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67. O cuidado com o outro

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26.01.2016 | 4 minutos de leitura
Fernando da Silva Oliveira
Crônicas
67. O cuidado com o outro

“Tive sede e não me destes de beber” (Mt 25,35)



“Se a miséria dos pobres

não é causada pelas leis da natureza,

mas pelas instituições,

é grande o nosso pecado”.

(Charles Darwin)



No Evangelho de Mateus, Jesus nos chama a atenção para o cuidado com o outro, o nosso próximo. É preciso ter um cuidado especial com as ovelhas mais fragilizadas do rebanho. A ajuda prestada ou recusada a um desses pequeninos é ajuda prestada ou recusada ao próprio Jesus.


Hoje, não tem sido difícil presenciar, mesmo em nossas comunidades religiosas, que o cuidado com o outro tem sido deixado de lado ou tem sido posto em segundo plano. Muitas vezes, a realização pessoal, o cuidado narcísico consigo mesmo, parece ser mais urgente do que o carinho e a atenção dispensados ao outro. E se, entre os membros da comunidade cristã esse cuidado já parece ameaçado de extinção, imagine na relação com aqueles que não fazem parte dela!


Precisamos rever nosso modo de vida, sair do nosso comodismo e enxergar a realidade na qual estamos inseridos. É preciso reacender em nosso coração o amor que é capaz de dar a vida no cuidado com o outro. Tantos homens e tantas mulheres na história da Igreja deram esse testemunho de atenção ao irmão sofredor. Como não lembrar Madre Teresa de Calcutá, que muito nos comove e nos ensina com seu testemunho de vida? Ela se deixou tocar pelo apelo de Jesus Crucificado. Seu testemunho nos diz que é possível encontrar Jesus no irmão. Bem cantam nossas comunidades eclesiais: “Seu nome é Jesus Cristo e passa fome e fala pela boca dos famintos...”. Madre Teresa de Calcutá entendeu bem a presença de Jesus no irmão. Dizem que, certo dia, andando pelas ruas da cidade de Calcutá, na Índia, ela se deparou com um homem deitado no chão e, ao aproximar-se dele, ouviu apenas uma frase: “Tenho sede!”. Palavras de Jesus crucificado no alto da cruz e que, pronunciadas por um homem excluído da sociedade e à beira da morte, tocaram profundamente o coração daquela religiosa. Tomada de compaixão, Madre Teresa decide dedicar sua vida ao serviço dos mais necessitados, dos mais pobres e em nome de Jesus.


Durante sua vida de serviço à Igreja e aos pobres, Madre Teresa manteve seus olhos fixos em Jesus, presente no pobre desvalido. Seu exemplo nos convida a fazer o mesmo: manter os nossos olhos voltados para Aquele que é o iniciador e o consumador da fé (Hb 12,2). Ele, mesmo na hora de sua morte, olhou para a necessidade dos outros e ensinou que o amor deve estar acima de tudo, inclusive de nossas próprias misérias e mazelas. Como disse Clarice Lispector: “Um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui”. Foi isso que Jesus fez e, com sua entrega, nos ensina a fazer.


Precisamos estar atentos às necessidades de tantos irmãos e irmãs que clamam por água, por alimento, por dignidade, por direito às necessidades básicas de sobrevivência. Lembremos as palavras do Mestre: “Tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes” (Mt 25,42-43). Acolher ou rejeitar Jesus na pessoa do sofredor é critério que indica se somos ou não seguidores do Mestre de Nazaré.


Se mantivermos os olhos e o coração abertos, perceberemos que o próprio Jesus se manifesta no irmão que sofre, que clama por vida. Como nos ensinou Mateus,quando realizamos algum gesto de solidariedade para com o outro, é ao próprio Jesus que o fazemos (cf. Mt 25,40). Acolher o próximo em nossa vida é acolher Jesus que se encontra à nossa porta, bate e espera que ouçamos a sua voz e o convidemos para entrar e cear junto conosco (cf. Ap 3, 20). Nesse encontro, se esconde a verdadeira felicidade, pois a vida plena acontece não quando preservamos nossas forças, mas quando as colocamos a serviço, para bem do outro.