16. Ecologia e fé cristã
Há um momento para tudo
E um tempo para todo propósito debaixo do céu.
Tempo de nascer,
Tempo de morrer;
Tempo de plantar,
E tempo de arrancar a planta.
(Ecl 3,1-2)
Harmonia tão preciosa e útil rege a Terra, que a reverência revela-se como atitude de sabedoria e inteligência. Os corações sábios e doutos como os do autor sagrado sabem fazê-lo. Ao contrário, tratar a criação com indiferença e descuido revela total cegueira e insensatez e, ainda mais, tratá-la e oprimi-la em busca de lucro e poder mostra loucura, completa insanidade.
Há quem o faça inclusive apoiando-se em argumentos aparentemente cristãos. O pensador Lynn White mostra judaísmo e cristianismo como os grandes responsáveis pela crise ecológica que vemos se descortinar no cenário da história. Para fundamentar sua argumentação, o autor baseia-se em três características marcantes da fé crista: o antropocentrismo, a visão linear da história e a desmitologização da natureza.
Quanto à primeira, o antropocentrismo, Lynn White o vê como o grande pivô do desrespeito à ordem cósmica. Ao colocar o ser humano como centro, a fé cristã subjugaria tudo ao seu domínio, rompendo com a ordem natural do cosmos, na qual o ser humano é um ser-com-os-outros e não um-ser-sobre-eles. É a visão cosmocêntrica em oposição à visão antropocêntrica.
É bom lembrar, porém, que a fé cristã não é antropocêntrica. Ela é radicalmente teocêntrica e todo antropocentrismo cristão está referenciado a Deus, à encarnação do Verbo divino, não podendo ser justificativa para uma visão do ser humano como dominador e explorador da natureza.
Quanto à segunda, a visão linear do tempo, o autor argumenta que tal postura rompe com os ciclos naturais, com o equilíbrio da vida da natureza que é cíclica e não linear. Essa visão favoreceria o progresso ilimitado, sempre mais desejado e buscado pelo ser humano, que se vê como senhor de tudo.
Mero engano! A fé cristã não é linear. É messiânica. Ela tem um telos, um fim, que é Deus e é para ele que o ser humano caminha e não para um progresso ilimitado, fruto da capacidade racional.
Quanto à terceira, a desmitologização da natureza, o argumento usado é o de que esta destrói os espíritos da natureza, abrindo oportunidade para que esta seja manipulada indiscriminadamente.
Mais uma afirmação precipitada! Não é preciso pensar que os espíritos estão na natureza para que esta seja respeitada. A presença de duendes e fadas nas florestas não evita o capitalismo selvagem que dessacralizou a natureza.
Não é preciso nem falar que as características da fé cristã, levantadas pelo autor, não foram bem compreendidas por ele. Culpar o cristianismo (ou o judaísmo) pelo problema ecológico é desviar o foco do centro da questão: o capitalismo que transformou a natureza em mercadoria.
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