62. Quem disse que não pode doer?

23.05.2015 | 2 minutos de leitura

Para Rezar

Sinto no seu tempo a dor da semente que, no seio da terra prenha,
eclode para criar e aprofundar suas raízes.
Mas quem disse que não pode doer?

Sinto no seu tempo a dor do ramo que cresce moroso,
porém determinado;
dolorosamente rompe, cresce, vai ganhando espaço
e conquista seu lugar.
Mas quem disse que não pode doer?

Sinto no seu tempo a dor da espera das primeiras flores,
que sorrateiramente vão desabrochando, exalando seus perfumes.
Mas quem disse que não pode doer?

Sinto no seu tempo a dor de quando o outono orna o chão
com suas folhas para dar lugar ao novo,
dar lugar a novas folhas e flores.
Mas quem disse que não pode doer?

Sinto no seu tempo a dor da existência,
que perpassa e experiencia todas as estações; 

que, qual semente lançada na terra,
sente a dor da transformação
e se permite ser cuidada pelo Agricultor.

No seu tempo, ele amorosamente semeia, 

rega, poda, corta e colhe. 

Porque tão somente nos quer no canteiro de sua vinha, 

onde o cultivo é permanente amor. 

Mas quem disse que não pode doer?

Que teu Espírito me sustente, Senhor, 

para manter as raízes profundas 

e cravadas em ti; para permanecer em tua vinha.

Que teu Espírito venha como a chuva 

que faz fecunda a terra.

Que teu Espírito venha como o sol, 

que com sua claridade traz vigor e dissipa a treva.

Que teu Espírito venha como o vento, 

que investe sem muito alarde contra as folhas 

e as faz se movimentarem da forma mais terna.

Dá-me, Senhor, tão somente permanecer.

Amém!