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116. Alegria

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16.12.2016 | 4 minutos de leitura
Mércia
Crônicas
116. Alegria

“Se conhecesses o dom de Deus” (Jo 4,10)



“Como uma fúria de amar

Alegria

Como um assalto de felicidade”

(Circo de Soleil)



A alegria é uma expressão visível de um sentimento invisível que chega e transforma a manhã nublada da nossa vida em dia ensolarado e de profundo esplendor. Tal é sua força que carrega de sentido tudo ao seu redor, trazendo poeticidade onde antes só havia vazio.


Certamente, todo ser humano – nem que seja por um instante – já experimentou essa energia que, “como um assalto”, lhe invadiu e ressignificou sua existência. Recordo-me de minha infância. Quando criança, morava numa área rural no interior da Bahia. Apesar de não dispor de muitos bens materiais, pude experimentar lá, tantas e tantas vezes,o dom da alegria. Uma das minhas alegrias era a de saber que,quando minha mãe ou meu pai estavam voltando da cidade, trariam um “docinho”, uma “surpresinha”,alguma coisinha simples para mim e minha irmã. Aquele era um instante adocicado, passageiro, mas ao mesmo tempo de muita alegria.


Como não relembrar os momentos de alegria extasiante: brincar de “ser livre”, ou melhor, poder “ser livre”, sentir-se“como um louco a gritar”, cavalgar pelos campos e pelas estradas, sentir a alegria amorosa do encontro ou mesmo de um reencontro com a pessoa amada, como “um feliz e mágico sentimento”? Alegria!


Como a “fúria avassaladora de amar” é a alegria, continua a música, “como uma faísca de vida brilhando”. Sim, a vida com alegria é uma luz que ilumina a “noite escura da alma”. Como não a sentir? Como não experimentá-la?  Como não nos contagiar com a alegria de quem está ao nosso lado? Ou como não nos alegrar com alguém feliz mesmo que distante nos comunique sua alegria por meio de um recado, um poema ou de uma canção?A felicidade é contagiante; ela nos atinge como um “raio de vida” que nos desperta para o bem-viver e aquece nosso coração tantas vezes frio e endurecido.


A alegria não é um preceito está muito longe de sê-lo. Ela está ligada à espontaneidade, ao “dom de Deus”... Para aqueles que creem é fácil perceber que há uma “luz sem ocaso” ou uma força maior, algo que rege o universo, a vida. Para nós cristãos, essa luz é Deus e dele vem nossa alegria.


Quando a Samaritana conhece Jesus à beira do poço, encontra-se com água viva que sacia. Sua humanidade, ferida, sem brilho, sem força, sem vida ganhará novo sentido. Jesus é a fonte de alegria plena: aquela que, mesmo diante das tristezas e dos desapontamentos, das dores e dos sofrimentos, permanece viva em cada ser humano. Deus é a inesgotável fonte da alegria cristã. Para chegar a ele,basta olhar o seu filho Jesus que veio e vem ao nosso encontro, que se coloca diante do poço da nossa existência, muitas vezes vazio, nos oferecendo a água viva do seu poço: o “dom de Deus”, dom de uma vida feliz que saciará a nossa sede de sentido.


Em Jesus, saciamos a sede de Deus: sede de sentido, sede de amor. Diz o Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira dos que se encontram com Jesus. Quem se deixa salvar por ele é liberto do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento (EG n. 3). Foi essa alegria que a Samaritana experimentou no encontro com Jesus, como narra o Evangelho de João. A Palavra de Cristo fez o coração daquela mulher se aquecer e o brilho da alegria retornou aos seus olhos.


O profeta Isaías escreveu: “Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo” (Is9,2). E ainda continua: “Cantai, ó céus! Exulta de alegria, ó Terra! Rompei em exclamações, ó montes! Na verdade, o Senhor consola o seu povo e se compadece dos desamparados”(Is49, 13). Não há maior dom que a possibilidade de “saciar a nossa sede de alegria plena”. Esta alegria não é estado de êxtase passageiro, nem estado permanente de satisfação;é a experiência do “dom de Deus” ofertado a nós em seu filho Jesus.