Acaso não vês, viandante?
Não vês este andarilho estropiado,
ferido, ali, jogado à margem?
Para, olha minuciosamente,
vê que seus sangramentos são inestancáveis.
Chora com ele o choro incessante,
que não pode encontrar consolo
senão em outras lágrimas, de mesmo teor.
Derrama óleo, ata suas feridas,
põe-no na hospedaria, viandante,
até que ele acorde de sua única tranquilidade: seu sono.
Põe-te junto dele, andarilho,
pois, ele e tu, são o mesmo caído, o mesmo ferido…
Tu partilhas com ele a mesma dor, o mesmo lamento,
à diferença de que a tua penúria ainda te permite
assistir à penúria alheia e ampará-la.
E, depois de tê-lo posto na hospedaria,
vá carregando-o para sempre, dentro de ti,
pois assim já o fazias, sem saber,
antes de tê-lo encontrado.
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