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35. Arguição na catequese

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01.09.2014 | 7 minutos de leitura
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35. Arguição na catequese

Era de se esperar que a catequese já tivesse superado o método escolar e que os catequistas já tivessem compreendido que catequese não é aula! Mas nem sempre o ideal é o real. Ainda temos notícias por aí de catequeses que são verdadeiras repetições do processo escolar: o catequista é entendido como professor; o catequizando é acolhido como aluno; o encontro de catequese funciona como aula; a catequese em geral é curso para os sacramentos e, ao final, ainda há diploma de formatura e tudo! O processo de mudança é lento; muita coisa já melhorou, mas ainda há muitos passos a serem dados.


Desta pedagogia escolar que invadiu a catequese, sobraram alguns resquícios que não querem nos abandonar. O ato catequético sofreu mudanças, mas alguns costumes estão tão impregnados em nós, que fica difícil imaginar a catequese sem eles. É o caso do uso do material escolar, livro da criança, dever de casa para catequizandos e seus pais etc. Mas pior de tudo é o triste hábito que algumas paróquias incorporaram de fazer uma arguição aos catequizandos por ocasião da primeira comunhão.


Normalmente, depois de ter privilegiado o caminho cognitivo da fé (aprender e reter os ensinamentos da religião) e não o caminho relacional-existencial (experimentar e desejar o encontro com Deus), não bastasse ter tomado o caminho avesso à prática de Jesus, alguns catequistas e párocos ainda insistem em aplicar uma prova aos catequizandos. O objetivo é verificar a aprendizagem das crianças por meio de um exame, oral ou escrito, e ver se elas estão aptas a receber o sacramento que pleiteiam à Igreja.


Há vários equívocos nesta prática. O primeiro deles diz respeito à compreensão da própria fé cristã, é pensar que a fé entra pela cabeça e não pelo coração. A fé é resposta de amor ao Deus amoroso e bom que vem ao nosso encontro. A fé não é uma elaboração intelectual, apesar de exigir alguma elaboração intelectual para melhor crer e amar ainda mais. Mas o caminho próprio da fé não é a mente capaz de raciocínios elaborados, mas o coração que se abre a Deus, acolhendo-o e amando-o. Nem toda criança tem a mesma capacidade cognitiva; nem todas vão aprender as coisas ensinadas na catequese (apesar de catequese não ser para ensinar coisas!)... A Eucaristia não é premio para os inteligentes, nem diploma para os cultos. É alimento para a vida cristã, para todo aquele que se dispõe a fazer o caminho do discipulado de Jesus.


Outro equívoco sério que sustenta esta prática diz respeito à metodologia catequética. Quem se digna a aplicar prova final nos catequizandos não entendeu que a pedagogia escolar não é a pedagogia própria da fé cristã. Ainda está compreendendo catequese como aula de religião e o catequista como professor. Além do mais, não entendeu que as perguntas e questões da catequese hoje extrapolam o problema religioso; são mais complexas e mais exigentes que as perguntas elencadas no catecismo ou no manual de catequese. Vale lembrar, a título de anedota, a história de Joãozinho e Zezinho na catequese.


Conta a anedota que em uma cidadezinha por aí, um catequista não percebeu que o tempo mudou e continuou dando a mesma catequese de sempre, que aprendeu nos manuais de catecismo de sua vovó. E, seguindo a tradição recebida, o catequista impunha aos catequizandos séria decoreba do catecismo, que foi amplamente difundido em todo o Brasil. Tal catecismo trazia as perguntas e as respostas que, prontamente, todos deviam saber na ponta da língua. Pergunta 1: “Quem é Deus?”. Resposta: Deus é um espírito perfeitíssimo, criador do céu e da terra”. Pergunta 2: “Quantos Deus há?”. Resposta: “Há um só Deus em três pessoas: Pai, filho e Espírito Santo”. Pergunta 3: “Onde está Deus?”. Resposta: “Deus está no céu na terra e em toda parte.”. Assim seguia o catequista ensinado os catequizandos, que desinteressadamente se faziam presentes nos encontros, sempre encontrando algo mais prazeroso e divertido para fazer que decorar perguntas e resposta enfadonhas, com as quais não tinham nenhuma identificação. Tal foi o desinteresse que logo a bagunça se instaurou. E ninguém respeitava mais nada. Joãozinho e Zezinho lideravam a bagunça, escondendo o material escolar dos colegas, roubando-lhes suas preciosidades, consumindo seus pertences... unicamente pelo prazer de bagunçar. O catequista se viu afrontado e pensou; “Vão ver comigo no dia da arguição final!”. Às véspera da primeira comunhão o catequista avisou o padre, o inquisidor, que as crianças bagunceiras não estavam aptas à primeira comunhão e que ele exigisse o catecismo. Todos se preparam para o grande terror. Chegado o momento, fez-se enorme fila é lá estavam Zezinho e Joãozinho morrendo de medo, afinal pouco ou quase nada tinham assimilado daquele blá-blá-blá imprestável, pensavam eles. O padre se pôs a postos. Entrou a primeira criança. E logo sério e com cara de bravo, o ministro da igreja foi perguntando: “Quem é Deus?”. A criança tremeu, mas respondeu prontamente o que o presbítero desejava ouvir: “Deus é um espírito perfeitíssimo, criador do céu e da terra”. Pronto: aprovado! Saiu feliz e saltetando contando aos colegas que a tal prova era “mamão com açúcar”. Entrou o segunda criança e para ela estava reservada a segunda pergunta do célebre catecismo: “Quantos Deus há?”. A criança mais que ligeira supitou uma resposta pronta: “há um só Deus blá-blá-bla´... “. E saiu feliz com sua nota dez, contando aos colegas que prova mais fácil não poderia haver. Era chegada a hora de Joãozinho, que tranquilo com seu parceiro Zezinho, esperava a hora do embate. Sabendo da fama do menino, o padre não deu moleza. Foi logo dizendo: “Joãozinho, sei q você não é flor que se cheira. Então nem quero papo. Vou direto ao que quero saber. Só uma resposta você precisa me dar e a pergunta é “Onde está Deus?”. Joãozinho pensou, pensou e não sabia se entendeu direito a pergunta. O padre repetiu com voz mais forte: “Onde está Deus?, diga-me, Joãozinho”. Joãozinho começa a desconfiar que a coisa não estava boa para seu lado. Na mente um apagão total: Onde será que deus está? “Joãozinho nem imagina onde ele poderia ter se metido! Então o padre, irritado e querendo pressionar, apontou o dedo para o nariz do menino e repetiu a pergunta: Joãozinho, onde está Deus?”. Desesperado, Joãozinho partiu em fuga e foi logo chamando Zezinho: “Sai desta fila, seu bobo; a coisa tá feia pro nosso lado”. Sem entender do que se tratava, perguntou o companheiro de peraltices: “Como assim? O que houve?”. Respondeu Joãozinho: “O que houve? Você nem imagina: Deus sumiu e estão achando que a culpa é nossa!”. Joãozinho e Zezinho nunca entenderam o sumiço de Deus; até o padre queria saber seu paradeiro! Tal anedota é claro exemplo de que a arguição catequética e o método escolar não dizem nada à nossa gente hoje. Fica aí a dica!







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