Evangelho DominicalVersículos Bíblicos
 
 
 
 
 

42. Fascinações do mistério

Ler do Início
25.08.2015 | 3 minutos de leitura
Yuri Lamounier Mombrini Lira
Crônicas
42. Fascinações do mistério

Agora, conheço apenas em parte,

mas
conhecerei completamente...
(1Cor 13,12)


 

“O entendimento não nos chega quando queremos.

O entendimento nos chega quando podemos”. 

(Fábio de Melo)


 

O mistério não é um enigma nem tampouco um problema. Não é algo que precisa ser decifrado, explicado ou resolvido. Mas, sim, algo que precisa ser vivenciado. É algo que é maior que nós, que preenche todo nosso ser e faz com que nossa existência fique mais fascinante. Não conseguimos com nossas palavras expressar conceitualmente o que é o mistério; só podemos experimentá-lo.


Adélia Prado, em seu “Miserere”, resumiu poeticamente em versos a atitude de admiração provocada, ao nos deixarmos encantar pelo mistério de Deus: "Ao minuto de gozo do que chamamos Deus, fazer silêncio ainda é ruído".


Diante da beleza de Deus, até mesmo o silêncio é barulho. Não há o que dizer! Basta, apenas, saborear. Aliás, muitos místicos da Igreja já nos ensinaram isso. Santo Inácio de Loyola, por exemplo, dizia: “Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o saborear e o sentir”.


Penso que a imagem que melhor representa a fascinação existente no mistério é o horizonte. O horizonte também nos encanta, pois só vemos uma parte dele; o que está além do horizonte e nossos olhos não alcançam nos faz sonhar.


Para nós que nascemos em Minas, a metáfora do horizonte é traduzida geograficamente em nossas montanhas. Um grande amigo me disse uma vez que “Minas com suas montanhas nos faz ter saudades... Minas esconde tudo ali: (minas dos mistérios) atrás da serra. Bem pertinho”.


Roberto Carlos, juntamente com seu amigo de fé e irmão camarada, Erasmo Carlos, numa de suas mais belas e conhecidas canções descreve com poesia algumas coisas que estão escondidas logo ali, além do horizonte:



Além do horizonte deve ter

Algum lugar bonito pra viver em paz

Onde eu possa encontrar a natureza

Alegria e felicidade com certeza.

Lá nesse lugar o amanhecer é lindo

Com flores festejando mais um dia que vem vindo

Onde a gente pode se deitar no campo

Se amar na relva escutando o canto dos pássaros

Aproveitar a tarde sem pensar na vida

Andar despreocupado sem saber a hora de voltar...



O Papa Francisco, numa de suas homilias, recordou que, para mergulharmos no mistério, precisamos ter “capacidade de estupefação, de contemplação; capacidade de escutar o silêncio e ouvir o sussurro de um fio de silêncio sonoro em que Deus nos fala”.


Os sábios judeus dizem que existem quatro níveis de leitura das Escrituras Sagradas e o um desses níveis é chamado de Sod, é o momento do mistério, do silêncio reverente, ou seja, é quando o texto se transforma em oração. Além disso, há algo curioso que podemos aqui ressaltar: os sábios de Israel também deixavam espaços em branco em algumas passagens cheias de mistério, como a travessia do Mar Vermelho, por exemplo. Na bíblia hebraica, quando olhamos o texto há alguns espaços em branco. O branco é o lugar da luz, do mistério, do que não entendo, mas aceito.


Inspirados nos sábios judeus e nos poetas populares, que nós possamos ter a sensibilidade de nos deixar fascinar pelo mistério e que estejamos atentos aos sussurros de Deus em nossa história.