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38. Intenções de Missa I

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15.11.2014 | 4 minutos de leitura
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38. Intenções de Missa I

Se tem uma coisa que intriga a gente são as tais intenções de missa. Apesar de enfadonha leitura, basta um pouquinho de humor pra gente se divertir ao ouvir aquela lista interminável de pedidos de orações pelos vivos e pelos mortos. E não é só isso! A lista está ficando diversificada: atualmente reza-se até pelo anjo da guarda das pessoas, anjo da guarda da família tal; pede-se pelas almas benditas, pelas almas aflitas e sofridas; pela conversão de alguém; para que alguém pare de beber; louvam-se os santos pelas graças recebidas; agradece-se ao anjo da guarda por uma proteção especial etc.


Pobre povo sofrido! Despeja no altar de Deus suas esperanças, suas ilusões, seus mitos, suas crendices e até suas superstições. Nada contra a confiança ilimitada do povo na bondade de Deus, manifestada em Cristo e celebrada na Eucaristia. Mas será que basta isso? Qualquer pessoa minimamente formada teologicamente se incomoda com esse costume de pôr intenções nas missas, especialmente do jeito que a coisa tem sido feita. Como o tema é polêmico, vamos discuti-lo em etapas. Hoje vamos falar da missa rezada pelas almas.


A missa é uma bela oração. Nela agradecemos ao Pai por Cristo morto e ressuscitado que oferece a nós sua salvação gratuitamente, selada na presença de seu Espírito. Nada mais belo e mais teológico!


Mas se a missa é ação de graças, de onde vem o costume de colocar as intenções, seja para os vivos ou para os mortos? Vem da compreensão da missa como sacrifício ou sufrágio. Reza-se a missa em sufrágio de uma alma, ou seja, para que seus pecados sejam perdoados e a alma obtenha a vida em Deus, no céu. E, de fato, a missa é sacrifício. Mas não sacrifício por uma alma ou por um defunto específico. A missa é memória do sacrifício de Cristo; ele se entregou por amor aos seus, fazendo de sua vida uma oferta ao Pai. “Fomos remidos com o precioso sangue de Cristo” (1Pd 9,19). Então, de fato, a Eucaristia tem um tom expiatório. A vida de Jesus (é isso que significa o sangue) entregue por amor é o que redime e salva toda a humanidade. Mas não é uma missa rezada por alguém que a tira do purgatório e a leva para o céu. Nada impede que, na celebração Eucaristia, a gente reze pelos nossos parentes e amigos que já se foram, pois, em Cristo, fazemos comunhão com eles e mantemos sua memória. Mas bem melhor que rezar pela alma de alguém, seria rezar em memória dela.


Se é assim, então, faz sentido rezar pelas almas benditas, aflitas, sofridas etc? Nada mais estranho à fé genuinamente cristã. A missa não é uma ação mágica para tirar almas do purgatório. Até porque essa ideia de céu, purgatório ou inferno como lugar já está bastante superada. O purgatório não é um lugar cheio de gente sofrendo e esperando a hora de ir para o céu. É a possibilidade de crescer e amadurecer, de se purificar (daí, purgatório) cada vez mais para gozar a presença maravilhosa de Deus. O crescimento continua depois da morte, pois Deus é amor e nos acolhe com nossas misérias, sempre nos proporcionando ocasião de ser mais.


Outra terminologia que devemos repensar é o termo alma. Rezamos não pelas almas, mas pelas pessoas falecidas, que são bem mais que almas apenas. São nossos irmãos, pessoas queridas, cuja morte não apagou de nossa memória. Fazemos comunhão com elas por esses laços de amor, especialmente no amor de Cristo que se entregou por nós. É a chamada comunhão dos santos. Porque estamos unidos em Cristo, em laços de amor fraterno, fazemos memória aos mortos para que não caiam no esquecimento; para que em Cristo experimentem cada vez mais o amor do Pai, assim como nós. Manter a memória de nossos antepassados é algo muito importante, ainda mais se essa memória é celebrada na fé. Mas rezar por almas desconhecidas, por puro devocionismo supersticioso, não é coerente com a fé cristã.


Se é assim, comecemos a melhorar nossa lista de intenção de missa. Ensinemos a nossa gente que não existem almas benditas, nem sofridas, nem aflitas... Existem pessoas que morreram e que amamos e, em nome da fé, fazemos memória delas. Nossas intenções deveriam ser não “pelas almas de Fulano e Cicrano”, mas “em memória de fulano ou Cicrano”. Que tal pensar nisso e ajudar nossa gente a crescer teologicamente? Fica a dica!







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