocos são mudados e tudo continua a mesma coisa.


Enquanto discutimos futilidades nos bastidores da Igreja e nos exaurimos com decisões elementares, nossa gente continua sem uma evangelização eficaz; nossas liturgias continuam causando repulsa em quem tem um mínimo de bom senso; nossa gente continua desassistida na rua, nos becos; os usuários de droga continuam perambulando em busca de uma pedra; comunidades inteiras permanecem deitadas em fileiras na marquise do metrô... Gastamos nossa energia em causas inúteis; no sobra forças para uma pastoral mais eficaz. As ovelhas continuam abandonadas, e os pastores nem imaginam que cheiro elas têm. E a pauta da próxima reunião permanece: discutir se a sacola do ofertório (modelo coador de café) pode ceder seu trono para algo menos feio e mais razoável.


Para os leigos, aconselho não se apegarem a mesquinharias e a desejarem mudanças. Se nós começarmos a reclamar dessa lentidão e a relativizar essas bobagens, quem sabe os presbíteros percebem que estamos em outra? Aos presbíteros, aconselho a leitura dos textos do papa Francisco e uma gota do sangue que corre nas veias dele. Ser presbítero em tempos de Francisco é mesmo muita responsabilidade: é preciso uma “ousadia corajosa”, como falou o papa. Fica aí a dica!







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